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Canola

Canola pode se tornar alternativa de segunda safra no Cerrado


Globo Rural - 23 ago 2023 - 09:09

O Cerrado brasileiro pode ganhar uma nova alternativa de plantio - e de renda - para a segunda safra. Um trabalho realizado pela Embrapa vem tentando desenvolver variedades "tropicais" da canola, uma oleaginosa de clima temperado cuja produção, no Brasil, está concentrada no Sul.

A canola é uma planta que pertence à família das crucíferas (tal como o repolho e a couve). Além de cobertura vegetal e rotação de culturas, também é utilizada para fabricação de óleo, que serve tanto para consumo humano quanto como matéria-prima para biodiesel.

Desenvolvida no Canadá para áreas de clima temperado, a canola encontrou condições de desenvolvimento no Sul do Brasil, principalmente a partir de 2003, quando começaram a ser usadas as primeiras variedades híbridas resistentes à doença fúngica conhecida como canela-preta.

Apenas no Rio Grande do Sul, na safra deste ano, a Conab estima um plantio de 81,5 mil hectares com canola, 49,8% a mais que no ano passado. Já a produção gaúcha deve totalizar 101,5 mil toneladas, aumento de 6,8% na mesma comparação. É a primeira vez, na série histórica, que a colheita deve superar 100 mil toneladas.

Mas a expectativa é de expansão para regiões de clima mais quente, como o Brasil Central, onde também pode ser adotada como cultura de segunda safra, sem a necessidade de abertura de novas áreas. Assim como outros grãos de inverno, como o trigo, a oleaginosa também segue o caminho da “tropicalização”.

É a Embrapa Agroenergia, no Distrito Federal, que concentra as pesquisas. O trabalho começou em 2016, conta o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da unidade, Bruno Laviola. Durante um estudo para identificar culturas para a produção de biocombustíveis no Cerrado, a oleaginosa indicou ter potencial.

“Há um aumento de demanda por óleo no mundo e, lá fora, não tem muito espaço para plantar. E o Brasil tem condições de suprir essa demanda. Temos a opção de trabalhar a safrinha e ter mais óleo sem avançar sobre novas áreas”, afirma Laviola.

Até 2022, estavam registradas 27 cultivares e duas linhagens parentais, de acordo com a Embrapa. Para adaptá-las às regiões mais quentes, os pesquisadores analisam fatores como a densidade de plantio, adubação, controle de pragas, doenças e plantas invasoras, além de métodos de colheita.

Bruno Laviola pontua, no entanto, que ajustar o sistema de cultivo das variedades já existentes é uma parte do trabalho. Outra, em um horizonte de médio prazo é desenvolver genética adaptadas para as condições tropicais.

“É um programa inédito no mundo”, afirma, ressaltando que a pesquisa está baseada em melhoramento convencional, com cruzamento entre linhagens, e sem o uso de transgenia ou edição genômica. “A edição genômica pode ser usada, mas para características específicas, reguladas por poucos genes. E, no momento, o foco está na adaptação, quando há muitos genes envolvidos.”

A meta inicial é obter materiais que produzam de 2 a 3 toneladas por hectare e concentração de 40% de óleo, além de resistência à seca e a doenças. Nas variedades mais adaptadas ao clima temperado, as produtividades variam de 2 a 2,5 toneladas pode hectare, adaptando o sistema de plantio.

“Hoje, a gente já tem um pacote básico que dá suporte ao cultivo adaptado da canola com as variedades já existentes. Quando a gente fala de tropicalização genética, o lançamento de uma cultivar que já vai ter adaptação, o que a gente espera é algo como três a cinco anos para ter no mercado”, afirma Laviola.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Canola, Vantuir Scarantti, avalia de forma positiva esse movimento. A tendência, segundo ele, é de crescimento do mercado, nas suas diversas demandas pela oleaginosa.

“Vejo um crescimento sustentável e novos produtores entrando. A tropicalização ajuda. Vão ter precificações diferentes e vai atender o mercado de alimentos, biocombustíveis e de exportação”, afirma.

Óleo saudável

Bastante utilizado na alimentação humana, o óleo de canola é considerado um dos mais saudáveis, com elevada quantidade de Omega-3 e menor teor de gordura saturada, explica uma publicação da Embrapa Agroenergia sobre a cultura, de 2022.

O óleo de canola é o terceiro mais utilizado no mundo, atrás apenas dos derivados de soja e de palma. Também pode ser usado na fabricação de biocombustíveis. E o farelo resultante deste processamento, com alto nível de proteína, pode compor as dietas de bovinos, suínos, aves e ovinos.

Na publicação, os pesquisadores da Embrapa ressaltam que a canola pode ser uma alternativa para os produtores, do ponto de vista econômico. O manejo da produção é feito, praticamente, com os mesmos equipamentos usados nas principais culturas de grãos, com algumas poucas adaptações.