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EUA

O Brasil e a seca nos EUA


O Estado de S. Paulo - 13 ago 2012 - 14:42 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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A seca nos Estados Unidos prenuncia mais uma fase de preços altos para os alimentos, com perspectivas de bons ganhos para os exportadores e de graves dificuldades para as economias pobres e dependentes da importação de comida. Um dia depois de anunciada no Brasil a maior safra de grãos e oleaginosas de todos os tempos, o governo americano confirmou grandes perdas nas lavouras de soja e milho. A longa estiagem, excepcionalmente severa, afeta mais de 60% do país e a maior parte das regiões agrícolas. O mercado reagiu imediatamente às novas estimativas, divulgadas na sexta-feira pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, com indicações de redução dos estoques na temporada 2012-2013. A piora das condições de oferta de soja e milho poderá afetar também os mercados de outros produtos, porque será preciso recorrer a substitutos principalmente para a produção de rações e de etanol.

O Brasil será um dos países em condições de aproveitar as oportunidades abertas pela quebra da safra americana. A produção de soja, agora calculada em 66,4 milhões de toneladas na atual safra, deve ser 11,8% menor que a anterior, mas o governo projeta uma exportação de 31,2 milhões, volume apenas 5,4% menor que o do ano passado. Mas o grande sucesso da safra 2011-2012, no País, é a produção de milho, recém-estimada em 72,8 milhões de toneladas, com expansão de 26,8% em um ano. O volume exportado poderá aumentar de 9,3 milhões para 14 milhões de toneladas, segundo projeta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas a excelente colheita favorecerá principalmente a produção de aves e suínos, com benefícios tanto para o abastecimento interno como para a exportação de carnes.

O mercado interno deve continuar bem abastecido, embora seja razoável prever alguma pressão sobre o custo de vida, principalmente por causa das cotações internacionais. O novo levantamento da Conab confirmou menor produção tanto de arroz como de feijão, neste ano, mas as quebras se refletem principalmente na redução dos estoques finais, sem problemas de abastecimento. Será importante, no entanto, garantir boas colheitas para a temporada 2012-2013, porque os volumes remanescentes serão pequenos.

Não houve crises de abastecimento no Brasil nas últimas duas décadas. Isso se explica tanto pela modernização tecnológica da agropecuária como pela liberação de preços e do comércio exterior, depois de um longuíssimo e desastroso período de intervencionismo estatal. Não há razão para esperar dificuldades no próximo ano, mas os preços da alimentação provavelmente forçarão o Banco Central a ser mais conservador na condução da política de juros.

Poderá haver dificuldades para as populações pobres dos países importadores de comida. O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, pediu aos Estados Unidos a suspensão da obrigatoriedade de mistura de etanol na gasolina. O milho é a fonte principal do etanol americano.

O governo americano reduziu de 4,6 milhões de toneladas para 3,9 milhões a previsão do estoque de soja no fim da temporada 2012-2013. A produção calculada caiu de 83 milhões para 73,3 milhões de toneladas. Em um mês a estimativa da safra de milho caiu 16,9%, de 329,4 milhões de toneladas para 273,8 milhões. Para o fim da safra 2012-2013 foram projetados estoques de 16,5 milhões de toneladas, os menores desde a temporada 1995-96.

Com exportações de US$ 44,8 bilhões e saldo comercial de US$ 36,8 bilhões no primeiro semestre deste ano, o agronegócio continua sendo um importantíssimo fator de segurança para o setor externo da economia brasileira. Os bons resultados foram obtidos em 2012 mesmo com a queda de preços de vários produtos básicos. Poucos preços, incluídos os da soja, ficaram imunes à crise global. A China se manteve como a principal compradora de produtos agropecuários, apesar de sua desaceleração econômica. Espera-se uma reativação da economia chinesa, embora o ritmo de crescimento deva manter-se abaixo de 9%. Essa reativação ajudará a sustentar os preços dos alimentos.

Editorial O Estado de S. Paulo