A Methanex é a maior fabricante de metanol do planeta com produção anual de 6,1 milhões de toneladas – 12% da demanda global. São 11 plantas e capacidade para até 9,3 milhões de toneladas anuais. E mais está por vir. O grupo está para completar a construção de sua 3ª unidade nos Estados Unidos e acrescentar mais 1,8 milhão de toneladas a seu parque fabril. Para blindar seus investimentos, o grupo tem se movido para que seu produto possa atender às demandas de uma economia pós-carbono. Há poucos meses agregou à sua estrutura de governança uma nova diretoria dedicada ao desenvolvimento de soluções de baixo carbono.
Para saber mais sobre a transição da companhia, BiodieselBR.com entrevistou o diretor de Marketing e Logística para América Latina da Methanex, Arturo Jaramillo.
BiodieselBR.com – A Methanex tem um novo CEO. Como a substituição de John Florence por Rich Sumner deve impactar o posicionamento da empresa?
Arturo Jaramillo – Seguimos focados em nossa estratégia e na manutenção de nossa liderança no setor como um meio de garantir a sustentabilidade de nossos negócios no longo prazo. Rich Sumner tem um profundo conhecimento tanto dos negócios da Methanex e quanto da indústria de metanol como um todo. Isso permitirá que ele construa sobre a nossa história e continue a avançando nossa posição no setor de metanol.
BiodieselBR.com – Mas por que agora?
Arturo Jaramillo – A decisão foi de Floren. Depois de 10 anos como CEO da Methanex, ele informou ao Conselho de Administração da Methanex sua decisão de se aposentar em 2022 dando início ao processo para escolha de seu substituto. Rich é um líder comprovado que traz uma visão estratégica para liderar a Methanex no futuro. Nesse meio tempo, a Methanex continua a ser a líder global da indústria de metanol com uma forte pegada de produção e uma cadeia de suprimentos global.
BiodieselBR.com – E como a mudança na liderança executiva global se reflete na atuação da Methanex na América Latina?
Arturo Jaramillo – Nós revisamos regularmente nossas equipes e estrutura como parte de nossa gestão interna de talentos e planejamento da força de trabalho. Como resultado da promoção de Rich a CEO, a Karine Delbarre foi nomeada vice-presidente sênior de Marketing e Logística. Isso criou oportunidades para mudanças na equipe da América Latina, o que resultou em minha chegada ao posto de diretor de Marketing e Logística LATAM. Estou na Methanex há quase 10 anos e tive o privilégio de conhecer bem a indústria brasileira de biodiesel desde seus estágios iniciais. Estou ansioso para aprofundar a relação entre a Methanex e a indústria de biodiesel do Brasil.
BiodieselBR.com – Uma mudança importante foi a criação de uma Diretoria de Soluções de Baixo Carbono. O que se espera dessa nova área?
Arturo Jaramillo – Esse é um assunto que estamos abordando há algum tempo, mas achamos que tinha chegado a hora de criar uma divisão específica. O foco da área de Soluções de Baixo Carbono é a comercialização de metanol de baixo carbono e no alinhamento entre oferta e demanda. Isso permitirá que a Methanex mapeie e desenvolva oportunidades em uma economia de baixo carbono ajustando nossas capacidades às necessidades do mercado.
BiodieselBR.com – Mas como a nova diretoria vai atuar para melhorar o perfil de emissões do metanol fabricado pela Methanex?
Arturo Jaramillo – A Diretoria de Soluções de Baixo Carbono tem pessoas focadas na oferta de produtos de baixo carbono e outras na demanda do mercado. A equipe de fornecimento vem estudando a viabilidade da captura e armazenamento de carbono e da produção de e-metanol. São iniciativas de longo prazo que buscaremos em total alinhamento com nossa posição de liderança de mercado. Temos metas de sustentabilidade alinhadas à nossa Visão de Liderança Global em Metanol. Estamos focados em reduzir as emissões da produção do metanol convencional, desenvolver soluções para atender à crescente demanda por metanol de baixo carbono e desenvolver oportunidades de mercado. Embora a gente reconheça que a transição para uma economia de baixo carbono vai evoluir e o caminho e o ritmo dessa mudança não será linear, mas estamos nos posicionando para poder ajustar nossa resposta conforme necessário.
BiodieselBR.com – E qual é a meta?
Arturo Jaramillo – Estamos tomando medidas concretas para atingir nossa meta de redução de 10% da intensidade de GEE até 2030 considerando como base o ano de 2019, explorando vários caminhos para isso. Continuamos a nos concentrar na eficiência e na confiabilidade das plantas e no uso de catalisadores e identificando maneiras de atualizar nossas instalações existentes para melhorar sua eficiência energética e reduzir as emissões de CO₂. Completamos o estudo de factibilidade técnica para captura, uso e armazenagem de carbono em nosso site de Geismar e, agora, estamos focados na factibilidade econômica. Nosso estudo sobre e-metanol ainda está em um estágio inicial, estamos considerando a viabilidade tecnológica de integrar um eletrolisador em uma planta existente. Estas são iniciativas de longo prazo, nas quais estamos progredindo e perseguiremos em alinhamento com a nossa posição de liderança de mercado.
BiodieselBR.com – Qual é o porte dos investimentos?
Arturo Jaramillo – Temos um portfólio de mais de 20 projetos de eficiência embutidos em nossos planos de capital e no orçamento operacional previsto para o período entre 2022 e 2024. Estamos investindo US$ 15 milhões para concluir esses projetos que, segundo estimamos, resultarão em 100 mil toneladas de CO2 evitadas por ano.
BiodieselBR.com – Em fevereiro, a Methanex divulgou que está trabalhando para formar uma rede de fornecedores de gás natural renovável. Qual a perspectiva do metanol renovável entrar no portfólio permanente da Methanex?
Arturo Jaramillo – Estamos focados em ser capazes de fornecer metanol de baixo carbono aos nossos clientes à medida em que essa demanda se desenvolve. O gás natural renovável custe significativamente mais do que o gás natural convencional e não esteja prontamente disponível o que torna o biometanol mais caro de produzir. Por outro lado, esse processo não requer mudança ou novos investimentos em nossas instalações de fabricação o que nos dá a oportunidade de alinhar nossa oferta com a demanda mais rapidamente e com menos risco. Disto isso, tenho que dizer que os volumes de gás renovável sob contrato ainda são pequenos, mas que estamos trabalhando para aumentar a oferta conforme a demanda de nossos clientes for se desenvolvendo.
BiodieselBR.com – Além do metanol renovável que outras estratégias de descarbonização a Methanex vem perseguindo?
Arturo Jaramillo – Estamos explorando caminhos para descarbonizar gradualmente nossas usinas o que inclui a busca por combustíveis e eletricidade renováveis para atender nossas instalações. Além do estudo que já citei sobre a viabilidade da captura de carbono também estamos conduzindo um estudo de viabilidade técnica e econômica do uso de hidrogênio verde em usinas existentes para produzir metanol com menor intensidade de carbono.
BiodieselBR.com – Nos últimos anos, a Methanex fez grandes investimentos no complexo Geismar, nos Estados Unidos, incluindo uma 3ª unidade produtiva com capacidade para fabricar 1,8 milhão de toneladas. Como está o andamento dessa ampliação?
Arturo Jaramillo – Estamos extremamente orgulhosos da forma como este projeto está progredindo. Nossa equipe está fazendo um excelente trabalho para entregar o projeto dentro do prazo e do orçamento. No geral, o projeto está acima de 90% concluído somando mais de 7 milhões de horas trabalhadas. A construção da G3 de nossa unidade de Geismar é um projeto com significativa complexidade que demanda um número bem grande de trabalhadores especializados vindos do mundo todo. Nós mais do que dobramos a quantidade de trabalhadores no local e isso enquanto temos duas plantas operacionais produzindo dentro de um corredor industrial já bastante movimentado. Vemos o projeto em Geismar como um reflexo do nosso compromisso com a segurança e a excelência.
BiodieselBR.com – Geismar 3 faz parte da estratégia de redução das emissões da Methanex?
Arturo Jaramillo – Sim. Geismar 3 terá o menor perfil de intensidade de emissões de CO2 de todas as nossas fábricas e espera-se que seja a principal contribuição para atingir nossa meta de intensidade de emissões. Estimamos que terá menos de 0,4 tonelada de CO2 por tonelada de metanol fabricado. Isso inclui emissões associadas à produção de oxigênio que, tecnicamente, é uma emissão de Escopo 3 uma vez que o oxigênio vem de um fornecedor externo.
BiodieselBR.com – A chegada do Geismar 3 ao mercado deve afetar o equilíbrio entre oferta e demanda?
Arturo Jaramillo – Crescemos nossa posição de vendas antes da G3 entrar em linha e estamos procurando aumentar nossas vendas de 500 para 800 mil toneladas em 2024. Parte desse volume extra será absorvido pelo crescimento orgânico do mercado. Além disso, existem duas usinas de que fabricam olefinas a partir do metanol que estão ociosas. Só elas representam uma demanda de 5 milhões de toneladas por ano e podem equilibrar o balanço de mercado. Também estamos tendo o cuidado de iniciar a produção da nova fábrica no inverno [do hemisfério norte]. Historicamente a produção de metanol fica cerca de 4 milhões de toneladas menor do que no verão. Finalmente, construímos algumas grandes posições de compra de metanol nos últimos dois anos o que nos dará flexibilidade para equilibrar a relação entre oferta e demanda. A G3 é uma planta vantajosa em custos, portanto, se a demanda ainda estiver atrasada, as taxas de operação das usinas marginais podem ser empurradas para baixo.
BiodieselBR.com – A indústria do metanol tem feito um grande esforço para promover o metanol como combustível marítimo. Por quê?
Arturo Jaramillo – O metanol é um líquido biodegradável e estável à temperatura ambiente que está disponível globalmente em 125 portos, portanto facilita a logística e conversão de infraestrutura. A Waterfront Shipping [nossa subsidiária de navegação] passou uma década sendo pioneira no uso metanol. Isso demonstrou que o metanol é um combustível marítimo viável e seguro. O interesse da indústria no uso do metanol nesse nicho vem crescendo rapidamente, puxado por compromissos de descarbonização assumidos por algumas das maiores operadoras marítimas e empresas de navegação do mundo para navios “dual-fuel” a metanol.
BiodieselBR.com – Quanto o metanol pode ajudar a indústria de navegação a melhor seu perfil de emissões?
Arturo Jaramillo – O uso como combustível marítimo pode ajudar a indústria naval a atender os novos regulamentos de emissões atmosféricas. O metanol pode reduzir as emissões de óxidos de enxofre e de material particulado em mais de 95%; óxidos de nitrogênio em até 80% e gás carbônico em até 15%. No futuro, com o biometanol e o e-metanol, podemos chegar a ter um combustível neutro em carbono. Isso torna o metanol um caminho "à prova de futuro" para que a indústria naval alcance suas metas ambientais. A indústria naval é suficientemente grande para que esperemos que haja espaço para muitos combustíveis marítimos alternativos.
BiodieselBR.com – Qual seria o tamanho potencial do mercado marítimo como fonte de demanda por metanol?
Arturo Jaramillo – Estimamos que nos próximos três ou quatro anos haverá mais de 200 navios que podem ser abastecidos com metanol. Isso incluindo nossos dezenove navios. São navios flexfuel, supondo que eles operem com metanol 100% do tempo, a demanda anual potencial será de aproximadamente 7 milhões de toneladas por ano. Só no segundo trimestre [deste ano], vimos um adicional de 60 navios encomendados, que representam cerca de dois milhões e meia de toneladas. São navios de passageiros, petroleiros, graneleiros e de transporte de contêineres. O impulso continua forte e esperamos mais anúncios durante o segundo semestre do ano.
BiodieselBR.com – Existem outros nichos no mercado de energia nos quais a Methanex também está de olho?
Arturo Jaramillo – A Methanex tem várias aplicações de interesse e continuamos a nos concentrar em derivados, como MTBE ou DME. O biodiesel também é um segmento muito importante na América Latina e vemos potencial de crescimento caso os mandatos continuem a crescer. Outros desenvolvimentos importantes são aplicações relacionadas à energia, como veículos movidos a metanol, caldeiras e fornos.
Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com