PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Conferência BiodieselBR 2021

[CBBR 2021] A questão da qualidade do biodiesel


BiodieselBR.com - 24 nov 2021 - 11:10

Em meio ao vendaval que atingiu em cheio o setor do biodiesel nos últimos meses, o debate em torno da qualidade do produto acabou ganhando contornos de cabo de guerra. De um lado, um grupo composto por entidades empresariais de segmentos diversos iniciou uma movimentação que parece querer colocar na conta do biodiesel a culpa por todos os problemas do mercado de diesel e para melar novos aumentos da mistura obrigatória. De outro, fabricantes – já bastante estressados com as reduções na mistura e com a mudança no modelo de comercialização – reagindo um tom acima ao que percebem como mais um ataque.

Perdidas no meio desse tiroteio, questões fundamentais ficam à espera de uma resposta estruturada. Tentar reencontrar o caminho para um debate saudável sobre eventuais problemas de qualidade do biodiesel e de suas misturas com o diesel de petróleo e do que fazer para resolvê-los foi a meta do Painel 4 da Conferência BiodieselBR 2021. O encontro colocou frente a frente representantes da Petrobahia, da Ubrabio e da ANP.

Dificuldades

E painel foi aberto pela apresentação da diretora de operações e suprimento da Petrobahia, Iara Schimmelpfeng. Fundada em 1975, a distribuidora atualmente reponde por aproximadamente 4,3% da demanda de combustíveis nos estados do Nordeste e um faturamento que deverá chegar a R$ 3,9 bilhões este ano. De acordo com a executiva, a empresa vem desenvolvendo um trabalho bastante estruturado para mapear problemas ligados à qualidade nos produtos que vende. “Sempre que surge a questão da qualidade a gente procura entender a dor do cliente. (...) É algo que nos incomoda muito porque reputação é muito importante para a gente. Queremos participar do processo para melhorar”, relata.

{viewonly=registered,special}Em meio ao vendaval que atingiu em cheio o setor do biodiesel nos últimos meses, o debate em torno da qualidade do produto acabou ganhando contornos de cabo de guerra. De um lado, um grupo composto por entidades empresariais de segmentos diversos iniciou uma movimentação que parece querer colocar na conta do biodiesel a culpa por todos os problemas do mercado de diesel e para melar novos aumentos da mistura obrigatória. De outro, fabricantes – já bastante estressados com as reduções na mistura e com a mudança no modelo de comercialização – reagindo um tom acima ao que percebem como mais um ataque.

Perdidas no meio desse tiroteio, questões fundamentais ficam à espera de uma resposta estruturada. Tentar reencontrar o caminho para um debate saudável sobre eventuais problemas de qualidade do biodiesel e de suas misturas com o diesel de petróleo e do que fazer para resolvê-los foi a meta do Painel 4 da Conferência BiodieselBR 2021. O encontro colocou frente a frente representantes da Petrobahia, da Ubrabio e da ANP.

Dificuldades

E painel foi aberto pela apresentação da diretora de operações e suprimento da Petrobahia, Iara Schimmelpfeng. Fundada em 1975, a distribuidora atualmente reponde por aproximadamente 4,3% da demanda de combustíveis nos estados do Nordeste e um faturamento que deverá chegar a R$ 3,9 bilhões este ano. De acordo com a executiva, a empresa vem desenvolvendo um trabalho bastante estruturado para mapear problemas ligados à qualidade nos produtos que vende. “Sempre que surge a questão da qualidade a gente procura entender a dor do cliente. (...) É algo que nos incomoda muito porque reputação é muito importante para a gente. Queremos participar do processo para melhorar”, relata.

Segundo Iara, os problemas não são somente ataques ao biodiesel. E também vêm se mostrando bastante difíceis de destrinchar. Num dos casos que foram analisados pelos técnicos da Petrobahia com um grupo de revendedores no Vale do São Francisco mostraram que os problemas aconteceram embora “todas as amostras de biodiesel estavam rigorosamente dentro da especificação”. “As análises primárias não derem resposta, por isso fizemos outras análises. Todos os testes mostraram que os elos da cadeia estavam conseguindo manter a especificação [do produto]”, diz. “Foi uma situação bem decepcionante porque o problema é de qualidade, mas estava tudo especificado”, prosseguiu.

Iara reclama ainda da falta de ação dos fabricantes de biodiesel. “Eu chamei algumas usinas para participar do processo, para trabalharmos junto e coletar materiais, mas eles nos deixaram sozinhos. (...) É fundamental estar junto da cadeia”, reclama.

Fato conhecido

As reclamações relacionadas ao biodiesel não são um fato novo para a ANP, segundo a coordenadora de qualidade de combustíveis da reguladora, Ednéia Caliman, houve sinais anteriores e a agência tem buscado agir para encontrar uma solução. Uma das ações mais visíveis é o desenho do Programa de Monitoramento da Qualidade do Biodiesel (PMQBio) que vai monitorar especificamente a qualidade do biodiesel e do diesel fóssil puro. “Estamos apenas aguardando a publicação da norma pela agência”, informou.

Em antecipação ao PMQBio, a ANP desenvolveu o Projeto Biodiesel que focou nos mercados da Bahia, Goiás e Minas Gerais – estados com mais reclamações. No longo prazo, essas ações pretender fazer um mapeamento com o objetivo de localizar onde estão as não conformidades.

Alta conformidade

Donizete Tokarski, CEO da Ubrabio, lembrou que, apesar das reclamações, não há propriamente uma epidemia de problemas. Dados da própria ANP mostram que a não conformidade do diesel está em moderados 2,8%. “Esse é um dado que precisa ser contemplado”, ressalta lembrando que muito antes do biodiesel já havia problemas de qualidade relacionados ao óleo diesel. “Parafinas estão presentes em 100% do diesel [fóssil]. (...) É um material que precipita e causa danos aos motores”, relembra.

Para o representante da Ubrabio é preciso olhar também para o diesel que estamos consumindo. “No Brasil usamos quase 50% de S-500 com alto teor de enxofre. (...) Nas misturas entre biodiesel e S-500 a contaminação total dobra em relação ao mesmo biodiesel com S-10”, reclama acrescentando que hoje o Brasil importa cerca de um quinto de todo o óleo diesel que consome. “O diesel importado não é testado enquanto 100% do biodiesel fabricado no Brasil tem a qualidade atestada por laboratório acreditado. (...) Estamos importando diesel de péssima qualidade”, complementa o CEO da Ubrabio.

Mais sensível

Iara admite que o produto ficou, de fato, mais sensível nos últimos anos com a introdução do diesel de baixo teor de enxofre (S-10) e maior percentual de biodiesel apontando que a empresa tem promovido ações de treinamento e entregue materiais para as equipes de seus clientes. “Temos que reaprender a trabalhar”, reconhece a diretora da Petrobahia

A sensibilidade do biodiesel é um fato reconhecido pela ANP. “[O biodiesel] é um produto ‘lábil’ que é afetado pelas condições do ar, calor, umidade que precisa ser preservado dos fatores que podem degradá-lo”, aponta Ednéia. Por isso é fundamental que toda a cadeia adote boas práticas para manejar o produto. “Não adianta ter um produto de ótima qualidade sendo entregue na saída da usina e a cadeia de transporte não manter essa qualidade”, completa.

A necessidade de boas práticas em toda a cadeia é um ponto em que todos convergem. “A gente precisa de boas práticas. Quem já chegou num posto e deixou de abastecer porque o tanque estava sendo lavado?”, questiona-se Donizete.

Atualização

E reforçar adesão da cadeia às melhores práticas é apenas parte da equação. Apesar de ter passado por atualizações, a especificação atual do biodiesel é de 2014. “Temos um volume crescente de biodiesel, a especificação precisa acompanhar a evolução”, complementa. Isso já está acontecendo. No começo do mês foi aberta a consulta pública para a definição de uma nova especificação do biodiesel com audiência marcada para 18 de janeiro.

“O processo é lento, mas a gente quer chegar em uma regulamentação robusta”, conta Ednéia antecipando que a nova especificação pretende reduzir monoglicerídeos e teor de metais. “Os produtores já têm trabalhado e se movimentado para fazer essas reduções de forma espontânea”, elogiou.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com