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Tendência de alta dos grãos permanece inabalável


Valor Econômico - 29 nov 2007 - 09:19 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Os preços internacionais dos grãos estarão mais elevados no início de 2008 do que estavam no começo de 2007. São prognósticos que dominam o mercado há meses, e nem o refluxo dos investimentos na produção de etanol de milho nos EUA parece capaz de contradizê-los.

“É um exagero dizer que a alta dos grãos ocorre só por causa do programa de biocombustível dos EUA. A demanda asiática por alimentos está crescendo muito”, diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados. “E estamos apenas no comecinho desse movimento. A Ásia tem uma demanda não apenas por volume, mas tem crescido também a exigência por maior qualidade”.

Por conta desse cenário, destaca, as exportações brasileiras de milho acumuladas até outubro foram de 8,8 milhões de toneladas, um avanço de 177% em comparação com o ano passado. Na soja, por outro lado, que acumula 22,4 milhões de toneladas embarcadas, a queda foi de 5%. “O milho se destacou até mesmo no segundo semestre, quando tradicionalmente a exportação de soja é mais forte. As perspectivas são positivas para o preço dos grãos”, avalia o economista. Em parte por conta das exportações, cresce a pressão para a liberação das importações do grão transgênico sobretudo para abastecer a região Nordeste.
Pedro de Camargo Neto
Para a soja, o horizonte é de produção mundial 6% menor no próximo ciclo, mas o consumo estimado deverá crescer 4%, para 233,5 milhões de toneladas — a produção deverá superar o consumo, o que não ocorreu nas últimas três safras. O preço do grão, que está em alta desde o segundo semestre do ano passado, aproxima-se dos US$ 11 por bushel. “É a ‘teoria da escada’: um grão, quando sobe, puxa o avanço do outro. O milho é que subiu primeiro”, diz Mendonça de Barros. Os contratos futuros na bolsa de Chicago apontam para um pico de preços em meados de 2008.

O trigo, que enfrentou quebras de safra em produtores importantes como Ucrânia e Austrália, está com os estoques em queda desde a safra 1999/00. Os preços retraíram-se nos últimos meses, mas os contratos futuros apontam elevação ao longo do primeiro trimestre do próximo ano, sempre acima de US$ 8 por bushel. Além disso, os estoques devem decrescer ao nível de 100 milhões de toneladas, o que, a se confirmar, será o menor dos últimos 29 anos.

Mendonça de Barros critica a proposta argentina de taxar as exportações de grãos — com os preços das commodities elevados, a Argentina pretende taxar as vendas externas para criar reservas para o caso de as cotações voltarem a cair. “Essa é uma proposta ingênua, de quem desconhece a agricultura e seus custos com impostos e falta de infra-estrutura. O atual aumento dos preços repõe um pedaço das deficiências com os custos do setor”, afirma o economista. “É uma proposta estúpida”.

Na esteira dos grãos, os preços da carne devem manter o movimento ascendente. “O ano termina melhor do que começou em relação aos preços das carnes. A alta dos grãos pode levar o preço da carne para patamares de cinco anos atrás, mas o impacto sobre a inflação, se ocorrer, não deverá ser significativo”, disse Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). “Havia uma previsão de alta, mas não era consensual. Agora, é consenso: o ano termina bem melhor”.

As boas perspectivas de preço somam-se à possibilidade de abertura de novos mercados — em maio, Santa Catarina recebeu o reconhecimento como área livre de febre aftosa sem vacinação. Os produtores mantêm a expectativa de obter, até o fim deste ano, a autorização de exportar carne para o Chile. O novo mercado tem potencial para ser o quarto ou quinto maior comprador de carne brasileira, acredita Camargo Neto.

Entre 1997 e o ano passado, as exportações brasileiras de carne bovina subiram 665%. O avanço manteve-se mesmo com a valorização do real em comparação com o dólar. “Mesmo sem resolver um problema ridículo como o da febre aftosa, as exportações cresceram. O Brasil só aprende quando toma prejuízo”, disse.

A alta do preço do petróleo puxou a demanda por etanol de milho e, na esteira, a do álcool combustível à base de cana. O crescimento da frota de carros flex aumenta a procura por etanol, mas não é possível prever se o preço atual se repetirá na próxima entressafra de cana-de-açúcar, avalia Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “Mas é preciso aumentar o número de agentes de comercialização. Isso ao menos reduziria a variação sazonal tão grande que ocorre em toda entressafra”, diz.

Atualmente, as distribuidoras só podem negociar 5% dos estoques com outras distribuidoras. “E os postos deveriam poder comprar álcool hidratado diretamente das usinas ou de terceiros, e não apenas das distribuidoras de suas bandeiras. Isso poderia reduzir os custos de transporte e baratearia o preço final”, afirma Jank.

Marcos Jank, José Roberto Mendonça de Barros

Patrick Cruz
Valor Econômico

Tags: Alimento Soja