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Mini usina faz biodiesel com óleo caseiro


Jornal da Cidade - Bauru - SP - 30 nov 2009 - 07:49 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:09

Longe do que possa parecer, o título acima pouco tem a ver com a rotina de quem é dedicado exclusivamente aos afazeres domésticos. Na verdade, se trata dos caminhos percorridos por material que o óleo, se corretamente coletado e transformado, simboliza preocupação ambiental e impulso econômico, assim é tratado em Bauru projeto de cunho social e, principalmente, cultural.

Com a proposta de fabricar combustível limpo, com a produção de biodiesel mediante reaproveitamento de óleo de fritura, a iniciativa dá seus primeiros passos em Bauru com a instalação e pleno funcionamento de uma mini usina que refina o óleo de cozinha e já produz os primeiros litros do combustível ecologicamente correto.

Encabeçada pela ONG ComVida, especializada em refinar o material denominado pelos integrantes da entidade por OGR (Óleo e Gordura Residual), a proposta, que tem entre seus parceiros a Cooperativa de Resíduos de Bauru (Cootramat), visa, conforme seus idealizadores, principalmente, uma transformação cultural, mediante estabelecimento de um plano comunitário de gestão ambiental.

A mudança cultural, afirmam Ivan Meneses e Carlos Kleberson Ferreira, respectivamente, diretor ambiental e presidente da ONG, frutificaria do incentivo junto à população. Ela é a principal fornecedora da matéria prima que, além do biodiesel, também resulta na fabricação de óleos para outros fins industriais – como a conservação de couro -, além de subprodutos, como sabonete de glicerina, material separado após o refino do óleo no processo final de fabricação do combustível.

Potencialmente, frisam, as residências seriam as maiores fornecedoras de matéria prima para a fabricação do combustível alternativo, que, entre seus benefícios, minimizaria a emissão de poluentes na atmosfera – a substância não tem enxofre e tem impacto ambiental até 88% menor, afirma Meneses, do que os derivados de petróleo ou álcool.

O diretor ambiental da ONG destaca também que o objetivo maior do projeto é fazer com que a população deixe de despejar o óleo no esgoto, pois a substância, enfatiza Meneses, é a que mais afeta a água. “Nosso objetivo é fazer com que a população não jogue mais esse resíduo na rede de esgoto”, enfatiza. “Temos de sanear o planeta e não comprometer mais a água”, acrescenta.

Entretanto, apesar de potencialmente ocuparem posição de destaque no fornecimento de matéria prima, as moradias, justamente pela falta de cultura no recolhimento e encaminhamento do material para usinas, na prática, ainda exercem função apenas de figurantes no processo. “O projeto precisa ser culturalmente aceito”, incentiva Meneses.

Atualmente, a produção do biocombustível na mini-usina em Bauru, através do processo conhecido como “Transesterificação”, é garantida por industrias da cidade e outros municípios do Estado, que comercializam o óleo utilizado nos mais variados processos de fabricação.

Inclusão social também move projeto

Ainda sem previsões para o início da produção em escala industrial do biocombustível, a usina de beneficiamento do óleo de cozinha usado está a pleno vapor e aberta à participação da população, que pode se tornar a principal fornecedora.

A iniciativa já caminha de mãos dadas com o trabalho de cooperados da Cootramat, que, apesar da parcela ainda muito pequena de óleo separado pela população na coleta seletiva, enfatiza o presidente da ComVida, já fornecem matéria prima para o beneficiamento da substância. “Os catadores são verdadeiros saneadores ambientais”, acentua o diretor ambiental da entidade.

Entusiasta do projeto, o secretário municipal do meio-ambiente, Valcirlei Gonçalves da Silva, também destaca a importância dos catadores tanto na nova proposta quanto no atual processo de compostagem e reciclagem dos resíduos sólidos na cidade.

Entretanto, o chefe da pasta atenta para a sempre batida, mas ainda ignorada, questão da maior participação popular na separação do lixo reciclável. “(A quantidade recolhida) está 100 a 105 toneladas por mês. Poderia ser o dobro”, observa. “E não se trata nem de conscientização, pois a importância da coleta seletiva está mais do que batida na mídia. O que acontece é comodismo mesmo”, lamenta.

A renda média mensal de um catador cooperado, detalha Maria Cecília Pereira de Oliveira, responsável pela comercialização de material reciclado da Cootramat, esta entre R$ 500,00 e R$ 600,00, cerca de R$ 25,00 ao dia. Apesar de ainda não haver estimativa do quanto esses rendimentos seriam maiores com o estabelecimento da produção plena em escala comercial do biodiesel na cidade, através do recolhimento de óleo de fritura usado, os benefícios tanto para a cadeia profissional a ser criada pela iniciativa, quanto para o planeta, são incontáveis: “pensamento global, ação local”, incentiva Meneses.

Luiz Beltramin