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Detoxificação da torta pinhão-manso pode não ser o melhor caminho


BiodieselBR.com - 21 out 2011 - 07:33 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:18

A despeito de suas vantagens relativas para a produção de óleo vegetal para a indústria do biodiesel, o pinhão-manso ainda precisa superar imensos desafios antes de se tornar uma lavoura realmente viável. O gargalo acaba de ficar um pouco mais largo com os resultados do recém-finalizado projeto de pesquisa Aproveitamento Integral da Semente de Pinhão-Manso para a Obtenção de Biodiesel realizado em parceria pela Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri / Unicamp) e pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL)
 
Uma das maiores dificuldades para tornar o pinhão-manso uma realidade é que, atualmente, a cultura precisa se pagar somente com sua produção de óleo. Como a planta possui uma elevada concentração de uma substância tóxica chamada éster de forbol, a torta e o farelo produzidos pela prensagem das sementes não pode ser aproveitado na produção de rações para animais, o que torna mais complicado a lavoura se pagar.

Para tentar resolver esse impasse a dupla de pesquisadoras do ITAL, Dra. Roseli Aparecida Ferrari e Dra. Anna Letícia Pighinelli (recentemente esta última foi contratada pela Embrapa), somaram esforços com o professor da Unicamp, Dr Kil Jin Park, para tornar a torta e o farelo de pinhão-manso atóxicos. O projeto contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

De acordo com a Dra. Roseli Ferrari, a pesquisa iniciou-se em 2009 e terminou em setembro de 2011. “Nós tentamos trabalhar com a pesquisa do pós-colheita do pinhão-manso para conhecermos melhor o teor de óleo e a toxidade”, explica a acadêmica, acrescentando que desenvolveram um método para determinar o teor de éster de forbol contido nas plantas.

A pesquisa então se voltou para a literatura em busca de métodos que permitissem a detoxicação da torta e do farelo produzidos pela prensagem das sementes. “Essa é uma substância cancerígena e perigosa tanto para humanos quanto para animais”, explica ela. Alguns dos métodos de extração testados se mostraram até 100% eficientes na remoção da substância.

O éster de forbol extraído pode acabar sendo aproveitado. Uma vez purificada a substância é usada pela indústria farmacêutica como um indutor de câncer nas cobaias usadas em estudos farmacológicos e atingem preços elevados no mercado. “Esse também é uma possibilidade”, conta a Dra. Ferrari.

Mas, segundo ela, o processo de purificação não é simples, uma vez que faz uso de solventes que também são perigosos e de maquinários complexos. “Fazer isso não é coisa para leigos, você precisa de alguém que tenha conhecimentos técnicos em química para fazer isso”, explica.

Ela não vê muita chance dos agricultores ou suas cooperativas conseguirem montar a estrutura necessária para o aproveitamento integral do pinhão-manso. Para ela, talvez faça bem mais sentido continuar aguardando o desenvolvimento de cultivares naturalmente atóxicas que já vem sendo pesquisadas pela comunidade científica do que investir na infraestrutura e maquinário necessários a purificação do farelo.

Os testes realizados revelaram que o farelo tratado de pinhão-manso possui 25,5% de proteína, podendo ser usado na formulação de rações – para comparação o farelo de soja chega a ter 40% de proteína. “Esse é um teor de proteína bastante apreciável e que compensa o uso pela indústria de rações”, garante.

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com