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Brasil Ecodiesel recorre ao sócio para crédito


Valor Econômico - 29 jul 2008 - 06:01 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

Antes de completar dois anos como empresa a aberta, a Brasil Ecodiesel está tendo de recorrer ao bolso de um de seus principais acionistas e fundador do negócio, Nelson José Côrtes da Silveira, para manter seus pagamentos. De junho para cá, ele concedeu dois empréstimos à empresa, num total de R$ 30 milhões — pouco mais de cinco vezes o que a companhia tinha em caixa no final de março.

O primeiro empréstimo, de R$ 25 milhões, por dois meses, foi assinado no fim de junho. E na sexta-feira passada, foi aprovada uma linha de mais R$ 10 milhões à companhia, financiada metade por ele e o restante pelos bancos Fibra, ABN Amro e Fator. Ambas as operações são de curto prazo.

Em novembro de 2006, a empresa obteve R$ 378 milhões na oferta inicial de ações na Bovespa. O plano original era que a operação rendesse, no mínimo, cerca de R$ 540 milhões e, no máximo, R$ 695 milhões.

O objetivo era aplicar 60% dos recursos obtidos em ampliação de capacidade, pesquisa e infraestrutura, e os 40% restantes na melhoria do capital de giro e no pagamento de dívidas.

Entretanto, pouco mais de seis meses depois da captação, os recursos já tinham sido quase integralmente consumidos. A empresa tinha R$ 23 milhões disponíveis. E, de lá para cá, o caixa continuou minguando.

Em março, a companhia contava com R$ 5,8 milhões aplicados. As dívidas totais, por sua vez, somavam R$ 235 milhões, sendo que R$ 205 milhões com vencimento em 12 meses. Do total devido, cerca de 40% são créditos dos bancos que participaram junto com o Nelson da Silveira da linha aprovada na sexta-feira. Em resposta enviada ao Valor por meio de porta-voz, a Brasil Ecodiesel alega ter preferido um empréstimo de seu sócio no lugar de um aporte de capital — que ampliaria a participação dele no negócio — pela agilidade da operação. Um aumento de capital, mesmo que dedicado apenas aos atuais investidores, exige o cumprimento de passos legais, como o período de preferência aos acionistas. Além disso, afirmou que um mútuo — empréstimo entre partes de um mesmo grupo — é considerado uma opção de financiamento, assim como a obtenção de crédito com “bancos parceiros”.

A companhia vem sofrendo com a alta no preço da soja, sua principal matéria-prima para o biodiesel. Além disso, enfrentou problemas pela não retirada do produto, vendido em alguns leilões à Petrobras. A própria empresa também não honrou alguns acordos, alegando inadimplência da estatal. A discussão foi parar na Justiça no começo desde mês, quando a Brasil Ecodiesel decidiu cobrar judicialmente multa da Petrobras — procurada, a empresa não comentou o assunto.

Questionada sobre o cenário adverso, a Brasil Ecodiesel alegou que não fala sobre seu desempenho financeiro sem que os números sejam públicos. O próximo balanço, referente a junho, será divulgado em 14 de agosto.

A companhia é uma das maiores vendedoras nos leilões de biodiesel feitos pela Agência Nacional (ANP) e Petrobras. Entretanto, o baixo preço que vem oferecendo, somado à alta da cotação da soja, está retirando a rentabilidade do negócio.

No balanço dos três primeiros meses deste ano, o valor líquido das vendas não cobriu nem mesmo os custos do produto. Enquanto a receita líquida foi de R$ 167,2 milhões, os custos somaram R$ 180,3 milhões.

O prejuízo líquido da empresa ficou em R$ 14,9 milhões. A perda na última linha só não foi maior porque a companhia teve uma receita extraordinária de R$ 20 milhões referente a multas pagas por distribuidores de combustíveis que compraram mas não retiraram biodiesel da empresa.

No mercado, a percepção sobre a situação da companhia não é das mais animadoras. As ações acumulam perda de 76% frente ao preço da oferta na Bovespa — quando cada papel foi avaliado em R$ 12,00. Ontem, o fechamento na bolsa apontava R$ 2,88 para as ações.

Nem mesmo as movimentações societárias que eliminaram a presença do sócio oculto do bloco de controle aliviaram as pressões sobre a empresa.

Em maio, o fundo estrangeiro Eco Green Solutions deixou o acordo de acionistas e vendeu suas ações ao sócio Nelson Côrtes da Silveira e à empresa Zartman Services, de Evron Zartman Vogt. Silveira ficou com 21% da empresa e a Zartman, com outros 29%.

Desde a oferta inicial de ações, a existência de um sócio oculto pesava sobre o negócio. Especialmente, pelas suspeitas (não confirmadas) de que o sócio por trás do fundo sediado em paraíso fiscal fosse Daniel Birmann, sócio de Silveira no início da empreitada. O tema era delicado porque o empresário, dono do grupo Arbi, foi inabilitado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para exercer cargo de administrador de companhias abertas (cabe recurso).

A discussão prejudicou a colocação de ações e a companhia captou 50% menos do que poderia.

Quando reorganizou sua estrutura societária, em meados de maio, a expectativa de Silveira, que na época conversou com o Valor, era que a Brasil Ecodiesel conseguisse melhorar o acesso a crédito, bem como a atratividade frente investidores de longo prazo, para eventuais novos aportes.

No entanto, os sinais são de que o resultado pretendido ainda não foi alcançado. O sócio, que comprou parte das ações da Eco Green, continuou usando seus recursos na companhia.

Graziella Valenti, de São Paulo

Tags: Ecodiesel