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BioVerde diz que é viável exportar biodiesel, outras usinas discordam


BiodieselBR.com - 29 jun 2011 - 06:26 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

A BioVerde, que está construindo a maior usina de biodiesel do Brasil, espera que até 2015 esteja vendendo 40% de sua produção para a Europa, como alternativa ao saturado mercado interno.

A empresa está em tratativas para assinar seu primeiro contrato de fornecimento com distribuidores europeus, na Itália e na Espanha, e planeja começar os embarques dentro de 90 dias, disse o seu presidente, Ailton Braga Domingues, em entrevista por telefone.

Como a capacidade de produção de biodiesel no Brasil é mais que o dobro da demanda interna, a BioVerde está ávida por ganhar acesso a novos mercados. Embora os altos custos de frete e a moeda nacional forte tenham tirado a competitividade do biodiesel brasileiro no exterior, a empresa afirma que a exportação é viável porque suas usinas não estão localizadas nas regiões mais remotas do interior do país, e sim próximas do litoral.

“Nossa estratégia sempre foi diferente da de outras empresas”, disse Domingues. “O custo do frete torna este tipo de estratégia impossível para uma usina no Mato Grosso ou Goiás.”

A BioVerde recebeu autorização da ANP para exportar biodiesel no dia 15 de junho. A expectativa de Domingues é entregar 10 milhões de litros por mês para os distribuidores europeus até a metade de 2012, e 33 milhões de litros por mês daqui a 4 anos.

“Papel maior”
“O Brasil tem capacidade agrícola para desempenhar um papel bem maior do que tem hoje”, disse Domingues na entrevista. “Queremos nos tornar o maior exportador de biodiesel do Brasil.”

A empresa possui uma usina em funcionamento em Taubaté (SP) e está gastando 150 milhões de reais para adaptar outra unidade em Sorocaba (SP), que produzirá 400 milhões de litros de biodiesel por ano.

A planta deve entrar em operação este ano e superar a usina da Archer Daniels Midland, em Rondonópolis (MT), atualmente a maior do Brasil com capacidade de produção de 344 milhões de litros.

A indústria de biodiesel brasileira é a terceira maior do mundo, atrás da americana e da alemã, com cerca de 60 usinas, capazes de produzir 5,9 bilhões de litros por ano, segundo a ANP.

Duas grandes produtoras de biodiesel do Brasil, Granol e Caramuru, e pelo menos outras seis fabricantes já obtiveram as autorizações de exportação. Algumas têm receios em vender combustível para o exterior.

Preços maiores
“Estou trabalhando neste setor desde 2005”, disse Marcelo Freiria, gerente de vendas da Granol, em entrevista por telefone. “E eu nunca recebi uma oferta de preço [de um distribuidor europeu] que justificasse eu bater na porta do meu diretor e dar sinal verde para ele fechar negócio.”

O biodiesel está sendo vendido a R$ 2,05 (US$ 1,28) o litro no Brasil, enquanto o preço em Roterdã, Holanda, é de aproximadamente US$ 1,20 por litro, segundo dados da Bloomberg. O custo do frete do Brasil até a Europa pode acrescentar mais US$ 0,12 por litro ao preço final de venda, além de outros US$ 0,26 do imposto cobrado em alguns países, diz Roberto Rodriguez Labastida, analista da New Energy Finance.

Em parte, o motivo dessa disparidade de preços é a valorização de 45% do real frente ao dólar desde 2008.

“O óleo de soja brasileiro”, principal matéria-prima usada no país, “é em geral vendido mais barato que o biodiesel europeu", diz Freiria. “O negócio não é viável”, acrescenta ele, mesmo na usina da Granol em Canhoeira do Sul, que fica a 300 quilômetros do porto de Rio Grande, no extremo sul do Brasil.

Sem competitividade
Os problemas logísticos e os baixos preços europeus dificultam a venda para a Europa, afirma um funcionário da Caramuru.

No ano passado, 61% dos 2,3 bilhões de litros de biodiesel importados pelos 27 estados-membros da União Europeia vieram da Argentina, e outros 26% da Indonésia, de acordo com um e-mail do Eurostat, departamento de estatística da UE. Não houve nenhuma importação do Brasil, segundo o documento.

Com usinas próximas ao litoral, a cerca de uma hora de viagem de Santos, maior porto do Brasil, a BioVerde está mais bem posicionada que seus concorrentes para alcançar os mercados europeus, diz Domingues. A maior parte da indústria está situada a mais de mil quilômetros da costa, no coração da região produtora de soja, acrescenta.

“Nosso biodiesel foi testado e aprovado por distribuidores europeus", disse. “Agora é uma questão de negociar as condições comerciais."

Stephan Nielsen
Bloomberg
Tradução e adaptação: BiodieselBR.com