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Univaldo Vedana

O pinhão-manso e o trabalho escravo


Univaldo Vedana - 22 jan 2009 - 14:25 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:08

Quando se começou a plantar cana no Brasil, e olha que isto aconteceu há séculos, todo o trabalho era feito por escravos. A roçada, o preparo do solo, o plantio, o corte, o transporte com carroças e mulas e a moagem. Os séculos passaram e só na segunda metade do século 20 que se iniciaram alguns trabalhos mecânicos, no preparo do solo e no transporte. O corte mecânico iniciou na última década do século 20 e levará ainda muito tempo para que seja implantado em 100% dos canaviais brasileiros.

A cana é originária da Nova Guiné e foi levada para o Oriente e depois para as Américas. Serviu de moeda de troca para os portugueses, com o ouro branco e ainda ajudou na colonização de boa parte da faixa litorânea. Por causa dela abriu-se muitas estradas, sempre com o trabalho escravo.

O ciclo econômico da cana está intimamente ligado à escravidão.

Com a criação da CLT – Consolidação das Leis do Trabalho na década de 40, os trabalhadores rurais não foram incluídos, resultado da força política dos barões do café. O trabalho escravo, como o que acontece hoje em algumas denúncias, continuou e era legal. O trabalhador rural só ganhou amparo a partir de Constituição de 1988.

Em função de seu histórico, a cana carrega até hoje esse estigma de ser escravagista. Quando ouvimos alguma denuncia de trabalho escravo, logo associamos uma usina de álcool. O que nem sempre é verdade.

A cultura do pinhão-manso tem semelhança com a cultura da cana. A formação de mudas, o plantio, a poda e a colheita exigem trabalho braçal, como era da cana. E com as atuais variedades não existem perspectivas de colheita mecanizada. As podas de correção sempre serão manuais. Adubações e pulverizações já são efetuadas por equipamentos.

A qualificação da mão de obra exigida na cultura do pinhão-manso também é idêntica a exigida no corte da cana, ou seja, baixa. Baixa escolaridade e baixa qualificação resultam em baixos salários, um prato cheio para a exploração.

É considerado condição degradante de trabalho quando se paga um salário justo para o trabalhador, mas não lhe é fornecido alojamento digno ou água potável, entre outras privações.

O pinhão-manso não possui o histórico da cana e não deve carregar denúncias de trabalho escravo ou degradante se quiser uma imagem diferente da cana. Qualquer sinal dessas condições ruins de trabalho deve ser combatido por todos aqueles que acreditam e defendem essa promissora planta.

Univaldo Vedana é analista do setor de biodiesel e responsável pela primeira fábrica de biodiesel do país abrangendo todo o processo de produção.