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Luiz Pereira Ramos

Desafios de 2007


Luiz Pereira Ramos - 26 fev 2007 - 07:01 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Há dois meses, iniciamos 2007 com a sensação de que a humanidade começou a perceber as conseqüências de suas ações, e iniciou um movimento para promover medidas capazes de frear o impacto ambiental de suas atividades. Por quê? Ora, simplesmente pelo reconhecimento da situação atual de nosso planeta, que por muito tempo se viu dissimulada entre o nosso comodismo e a hipocrisia de nossas lideranças políticas, quer nacionais ou internacionais. Portanto, cabe-nos enaltecer o advento desta aparente conscientização, mas, ao fazê-lo, avaliar se os seus resultados virão tão rapidamente quanto as conseqüências que a motivaram. Na verdade, as evidências destes últimos meses já prenunciam um ano de muita turbulência, desde a esfera ambiental até a social e política, pois não nos parece que as lições do passado tenham servido para arrefecer os ânimos de nossos representantes, em todas as esferas do poder. É difícil admitir que alguns dias de 2007 já tenham sido suficientes para macular toda aquela maravilhosa expressão de amor fraterno e de solicitude pela paz e harmonia entre os povos que nos invade durante o período natalino e festas de fim de ano. Porém, resta-nos a certeza de ser esta uma atribulação apenas passageira, incapaz de comprometer nossa constante motivação em perseguir com determinação os nossos mais legítimos ideais.

Enchentes no sudeste, seca no norte, enxurradas no sul, verão em pleno inverno de Nova Iorque, degelo de placas de dimensões continentais nos árticos, incêndios incontroláveis na Austrália, erupções vulcânicas na América Central, aumento do nível do mar nas Ilhas do Pacífico, nevascas nunca dantes vistas no Canadá, tsunamis na Indonésia, frio sub-humano na Rússia. Está confirmado: 2007 será o ano mais quente dos últimos séculos e a temperatura média do planeta poderá aumentar algo como 0,5ºC. Parece pouco, mas as conseqüências deste desequilíbrio já estão ao nosso redor e é preciso ser muito tolo ou inconseqüente para não reconhecê-las.

Esta realidade deveria nos levar a um forte sentimento de auto-avaliação e de verdadeira reflexão sobre o serviço que estamos oferecendo à sociedade como cidadãos de um país de tantas nuances, territoriais, edafoclimáticas, sociais, ambientais, étnicas e, naturalmente, políticas. Os noticiários têm nos colocado repetidamente estarrecidos com as revelações e atitudes de réus confessos, de vítimas indefesas, de eleitores resignados, de delatores premiados e de outros tantos exemplos de toda casta e origem, desde os mais sérios até os que seriamente comprometem, por suas próprias ações, a manutenção de um estado democrático de direito em nosso país. Frente a toda esta informação, não nos resta senão reconhecermos as nossas limitações e trabalharmos arduamente para que possamos encontrar uma maneira de intervir nesta organização social e, cada um a sua maneira, contribuir para que retomemos o caminho da dignidade, da misericórdia, da fraternidade sincera e do interesse pelo bem comum. Talvez o leitor esteja se perguntando, neste exato momento, o que teria tudo isto a ver com o tema biodiesel. Bem, o biodiesel representa mudança e este fato nos reputa uma responsabilidade imensa sobre o futuro. Falamos das bases de uma nova era, alicerçada no uso de biodiesel e de todas as formas de energia limpa que, ao seu tempo, oferecem soluções para conter o impacto ambiental de nossas atividades antrópicas e para democratizar o acesso à primeira e mais imediata necessidade do homem moderno, que é a energia. Ainda temos muito a contribuir para a evolução das linhas de desenvolvimento científico e tecnológico que realmente nos levarão à quebra de alguns paradigmas da sociedade moderna. E num mundo fortemente globalizado como o que atualmente vivemos, é preciso paciência e união para que as soluções de hoje se consolidem efetivamente no alicerce para as soluções do futuro, respeitando as mais eloqüentes premissas de justiça social, preservação ambiental e viabilidade econômica que, naturalmente, jamais deveria omitir as externalidades associadas às duas primeiras condições.

Bem, é dito popular que nada acontece neste país antes do carnaval. Portanto, terminada esta época festiva, apesar da resistência impressionante de alguns grupos de foliões distribuídos país afora, tenho a forte sensação de que 2007 não perderá a oportunidade de recomeçar com o pé direito a partir desta segunda-feira, dia 26 de fevereiro. Portanto, já que agora é para valer, quero aqui reiterar os meus votos de um Feliz Ano Novo a todos os diletos leitores (e gestores) do Portal do Biodiesel. Que em 2007 possamos experimentar os primeiros passos de nosso tão desejado crescimento econômico, mas sem que nos esqueçamos da enorme desigualdade social que ainda paira sobre o nosso país e nos envergonha perante o mundo. Que não nos contentemos com pequenas vitórias, mas com grandes conquistas, aquelas que exigem de nós um posicionamento participativo, comprometido com os mesmos dons que se fizeram evoluir em cada um de nós a partir de uma experiência divina. Sabemos que o tempo é exíguo e que nada ocorrerá por intercessão do além. Sabiamente, a providência divina nos agraciou com o livre arbítrio, o que significa que teremos que nos unir para sermos capazes de quebrar paradigmas e de rejuvenescer as bases de nosso acervo tecnológico em direção aos recursos renováveis, mesmo que, para isto, tenhamos que abdicar do conforto que algumas opções tecnológicas nos oferecem. São muitos os desafios que ainda estão por ser transpostos, e a cada tropeço, a cada decisão equivocada, a cada ato de populismo inconseqüente, a cada ato de intransigência administrativa regada por interesses escusos, ainda maior será a distância a nos separar de nossas metas e objetivos comuns. Que haja neste país, ao longo de 2007 e dos anos que o seguirão, um choque de competência, de transparência, de co-responsabilidade, de gestão participativa e de amor fraterno e verdadeiro pelas coisas da terra, do ar, dos oceanos e dos corpos d’água que irrigam os nossos campos verdejantes. Que não sejamos mais aviltados com declarações espúrias e com artimanhas políticas travestidas de bem comum, a expensas de uma população sofrida, carente, desinformada e ansiosa. Que não sejamos insultados com palavras de ordem de falsos profetas e que não percamos a esperança... a esperança de renovar a face da terra, mesmo que não possamos testemunhá-lo em nossa peregrinação terrestre. Creio que este seja o nosso verdadeiro compromisso, ou nosso verdadeiro desafio. Assim, meu desejo é que todos nós continuemos a crescer em nossos ideais, que não esmoreçamos frente às adversidades e que saibamos nos unir em torno de objetivos comuns. Concluo externando mais uma vez os meus votos de um feliz 2007 para nosso Brasil, particularmente a todos os comprometidos, direta ou indiretamente, com o bem estar de nossos filhos. Afinal, para quem estaríamos construindo o “nosso” futuro?

Luiz Pereira Ramos, UFPR
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