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Miguel Angelo

ANP evidencia incoerência ao definir preço máximo do leilão


Miguel Angelo Vedana - 14 mai 2009 - 15:25 - Última atualização em: 07 mar 2012 - 18:47

Desde que os leilões de biodiesel iniciaram uma dúvida ronda o setor, como a ANP chega ao preço máximo de venda do biodiesel nos leilões? As usinas não sabem, os analistas não sabem e as corretoras não sabem. Quem tem o segredo da fórmula é a ANP, que afirma usar uma planilha para chegar ao resultado.

O superintendente da ANP, Edson Silva, disse em uma entrevista exclusiva a BiodieselBR concedida no 10º leilão de biodiesel, que a ANP sempre usou a mesma planilha, onde são contabilizadas uma série de dados, inclusive preço presente e futuro de várias matérias-primas (quem se interessar pode escutar a entrevista clicando aqui).

Com base nessa afirmação podemos concluir que o preço de referência do leilão será mais baixo quando os preços das matérias-primas baixarem e tiverem com tendência de baixa, assim como quando os preços das matérias-primas subirem e com tendência de alta, o preço de referência do leilão será mais alto. Essa lógica é bem fácil de entender e justificar, já que 80% do custo de produção de biodiesel é com a matéria-prima.

O problema com essa planilha é quando essa lógica não é aplicada. No último leilão realizado pela ANP o preço de referência foi de R$ 2,36 por litro. Naquele período o preço do óleo de soja, matéria-prima que corresponde a quase 80% da produção brasileira de biodiesel e que dita os preços das demais matérias-primas, estava em baixa e com tendência de queda, pois o Brasil estava iniciando o seu período de safra. Desde o último leilão até hoje, o preço da soja no mercado interno subiu 10,81% enquanto no mercado internacional subiu em dólar 31,57% e 16,91% em real. Na média entre o preço praticado no Brasil e o preço internacional temos um aumento de 13,86%. Além disso, o Brasil começa em junho a entrar no período de entressafra da soja, o que faz com que o preço de todo o complexo desta oleaginosa suba internamente.  Com base nisso podemos deduzir que o preço máximo do próximo leilão será maior que o praticado no leilão anterior, certo? Não se fizermos parte da ANP. 

Contrariando toda a lógica , a Agência calculou (ou escolheu) como preço para o 14º leilão de biodiesel, o mesmo preço do último leilão, realizado em fevereiro, de R$ 2,36. Aparentemente a variação do preço do óleo de soja foi completamente ignorado. Não é recomendável a ninguém que esteja compondo o preço do biodiesel que ignore o valor de um item que compõe 80% do preço final do biodiesel, muito menos a ANP.

Se o preço de referência do leilão acompanhasse a variação do preço da soja, o litro de biodiesel no 14º leilão deveria custar pelo menos R$ 2,72, 13,86% a mais que o 13º leilão. Talvez até mais, por que a tendência é que ele fique mais caro nos próximos meses, durante o período de entrega desse leilão. Mas parece que isso não foi levado em conta.

Em meio a esse mundo de contas, fórmulas e planilhas , arisco lançar a seguinte equação: oferta muito maior que a demanda + preço máximo baixo no 14º leilão + alto deságio no 13º leilão = ?. O resultado eu não sei, mas tenho a impressão de que não será muito bom.

Questionada, a assessoria de impressa da ANP não deu, até o momento, uma explicação para a formação do preço do 14º leilão.

Miguel Angelo Vedana - Diretor executivo da BiodieselBR