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Biodiesel

Entrevista: Fábio Russo - Diretor Geral da Agrenco Itália


Gazeta Mercantil - 18 jan 2008 - 05:50 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Principal executivo das áreas comercial e de distribuição do grupo franco-brasileiro Agrenco, Fábio Russo fala nessa entrevista sobre o nicho de mercado que se transformou a comercialização de soja e milho livre de transgênicos na Europa. Apesar de o produtor brasileiro pouco saber disso, os prêmios pagos para esses grãos diferenciados quadruplicaram desde 2000. O diretor-geral da Agrenco Itália também explica a estratégia do grupo para a comercialização de biodiesel, cuja produção terá largada no próximo mês. Com expertise em logística, o grupo também deve usar parte do que captou na abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo, em setembro passado, para colocar em funcionamento ainda neste ano um outro terminal portuário no extremo norte do País.

Gazeta Mercantil - A Agrenco é líder no mercado europeu em distribuição de soja e subprodutos livres de transgênicos. Qual o prêmio existente na comunidade européia para soja convencional?

Fábio Russo - O mercado de não-OGM (organismo geneticamente modificado) começou há cerca de 6 anos, e veio caminhando, desde então, muito devagar. Naquela época, por volta de 2000, o prêmio era de 20 centavos de dólar por bushel, valor que foi subindo na medida em que países como Brasil foram limitando sua produção de soja convencional, com o avanço da transgênica. Atualmente, esse prêmio atinge 80 pontos por bushel.

GZM - E qual o limite para esse prêmio?

Fábio Russo - De fato, a um determinado valor, a demanda recua. Mas, no caso dos prêmios, isso parece secundário, porque se a demandar recuar, será pelo preço da soja, que está alto. Quando a soja valia na Bolsa de Chicago (CBOT) US$ 8 o bushel, 80 pontos de prêmio, representavam 10% do valor. Hoje, com a commodity a US$ 13, esse prêmio equilave a pouco mais de 6%. Mas é difícil dizer quando a demanda vai recuar.

GZM - Esse prêmio não está chegando ao produtor rural do Brasil, está?
 

 "Nossa estratégia para o biodiesel é diferente das nossas concorrentes. Eles produzem o biodiesel para misturar 2% no diesel. Nossa estratégia é vender o biodiesel para ser usado puro no motor, ou seja, para clientes cativos"


Fábio Russo - Com o recuo da área de soja convencional, passamos a conceder incentivos para estimular o plantio pelo produtor.

GZM - Que tipos de incentivos?

Fábio Russo - Oferecemos o pacote tecnológico (semente, defensivo, adubo, etc) a uma valor mais barato, diferenciado.

GZM - Qual o market share da Agrenco na distribuição de soja convencional na Europa?

Fábio Russo - Da soja em grão, esse market é de 50%. Do farelo, de 40%. Temos acordo com indústrias no Brasil de fornecimento de farelo. em 2007, movimentamos 800 mil toneladas desse cereal livre de OGM. Neste ano, nossas unidades fabris começam a operar e movimentaremos farelo e óleo próprios. Somente de farelo serão 1 milhão de toneladas.

GZM - E vocês estão entrando mais fortemente em milho não-transgênico?

Fábio Russo - Sim. Em 2007 movimentamos 900 mil toneladas e já temos feito contratos com produtores para originar 10% mais em 2008. Na Europa, apenas Espanha e Portugal compram milho transgênico, portanto, vindo da Argentina, principalmente.

GZM - A Agrenco adotou este ano uma estratégia específica para o milho?

Fábio Russo - Sim. O mercado interno deste grão está mais aquecido e, portanto, estamos tentando fazer mais contratos de troca de produto com insumos com produtores, sobretudo de Mato Grosso. Em 2007, 50% do grão originado no País foi resultado de contratos. Este ano, faremos mais compromissos no campo, atingindo 60% da originação, que será 10% maior.

GZM - Este ano, as duas usinas de biodiesel entram em operação e o mercado interno está super-ofertado. Qual é a estratégia de comercialização da empresa?

Fábio Russo - Começamos a produzir no próximo mês. Nossa estratégia para o biodiesel é diferente das nossas concorrentes. Eles produzem o biodiesel para misturar 2% no diesel. Nossa estratégia é vender o biodiesel para ser usado puro no motor, ou seja, para clientes cativos, conforme qualidade aprovada pelos padrões americanos e europeus. Esses clientes são transportadoras, frotas ferroviárias — já temos contratos com a ALL Logística. Também estamos negociando a exportação do biodiesel para a Espanha e Costa Rica por meio de uma empresa americo-espanhola.