Perfil: Donato Aranda

Aos 40 anos, Donato Aranda chefia um dos mais importantes laboratórios de pesquisa em biocombustíveis do País, coleciona patentes e resiste ao assédio do setor privado

Um fera da química verde

Em abril de 2005, quando discursava na inauguração da usina Agropalma, em Belém (PA), o presidente Lula fez uma promessa ao engenheiro químico Donato Aranda, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro: um dia iria condecorá-lo por seus trabalhos relacionados ao biodiesel. “Como ele é muito jovem, ele ainda pode esperar um tempo para receber a sua condecoração”, brincou o presidente, que na ocasião fez questão de conhecer o responsável pela tecnologia de produção usada na usina.

A espera foi curta. Em novembro do ano passado, o cientista ganhou o título de comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, que reconhece personalidades nacionais e estrangeiras de destaque nas áreas de Ciência e Tecnologia. A condecoração prometida foi entregue por Lula no último dia 10, numa cerimônia no Palácio do Planalto. Foi o segundo prêmio que Aranda recebeu das mãos do presidente. O primeiro havia sido o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, em 2005. O currículo do pesquisador tem ainda outros três prêmios, entre eles o Jovem Cientista, de 2000.

Aranda é, sim, muito jovem – tem 40 anos – mas já virou uma sumidade mundial em biodiesel. Fundador do GreenTec, laboratório de tecnologias verdes da UFRJ, é especialista em aplicação de catalisadores na produção de biodiesel e só neste ano foi convidado para conferências em 17 países. Em novembro, estará em outras duas, na Argentina e no Peru. A milhagem internacional rendeu-lhe prestígio lá fora, e incontáveis convites do setor privado para deixar a universidade e o País. Até hoje, todas as propostas foram recusadas. “Eu me sinto como o Cabral quando chegou ao Brasil. Tem muita coisa ainda para explorar, para descobrir. Não posso largar isso”, diz. 

 “Eu me sinto como o Cabral quando chegou ao Brasil. Tem muita coisa ainda para explorar, para descobrir. Não posso largar isso”

Se Aranda não larga o Brasil, os estrangeiros vêm até ele. Entre os 22 alunos de mestrado e doutorado que orienta há seis estudantes que vieram de fora – quatro cubanos, uma italiana e um alemão. A maioria estuda tecnologias de produção de biodiesel, a outra parte está focada nos biocombustíveis de segunda geração – aqueles obtidos da biomassa, como o bagaço de cana.

De seu laboratório saíram 14 patentes registradas no Brasil e três no exterior. Uma quarta patente internacional está a caminho. Mas o círculo de pesquisadores debruçados sobre o biodiesel vai muito além do GreenTec. Segundo Aranda, é impressionante a quantidade de projetos sobre biodiesel nas universidades brasileiras. “O biodiesel está promovendo a inserção científica em diversas regiões do País”, constata. “Há muitos grupos novos em universidades do interior produzindo trabalhos interessantes.”

Cenário bem diferente, portanto, do que existia em 1999, quando ele começou seus estudos na área. “Naquela época, o barril de petróleo custava US$ 18, hoje custa US$ 90. As pessoas achavam que biodiesel era maluquice”, lembra divertido. 

 “Vou plantar pinhão-manso aqui no Palácio!”
Luís Inácio Lula da Silva

Aranda aproveitou a cerimônia de entrega da comenda para dar ao presidente um vídeo que gravou na região de Guantánamo, em Cuba, com plantações de pinhão-manso. Na região, onde há centenas de propriedades de 30 hectares cada, chove menos de 200 milímetros por ano, metade do índice do semi-árido brasileiro. “Criou-se um microclima dentro da floresta de pinhão-manso e as pessoas estão plantando feijão, tomate...”, conta. “Tem 12,4 toneladas de alimentos por hectare plantados entre as árvores”, afirma. Ao receber o vídeo, o presidente fez outra promessa, em tom de brincadeira: “Vou plantar pinhão-manso aqui no Palácio!”


Dr. Donato Aranda recebe condecoração do presidente Lula no último dia 10


Aranda (dir.) ao lado do ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende.


O agora comendador Donato Aranda em conversa com o presidente Lula

Raquel Marçal
BiodieselBR.com