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Biodiesel

Mamona fracassa... e Lula sonha fazer piraju virar salmão


O Globo - 30 jul 2008 - 05:47 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

Entrou água no projeto do governo de fazer da mamona um combustível alternativo para os veículos nacionais e internacionais. As novas especificações para o biodiesel exigidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) poderão desestimular a produção a partir do óleo de mamona: muito viscoso e com risco de entupir os bicos injetores dos motores, o produto precisará de aditivos, como óleo de soja ou girassol, para ser usado nos tanques.

Ou seja, o programa, lançado em 2005 com pompa pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a mamona como carro-chefe, está ameaçado.

Mas, ontem mesmo, numa solenidade na Bahia, Lula já fazia nova promessa: transformar piraju (dourado), que tem carne branca e é considerado nobre, em salmão. A idéia é permitir uma competição mais acirrada com o salmão chileno nas gôndolas e peixarias do Brasil. O presidente anunciou também a criação do Ministério da Pesca (em substituição à secretaria extraordinária), o que custará R$ 1,8 bilhão até 2011.

— Da mesma forma que fizemos a reforma agrária na terra, vamos fazer agora a reforma aquária, nas águas — disse Lula.

Além de dobrar a estrutura de servidores da pasta de 200 para 400 cargos, seu orçamento também dobrará de R$ 250 milhões para R$ 500 milhões por ano. Isso sem contar a implantação de superintendências em todos os estados, o que criará novas funções. O Ministério do Planejamento já aprovou a realização de concurso para essas 200 vagas.

Já no projeto da mamona, que incentivou produtores a investirem no plantio, as promessas deram lugar às revisões. Segundo simulações da Brasil Ecodiesel, uma das maiores produtoras do setor no Brasil, os novos critérios da ANP limitam em 20% a 30% a participação do óleo de mamona em um litro de biodiesel. O resto teria de ser composto por óleo de soja, pinhão-manso ou algodão. O presidente do Conselho de Administração da empresa, Jorio Dauster, disse que a decisão não terá impacto sobre os produtores.

Ele explicou que mesmo esses 20% deixam um grande mercado para a oleaginosa. Segundo a empresa, será necessário 1,2 bilhão de litros de biodiesel para atender à obrigatoriedade de mistura de 3% ao óleo diesel. O mercado potencial para o óleo de mamona seria de 240 milhões de litros por ano — considerando os 20% —, o que demandaria uma produção de 500 mil toneladas anuais. Hoje, a produção não passa de 120 mil toneladas.

— O problema técnico relacionado à viscosidade não é muito grave. O problema está no próprio preço da mamona, que subiu muito, por razões conjunturais (falta de chuvas no Nordeste brasileiro e em regiões da Índia) — afirmou Jorio. — Não descartamos a mamona, mas estamos com investimento grande em pinhão-manso.

É uma aposta a longo prazo.

— A medida (da ANP) é exagerada, porque nenhum motor vai usar 100% de biodiesel. Adicionar 3% ou 5% de biodiesel de mamona não teria problema, porque os 95% de diesel reduziriam a viscosidade — acredita o pesquisador da Coppe/UFRJ Aurélio Lamare Santos Murta, lembrando que a produção com óleo de mamona já é pequena: 0,17% do total. — E isso acontece num momento de redução de oferta por causa da seca, de preços altos. O produtor vai acabar desistindo.

Em outra frente de combustíveis, Lula prometeu ontem “futucar” a camada de pré-sal para extrair petróleo.

Ainda em setembro, a Petrobras, disse, deverá estar extraindo na Bacia do Espírito Santo, do qual Lula espera que sejam retirados “uns dez mil barris” por dia.

— As pessoas pensam que o pré-sal foi descoberto por acaso. Para chegar a sete mil metros de profundidade, sem tocar num japonesinho lá no fundo, não é coisa fácil, é uma coisa complicada. É preciso investir em pesquisa, em novas tecnologias — arrematou o presidente, na inauguração da primeira usina de biocombustíveis da Petrobras, em Candeias (BA).

Em seu discurso, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão cometeu uma gafe: incensou tanto os biocombustíveis que disse que o petróleo deixará de existir em 20 anos. Isso com a Petrobras descobrindo cada vez mais óleo no présal e provocando a rediscussão do modelo de exploração no país.

— Há duas verdades que não podem ser contestadas. O petróleo está se esvaindo, é finito, e dentro de duas décadas desaparecerá. A outra é que a saída é a produção de combustíveis alternativos — disse o ministro.

Depois desse discurso, tanto Lula quanto a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, exaltaram a importância da Petrobras.

Ramona Ordoñez e Maria Lima