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Biodiesel

Japão investe em etanol e biodiesel


Valor Econômico - 31 mai 2006 - 07:21 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Vinte e oito anos depois de financiar a abertura da fronteira agrícola no Centro-Oeste brasileiro, o governo do Japão decidiu retomar seus investimentos no setor. O Banco de Cooperação Internacional do Japão (JBIC, na sigla em inglês) está disposto a financiar, com juros baixos e prazos longos, R$ 1,286 bilhão para o desenvolvimento de pesquisas, a expansão das lavouras e a construção de unidades industriais dedicadas à produção de etanol e de biodiesel.

Em reunião com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o diretor-executivo do JBIC, Motonori Tsuno, detalhou ontem os planos do governo japonês para financiar o Programa Brasileiro de Agricultura Energética. A exemplo do que fizeram no Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer), peça-chave na transformação da soja em carro-chefe da produção e exportação brasileiras, os japoneses buscam ampliar a oferta dos biocombustíveis para torná-los novas commodities energéticas. As operações seriam desenvolvidas em regiões não-tradicionais para álcool e açúcar, mas dedicados ao etanol. E com o foco em pequenos produtores, dentro do conceito de cluster regionais, que possam associar-se e conviver com o capital estrangeiro. As pesquisas decidirão quais as melhores oleaginosas para o biodiesel.

Como no Prodecer, onde foram investidos US$ 563 milhões, o objetivo é garantir o abastecimento futuro do país asiático. A diferença, porém, está no modelo: preocupado com os problemas financeiros em que afundaram alguns produtores do Prodecer, os japoneses não comprometeram seu capital de risco nas operações. Os empréstimos dependerão da análise de projetos individuais. No Prodecer, que contabilizou dívidas de R$ 500 milhões, o governo japonês garantia as operações.

Num relatório de 320 páginas, os japoneses oferecem R$ 86 milhões quase a fundo perdido para financiar as pesquisas, difusão, capacitação de pessoal e a gestão do programa. Desse total, R$ 30 milhões seriam garantidos às pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Também garantem R$ 520 milhões para o financiamento direto de produtores de cana e de oleaginosas, como soja, algodão, mamona, girassol e palma no Brasil. Além disso, o JBIC oferece R$ 680 milhões para custear a implantação de novas unidades industriais de etanol e biodiesel. Os empréstimos seriam feitos preferencialmente via Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e seus agentes financeiros. Os juros para a ampliação das lavouras, em iene japonês, ficariam entre 0,75% e 1,75% ao ano. Para as usinas, seriam de até 2,75% ao ano. O prazo das duas linhas chegaria a até 35 anos, com dez anos de carência.

De olho no lado bom do Prodecer, que viu nascer cidades e desenvolveu indicadores sociais, gigantes japonesas querem participar da nova etapa de internacionalização dos biocombustíveis. Tradings como Itochu, Marubeni, Sumitomo e Hisho Iwai avaliam o mercado.

O executivo Akira Yokota, da Itochu Corporation, tem conversado com dirigentes da Companhia de Promoção Agrícola (Campo), empresa executora do Prodecer. "Eles querem investir nessa nova etapa", diz o presidente da Campo, Emiliano Botelho. E analisam possíveis locais. "Temos contato com os produtores de 21 projetos em sete Estados e entre as melhores opções poderiam figurar áreas do projeto Jaíba, em Minas; os Tabuleiros Costeiros, na Bahia; ou Pedro Afonso, em Tocantins", revela o presidente do conselho da Campo, Alysson Paulinelli.

Mauro Zanatta - Valor Econômico