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Biodiesel

Entrega de biodiesel à Petrobras do primeiro leilão está atrasada


. - 01 jun 2006 - 06:34 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

A Petrobras adiou para o dia 12 de junho o recebimento de 6,4 milhões de litros de biodiesel, dos 14 milhões contratados para entrega até ontem. Até agora, só 7,6 milhões de litros estão nas mãos da estatal. Das quatro empresas de biodiesel selecionadas no leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP) em novembro — Agropalma, Brasil Ecodiesel, Granol e Soyminas —, apenas uma conseguiu atender ao pedido contratado na primeira entrega.

Segundo a Petrobras, as empresas tiveram problemas com a produção e havia pouco combustível disponível no mercado. Fontes do setor informam que as empresas produziram as quantidades combinadas com a Petrobras, mas elas estão fora da certificação de qualidade exigida e tiveram de reformular a produção.

Enquanto a Petrobras afirma não haver mais biodiesel a ser retirado, as empresas dizem estar com os estoques abarrotados do combustível e que a empresa não o retirou porque enfrenta problemas logísticos.

De um lado, a Petrobras Distribuidora afirma desconhecer problemas logísticos com a armazenagem do biodiesel, pois ela já administra a comercialização de 40 bilhões de litros de diesel por ano. Segundo o diretor de suprimentos da Petrobrás, Edson Nobre, as empresas tiveram dificuldades para honrar os compromissos de fornecimento. “No início do ano, houve problemas com a produção e havia pouco combustível”, afirma. O executivo não detalhou os problemas, mas, segundo fontes do setor, as empresas não produziram as quantidades exigidas pela Petrobras e tiveram problemas com a qualidade do produto.

As empresas se defendem dizendo ter cumprido seus compromissos com a estatal. A Brasil Ecodiesel , do Piauí, já entregou 17% do volume contratado no primeiro leilão. A empresa não entregou o restante porque chegou a parar a fabricação de biodiesel, pois seus estoques ficaram completos. “Falta coordenação na retirada da Petrobras”, afirma o presidente, Nelson Silveira. “Mas todos estão em fase de estruturação para aprender a trabalhar com esse novo combustível e as retiradas foram totalmente normalizadas no mês de maio”, minimiza o executivo. Silveira reconhece que a própria Brasil Ecodiesel enfrentou dificuldades no início da operação. “Foi difícil criar um fluxo de certificação dos produtos”, destaca o presidente da empresa, que garante que hoje as operações estão normalizadas.

A Soyminas, de Cássia (MG), também teve problemas. Fonte da empresa garante que a produção está parada a um mês, pois não há onde estocar o biodiesel. Segundo a mesma fonte, apenas quatro caminhões da Petrobras retiraram o combustível da Soyminas desde o início do ano, totalizando apenas 59 metros cúbicos, dos 8.870 que a empresa precisa entregar até o fim do ano. Mas a Soyminas informou que as retiradas de biodiesel da Petrobras serão retomadas a partir de hoje e que a fábrica volta a operar na segunda-feira.

A Agropalma, do Pará, é a única empresa vencedora do primeiro leilão da ANP que afirma não ter tido problemas com a distribuição para a Petrobras. De acordo com o diretor comercial Marcello Brito, a empresa foi favorecida por já fornecer biodiesel para a BR Distribuidora desde agosto de 2005. “A unidade deles próxima à nossa fábrica em Belém já estava preparada para receber o biodiesel”, comenta Brito. A Agropalma conseguiu cumprir a meta estabelecida no edital do leilão, para a entrega de 20% do total vendido até ontem.

Burocracia

A Granol , de Goiás, ainda não pôde entregar os 18,3 mil metros cúbicos de biodiesel vendidos no leilão da ANP. Mas o problema é com a burocracia da agência, que até agora não liberou a licença de autorização para produção e comercialização de biocombustível à empresa.

Segundo a diretora financeira da Granol, Paula Ferreira, a ANP já deu o aval técnico para a concessão da licença. “O que falta é a chancela do órgão que só pode ser concedida pela diretoria.”

A ANP informa que as licenças precisam da autorização de três diretores, do quadro composto por cinco profissionais. Desde março, a agência conta com apenas dois, mas o órgão informa que o senado deve anunciar nos próximos dias dois novos nomes para os cargos em aberto.

Para tentar resolver a situação, a Granol encaminhou ao departamento jurídico da ANP uma sugestão de concessão de licença ad referendum (sujeita a aprovação posterior). O instrumento permitiria à empresa obter a licença temporariamente, até que o futuro quadro de diretores do órgão estivesse completo. Segundo a empresa, o departamento jurídico da agência ainda não se manifestou sobre o pedido nem deu prazo para isso. A empresa vai aguardar o posicionamento do órgão para decidir o que fazer.

Sem poder entregar o biodiesel à Petrobras, a Granol está com a produção parada desde o dia 16 de maio. Isso porque a capacidade dos estoques está no limite, com cerca de 3 mil metros cúbicos do biocombustível, produzidos em uma planta arrendada na cidade de Campinas (SP). O volume representa um capital imobilizado de aproximadamente R$ 5,7 milhões. “Não temos mais condições de armazenagem e estamos acumulando prejuízos com estoque, com produção e também com custos financeiros”.

A Granol solicitou do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um financiamento de R$ 60 milhões para construir duas plantas de produção de biodiesel em Anápolis (GO) e Cachoeira do Sul (RS). As plantas só entrarão em funcionamento no segundo semestre, com capacidade total para 220 mil metros cúbicos de biodiesel por ano.

Novos Leilões

A Granol não pretende participar de novos leilões da ANP, até que a licença seja concedida. A Agropalma também informou que não vai participar do terceiro leilão se os preços forem fixos, como consta nas regras atuais. “Pode haver muitas flutuações de preço durante um ano e não queremos correr o risco“, diz Brito.

Até dezembro, deverão ser entregues 70 milhões de litros de biodiesel à estatal.

O modelo brasileiro, de qualquer forma, está sendo copiado. A americana Chevron anunciou ontem a criação de uma nova divisão voltada para biocombustíveis. A petrolífera quer operar nos mercados americanos de etanol e biodiesel. A primeira planta de biodiesel da companhia entrará em operação até o final do ano e terá capacidade de produzir 100 milhões de galões de biodiesel por ano. A estratégia reflete o crescimento do mercado americano de biocombustíveis, cuja produção de biodiesel passou de 25 milhões de galões, em 2004, para 75 milhões, em 2005.  

Fonte: Daniel medeiros - DCI