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Agrenco prepara-se para pedir recuperação judicial


Valor Econômico - 22 ago 2008 - 05:40 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:07

A Agrenco, empresa de capital aberto do setor agrícola que está no foco de um escândalo por fraude, prepara-se para pedir recuperação judicial e, com isso, ganhar uma proteção contra os credores que não param de bater às suas portas com faturas vencidas nas mãos. A recuperação judicial ainda não tem uma data certa e, segundo apurou o Valor, não anula as negociações para entrada de um novo controlador na empresa, que continuam em andamento. Ao contrário, devem ser estratégias complementares.

O ideal para a empresa, até por uma questão de imagem, seria acertar com o novo controlador antes do pedido de recuperação judicial. Mas as conversas não parecem caminhar nessa direção. Os acertos para uma empresa assumir a Agrenco ocorrem num ritmo mais lento do que a delicada situação financeira da Agrenco permite suportar. Tudo indica que a recuperação judicial virá mesmo antes.

O JP Morgan, contratado para reestruturar e vender a empresa, tem mantido conversas com cerca de cinco interessados, entre eles, as tradings Louis Dreyfus (francesa), Noble (de Cingapura) e Glencore (suíça). A Dreyfus já chegou a anunciar a compra da empresa e teve exclusividade nas negociações.

Desfecho semelhante teve a crise de outra companhia do setor agrícola, a Sementes Selecta. A empresa pediu recuperação judicial em maio e, no fim de junho, fechou a venda do seu controle para a Los Grobo Agro do Brasil, uma empresa do fundo Pactual Capital Partners (PCP) e da argentina Los Grobo. Os novos donos anunciaram que vão injetar US$ 55 milhões na companhia e assumir uma dívida de US$ 400 milhões, que está sendo renegociada.

Na Agrenco, as cobranças de bancos e fornecedores não param e a empresa já foi alvo de alguns pedidos de falência, que até agora não prosperaram. A companhia tem uma dívida de R$ 1,2 bilhão, sendo que 80% dela vence no curto prazo e seu caixa está praticamente zerado. Diante da ausência de caixa, alguns credores já chegaram a aceitar carregamentos de grãos em pagamento.

Diante dos problemas financeiros, a empresa tem perdido funcionários. Até agora não publicou os resultados do segundo trimestre— o prazo terminou no dia 15 — e alegou que o atraso se deve ao fato de ter perdido muitos funcionários na área de contabilidade e financeira. Havia uma expectativa de que os resultados finalmente saíssem hoje.

A Agrenco já vinha em dificuldades financeiras desde o início do ano, mas as coisas se complicaram para valer quando, em 20 de junho, os três acionistas controladores — Antonio Iafelice, Antônio Augusto Pires Jr. e Francisco Ramos — foram presos na Operação Influenza da Polícia Federal (PF), sob suspeita de crimes como desvio de dinheiro da empresa, fraude de balanço e sonegação fiscal.

Quem está à frente das decisões estratégicas, depois da prisão dos donos, são os conselheiros José Guimarães Monforte, Cássio Casseb e James Wright.

O caso da Agrenco causou especial furor porque a companhia fez parte da leva recente de estreantes na Bolsa de Valores de São Paulo. A companhia captou R$ 666 milhões em outubro do ano passado e a maior parte dos recursos foi usada para pagar um empréstimo com o Credit Suisse, coordenador da oferta, e para capital de giro.

Com os problemas, as ações da Agrenco praticamente viraram pó na bolsa. Desde a oferta pública inicial de ações, em outubro do ano passado, os papéis caíram 90,3%, saindo de R$ 10,40 para R$ 1,01.

Vanessa Adachi, de São Paulo