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Negócio

Tradings de Hong Kong viabilizam importação de diesel russo pelo Brasil


Jornal do Commercio - 20 abr 2023 - 09:30

O balanço publicado pelo ministério da Indústria e Comercio através da Câmara de Comércio Exterior (Camex) relativo ao mês de março trouxe um dado bem curioso. A importação de óleo diesel pelo Brasil chegou a 1,67 milhões de m³, o que representa um salto de 65% sobre o volume de fevereiro quando o Brasil importou um pouco mais de 1,01 milhões de m³ de combustível que, por sua vez, já foi maior que o janeiro com pouco menos de 701 mil m³. O volume de diesel importado em março foi o maior dos últimos seis meses.

Importações de diesel são comuns no Brasil especialmente pela Petrobras. Mas este ano, a maioria das operações foi de empresas distribuidoras privadas que estão se beneficiando dos preços do produto fabricado na Rússia mesmo com as sanções maciças e sem precedentes contra aquele país, em resposta à guerra contra a Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro de 2022, e à anexação ilegal das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Quérson.

Como se sabe, essas sanções da União Europeia começaram desde o segundo dia da invasão e prosseguem até hoje. E elas se juntaram às medidas em vigor impostas à Rússia desde 2014, na sequência da anexação da Crimeia e da não aplicação dos acordos de Minsk.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por sua vez, anunciou a proibição das importações de petróleo, gás e carvão russo para os EUA já no dia 8 de março de 2022. O diesel russo, que no passado servia quase totalmente à Europa, passou a atender à Turquia e países da Ásia, África e América Latina, entre os quais o Brasil.

Isso não quer dizer que os importadores brasileiros estejam comprando direto das refinarias de Putin.

Também vem antes das conversas de Lula com o presidente da China, Xi Jinping e da visita do chanceler russo a Brasília , Serguei Labrov, nas ultimas semanas,

Na verdade, essas importações estão sendo feitas a partir de grandes tradings (Empresas Comerciais Exportadoras) de Cingapura e Hong Kong, que encontraram um meio de contornar as restrições uma vez que elas - por serem chinesas - não reconhecem os embargos e viram uma oportunidade de viabilizar as vendas antes feitas diretamente com tardes russas.
O negócio funciona assim: Empresas brasileiras importadoras de petróleo fecham a compra de navios de óleo diesel pagando a compra com base a cotação do dólar Hong Kong em bancos que operam no Brasil e em Hong Kong.

O negócio é uma espécie de escambo (troca direta de mercadorias) pois os bancos aceitam o pagamento em real de bancos brasileiros, mas fazem uma ordem de crédito equivalente ao valor do contrato a sua agência em Hong Kong como uma operação normal de tesouraria de sua moeda. Como, em Hong Kong, essas agências não está sujeita aos embargos dos demais países ela pode converter esses seus dólares em rublos que são pagos as empresas petrolíferas da Rússia.

Com os contratos fechados, a trading de Hong Kong emite uma ordem de entrega do produto num porto do Brasil (Saupe-PE, Iaqui-MA ou Aratu-BA) contratando um navio de bandeira internacional de modo a que a embarcação não possa ser retida em algum porto se precisar parar nele. A agência brasileira do banco de Hong Kong ou de Cingapura fica com os dólares com a missão de usá-los noutras operações.

Com esse mecanismo, os importadores de óleo diesel na prática estão comprando da China que não está sujeita ou reconhece as sanções. Além disso, as operações de empresas brasileiras foram autorizadas a operar como os bancos da Hong Kong já que não tem contratos com a Rússia, mas uma empresa importadora internacional.

O mecanismo, porém só se tornou interessante porque os preços do produto russo ofertado pelas tradings embutem um grande desconto que torna o produto competitivo no Brasil. Como hoje, segundo a Abicom - entidade que representa as importadoras -, a defasagem média no óleo diesel é de 7%, a operação com os descontos dos russos torna a importação bastante vantajosa para as empresas privadas além de reduzir às necessidades da Petrobras de entregar todo o diesel no mercado interno.

O Preço de Paridade Internacional (PPI) acumula redução de R$0,44/L desde o último reajuste nos preços da Petrobras há 27 dias (23/03/23).

Fernando Castilho – Jornal do Commercio