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Negócio

Silva e Luna lidará com alta no diesel já em maio


BiodieselBR.com - 09 abr 2021 - 10:06

Indicado para comandar a Petrobras, em meio às insatisfações do presidente Jair Bolsonaro sobre os preços dos combustíveis, o general da reserva, Joaquim Silva e Luna, deve assumir a estatal no meio de uma “tempestade perfeita”, que pode deixar o diesel mais caro nas bombas, logo no início de sua gestão. Pressionado, de um lado, por declarações do presidente da República a favor de uma estatal de “visão social” e, de outro, por investidores desconfiados sobre a autonomia da companhia, Luna pode ter de dar resposta imediata sobre o futuro da política de preços.

Os custos mais altos do biodiesel (misturado ao diesel) e o fim da isenção temporária do Pis/Cofins sobre o diesel fazem parte da “bomba armada” que pode encarecer o derivado em R$ 0,67/litro, nas bombas, em maio, segundo a Fecombustíveis. A entidade, que representa os postos, enviou ofício a Bolsonaro, alertando-o para o risco de um possível “estopim” para uma greve dos caminhoneiros. Se confirmada a alta estimada, o litro do derivado pode ficar 15% mais caro para o consumidor.

O custo do biodiesel e o fim da isenção tributária são fatores externos à Petrobras, mas o mercado teme que a estatal abandone o alinhamento à paridade de importação (PPI), para compensar as pressões inflacionárias. O preço praticado pela empresa responde por 55,8% da composição final do custo para o consumidor - seguido das margens de distribuição e revenda (16,1%), impostos (14,3%) e custos do biodiesel (13,8%).

Na quarta-feira, Bolsonaro voltou a criticar os reajustes da Petrobras e, ao discursar ao lado de Silva e Luna, disse que “podemos mudar esta política de preços lá”. A XP Investimentos destacou que as ações da empresa continuarão a sofrer pressões negativas enquanto houver incertezas sobre a nova gestão e sobre o alinhamento dos preços às referências internacionais.

A tendência de alta do diesel pode ser atenuada, a depender da reação do governo. Ainda não há uma posição sobre a renovação da isenção do Pis/Cofins adotada em março e abril - a extensão da medida demandaria, pela Lei de Responsabilidade Fiscal, uma compensação na arrecadação. Com a volta dos impostos, a expectativa é que o litro do diesel encareça R$ 0,30. Sobre o biodiesel, a expectativa é que o governo anuncie um corte na mistura obrigatória ao diesel de 13% para 10%, no 79º leilão de biodiesel - para compra de volumes para maio e junho.

Na terça-feira, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) interrompeu a rodada - sem justificar o motivo - após o preço do biodiesel ofertado chegar a R$ 7,50 por litro - 2,7 vezes mais que o litro do diesel da Petrobras e 59,5% a mais que o valor negociado no leilão anterior. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) alega que a interrupção se deu na etapa das ofertas de pequenas usinas e que a tendência era de que os preços caíssem à medida que os grandes produtores, mais competitivos, negociassem suas cargas.

O biocombustível está mais caro devido à alta do câmbio e do óleo de soja. Já em relação aos preços praticados pela Petrobras para o diesel, as principais influências são o câmbio e a cotação do petróleo. A aproximação do verão no Hemisfério Norte e o avanço da vacinação contra a covid-19 no mundo podem puxar o barril para cima nos próximos meses. “O diesel é sempre muito dependente do PIB, da recuperação das economias e da movimentação de mercadorias no mundo. Mas, mesmo que a tendência no curto e médio prazos seja de uma certa estabilidade, os ciclos do petróleo estão ficando cada vez mais curtos, devido à transição energética”, afirma o diretor de downstream para América Latina da IHS Markit, Felipe Perez.
A consultoria Leggio destaca que os preços do diesel têm subido no mercado global - inclusive acima do patamar do barril do petróleo -, o que pode impactar a estratégia da Petrobras. Desde junho de 2020, o Brent subiu 65%, enquanto o preço do diesel cresceu 82%. “Se o Brasil efetivamente seguir uma política de paridade, a tendência é de novos aumentos no preço no mercado interno ao longo do ano”, diz o sócio da Leggio, Marcus D’Elia.

Para ele, é possível que a Petrobras volte a definir uma periodicidade mínima para os reajustes, mecanismo testado durante a gestão de Ivan Monteiro, em 2018.

A posição de Silva e Luna sobre a política de preços ainda é uma incógnita. O líder da área de petróleo da Stonex, Thadeu Silva, cita que a Petrobras trabalha, neste momento, com um prêmio em relação ao PPI, de R$ 0,14 o litro, o que dá margem para que a empresa atenue - mas não anule - a inflação do diesel. Para ele, os estresses pontuais no abastecimento entre fevereiro e março, quando a estatal praticou preços abaixo do PPI, mostram que o país não pode mais abrir mão das tradings privadas - que por sua vez precisam da garantia de preços alinhados à paridade.

Silva diz que uma saída possível é a Petrobras passar a praticar dois sistemas de preços: um com algum tipo de controle, no mercado em geral, e outro alinhado ao PPI, nos pontos onde há competição maior com importadores privados. Ele também afirma que, se confirmada, a criação do fundo de estabilização, em estudo no governo, pode ajudar a estatal a manter sua independência. “Não há como sair dessa ou sem [o governo e/ou a Petrobras] gastar dinheiro ou sem deixar o consumidor triste.”

“Luna chega num momento difícil, precisará se posicionar sobre a política de preços. Acredito que ele vá honrar manter os preços alinhados ao PPI. Se não, haverá uma reação dos acionistas”, diz Sérgio Araújo, presidente da Abicom, representante dos importadores.

André Ramalho e Gabriela Ruddy – Valor Econômico