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Negócio

Sanções à Rússia mudam mapa de fornecedores de diesel ao Brasil


Valor Econômico - 02 fev 2023 - 09:06

O perfil das importações brasileiras de diesel pode mudar com a entrada em vigor de novas sanções da União Europeia à Rússia, que vão incluir embargos a derivados de petróleo a partir de domingo (5). A menor disponibilidade de diesel no mercado internacional, fruto das restrições, deve levar países importadores, como o Brasil, a diversificarem a sua base de fornecedores. Arábia Saudita e Emirados Árabes podem ser alternativas a fornecedores tradicionais como os Estados Unidos. As sanções podem fazer com que os EUA, principal supridor de diesel para o Brasil, prefiram vender mais para a Europa, que pode pagar mais pelas cargas.

A demanda por diesel no Brasil em 2023 ainda é incerta, mas a tendência é que os importadores continuem a buscar diversificação de supridores: “Com o embargo, pode haver menor disponibilidade de diesel no mercado internacional e o Brasil pode ter que partir em busca de novos fornecedores”, diz Bruno Cordeiro, analista de petróleo e gás da consultoria StoneX.

O consultor afirma que a diversificação de supridores de derivados é positiva para a segurança do abastecimento brasileiro em cenário em que a oferta no mundo está apertada desde o ano passado. “O Brasil está recorrendo aos países que têm conseguido exportar mais”, diz. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem interesse em encontrar formas de reduzir o preço dos combustíveis aos consumidores finais, tema que também foi prioridade da administração Bolsonaro.

Em média, 25% do diesel consumido no Brasil é importado, pois as refinarias nacionais conseguem atender apenas 75% da demanda do país. Os volumes vindos do exterior são destinados principalmente para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Com as sanções na Europa, mais volumes da Rússia poderão desembarcar no Brasil dependendo da remodelação global e do nível de desconto no diesel russo”, acrescenta Felipe Perez, diretor da consultoria S&P Global Commodity Insights. Por outro lado, podem existir maiores dificuldades de compras brasileiras de derivados russos como consequência das sanções, uma vez que as medidas impactam operações de financiamento e o fechamento de seguros para trazer essas cargas ao Brasil. “O mercado está se organizando para entender qual vai ser o real impacto das sanções europeias”, diz Cordeiro, da Stonex.

Ao todo, o Brasil importou, no ano passado, 13,4 milhões de toneladas de diesel, alta de 10,5% na comparação anual, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Historicamente, a maior parte do combustível importado pelo Brasil vem dos Estados Unidos, o que se manteve em 2022 quando empresas americanas forneceram 7,7 milhões de toneladas de diesel ao Brasil. Depois dos Estados Unidos vieram a Índia e os Emirados Árabes Unidos.

Em 2022 o Brasil quadruplicou as importações de diesel da Rússia. Apesar desse aumento, a participação russa no suprimento brasileiro de diesel segue pequena e correspondeu, no ano passado, a 0,8% do total do produto internalizado no país, de acordo com a Secex. Em 2021, foram 24,9 mil toneladas de diesel comprado da Rússia, volume que chegou a 101,9 mil toneladas em 2022, segundo a Secex.

O crescimento da importação Russa, em 2022, foi, na visão de especialistas, uma busca do Brasil por diversificar as fontes, depois que a relação entre oferta e demanda ficou mais apertada no mercado internacional, efeito da guerra da Ucrânia, que completa um ano neste mês.

O suprimento global de diesel sofre com a combinação de alguns fatores. Um é a retomada da demanda depois das restrições adotadas na pandemia. Nos últimos meses, cresceu a diferença entre as cotações do petróleo cru e do diesel, conhecida pela expressão em inglês “crack spread”, uma medida do lucro das refinarias. “Esse valor [o crack spread] está elevado desde o início da guerra pela preocupação com o papel da Rússia no mercado. Vai ser difícil ver isso voltar aos patamares de antes da guerra”, afirma o analista da StoneX.

No ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que tinha intenção de aumentar as compras de diesel russo para reduzir os preços no Brasil depois que a Rússia passou a sofrer sanções dos Estados Unidos e União Europeia. A chegada das cargas de diesel russo ao território brasileiro ocorreu principalmente em outubro, segundo especialistas. O período que coincide com as eleições presidenciais.

O aumento das compras da Rússia substituiu a queda nos volumes do Reino Unido, Alemanha e Bélgica. Além disso, países que supriram o Brasil em 2021 deixaram de participar em 2022, casos de Malásia, China, Itália e Japão.

A Petrobras afirma que compra diesel dos “principais países exportadores”, como Estados Unidos, Índia e Emirados Árabes Unidos. Em 2022, até setembro, a estatal importou em média 114 mil barris por dia (barris/dia) de diesel, volume pouco menor do que em igual período no ano anterior, quando foi de 118 mil barris/dia. Os dados anuais ainda não foram divulgados.

De acordo com analistas, a compra do diesel russo para abastecimento brasileiro ocorreu sobretudo por empresas pequenas, e não pelas grandes distribuidoras, que são responsáveis pelos maiores volumes. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) emitiu ao todo 484 licenças para importações de combustíveis da Rússia em 2022, mas o principal produto refinado importado foram misturas betuminosas. A ANP não informa quais empresas com licenças aprovadas de fato realizaram as operações.

Perez, da S&P Global Commodity Insights, diz que a maioria das grandes importadoras brasileiras prefere evitar lidar com o combustível russo por causa da sensibilidade das sanções europeias e americanas. “No entanto, não há nenhuma restrição em vigor, no momento, por parte das autoridades brasileiras e reguladores para a importação de diesel russo”, afirma.

Gabriela Ruddy – Valor Econômico