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Negócio

Refino no país atrai mais os grupos chineses


Valor Econômico - 25 jul 2017 - 10:57

Em vigor desde o início do mês, a nova política de preços dos combustíveis da Petrobras, com ajustes diários, mais aderente ao mercado internacional, é considerada fator de atratividade para a entrada de novos investidores no setor de refino brasileiro. As principais petroleiras privadas do país, porém, ainda são tímidas com relação à possibilidade de investir em refino no Brasil. 

Os maiores acenos privados para o setor de refino brasileiro têm vindo da Ásia. Neste mês, o Valor apurou que a CNPC, sócia da Petrobras em Libra, negocia com a estatal uma parceria para a retomada das obras da refinaria do Comperj, no Rio de Janeiro. A negociação se dá no âmbito do memorando de entendimentos assinado pelas duas empresas no início do mês.

Uma primeira análise indicava que grandes petrolíferas globais, conhecidas como "majors", já instaladas no Brasil e que possuem produção crescente de petróleo no país, inclusive no pré-sal, fossem naturalmente as principais candidatas a adquirir ou construir refinarias aqui. Diante disso, abre-se mais espaço para os chineses.

Como hoje não há novos projetos do tipo em construção no Brasil, o país deverá aumentar a importação de derivados de petróleo, com a provável retomada da economia nos próximos anos.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), da produção nacional de petróleo, de 2,65 milhões de barris diários, as empresas privadas respondem por 22%. A tendência é de aumento desse percentual no futuro, com a maior participação das companhias sobretudo no pré-sal. Ao mesmo tempo, há uma perspectiva de aumento da importação de derivados de petróleo nos próximos anos por não haver novos projetos de refino atualmente no país.

"Não temos projetos de refinaria em andamento. Se a economia crescer, a demanda de derivados vai crescer. Vamos ter que importar derivados. E numa escala crescente ser mais exportadores de petróleo e importadores de derivados", diz o diretor-geral da ANP, Décio Oddone. "Mesmo existindo capacidade de refino ociosa no mundo, vai fazer sentido econômico, em determinado momento, se pensar em ampliação da capacidade [de refino no Brasil]", completou ele, explicando que os custos de frete de exportação de óleo e importação de derivados superam a margem de refino.

Em âmbito global, no entanto, as grandes petroleiras têm reduzido investimentos em refino e se concentrado em exploração e produção (E&P), devido ao cenário atual. "Hoje, algumas não têm braço de distribuição [de combustíveis] no Brasil", acrescenta Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Um exemplo foi a saída da ExxonMobil do setor de distribuição de combustíveis do brasileiro, em 2008.

A Shell, maior petroleira privada do país em produção de petróleo, cerca de 300 mil barris diários (ou 11,2% da produção brasileira), não descarta investimentos em qualquer segmento da indústria petrolífera, mas reforça que sua prioridade no Brasil é o E&P.

"A Shell está sempre atenta a oportunidades de aprimorar seu portfólio em todo o mundo. No entanto, neste momento, a prioridade da Shell no Brasil é exploração e produção de petróleo, especialmente em águas profundas", informou a Shell, em nota, ao Valor. A múlti tem 20% do campo gigante de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos. Os demais sócios são Petrobras (40%), Total (20%) e as chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%).

A postura da Shell é semelhante à da norueguesa Statoil, que também tem atuação relevante no setor de E&P do país. "Para a Statoil, o segmento de refino não é prioridade no momento, já que o foco da empresa é em E&P e no mercado de gás", informou a companhia.

Neste mês, a Statoil anunciou a compra de 10% da QGEP no bloco BM-S-8, onde está o prospecto de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos, por US$ 379 milhões, ampliando sua fatia na área para 76%. Em 2016, a empresa já havia adquirido 66% da Petrobras no negócio (o primeiro desinvestimento da estatal no pré-sal), por US$ 2,5 bilhões. Os demais sócios são Petrogal Brasil (14%) e Barra Energia (10%).

Outra importante empresa com participação no pré-sal, a espanhola Repsol não tem atividade de refino atualmente no Brasil, apesar de ter sido a única privada a investir no setor 20 anos atrás quando ficou com 30% da Refap (RS) em uma troca de ativos com a Petrobras na Argentina. A empresa também teve participação na refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro.

Ressaltando que não tem dados para falar sobre refino no país, o presidente da Repsol Sinopec Brasil, Leonardo Junqueira, lembrou que a empresa tem participação relevante na Península Ibérica. Quando questionado sobre o possível interesse em uma volta ao setor no Brasil, ele disse que preferia se abster de comentar o assunto.

O ex-diretor-geral da ANP e consultor David Zylbersztajn, diz que a nova política de preços da Petrobras abre um leque de possibilidades de investimentos privados no refino no país. A opinião é a mesma de Renato Kloss, sócio do setor regulatório e de infraestrutura do Siqueira Castro Advogados. Para ele, a intervenção na prática de preços dos combustíveis no passado, tanto para cima quanto para baixo, ainda que pudesse ter algum fundamento, era artificial.