Opep+ aumentará produção de petróleo até dezembro; mas pausa em 2026
A Opep+ decidiu retomar parte da produção de petróleo em dezembro. Mas suspenderá novos aumentos entre janeiro e março de 2026, diante da perspectiva de um excesso de oferta global.
A medida, anunciada neste domingo, 2, em reunião por videoconferência, reflete o esforço do grupo para equilibrar sua fatia de mercado com os sinais de enfraquecimento da demanda.
O movimento ocorre em meio a alertas da indústria sobre a formação de um excedente no mercado global de petróleo.
Grandes tradings, como o Grupo Trafigura, já indicam um acúmulo de barris em navios-tanque, enquanto a Agência Internacional de Energia, sediada em Paris, projeta um excedente superior a 3 milhões de barris por dia ainda neste trimestre — com possibilidade de crescimento em 2026.
Desde o início do ano, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados, conhecida como Opep+, vem restaurando progressivamente a produção de 1,65 milhão de barris por dia que havia sido suspensa.
Parte dessa oferta foi retomada com mais rapidez no primeiro semestre, antecipando volumes inicialmente previstos para 2026, segundo informações da Bloomberg.
O mercado então reagiu com instabilidade. Os contratos futuros do petróleo Brent recuaram 13% no ano, encerrando a última sexta-feira abaixo de US$ 65 o barril.
O impacto das sanções dos Estados Unidos contra os dois maiores produtores russos em outubro e a trégua tarifária entre Washington e Pequim atenuaram temporariamente as perdas.
Na reunião conduzida pela Arábia Saudita neste domingo, a coalizão aprovou a liberação de cerca de 137 mil barris por dia no próximo mês, mantendo o ritmo de recuperação previsto para os últimos dois meses.
A pausa nos acréscimos futuros, segundo um delegado da organização, leva em conta a demanda sazonalmente mais fraca do primeiro trimestre.
Impacto orçamentário e geopolítico
A reunião da Opep+ também foi influenciada por fatores geopolíticos. As sanções americanas à Rússia, copresidente da aliança, ainda não foram totalmente absorvidas pelo mercado.
Segundo um delegado, é cedo para avaliar efeitos. Paralelamente, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, deve visitar Washington ainda este mês para se reunir com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem pressionado o grupo a conter os preços dos combustíveis.
Apesar das decisões da Opep+, parte dos membros do grupo tem dificuldades técnicas para aumentar a produção e outros seguem compensando excessos passados, limitando o efeito prático dos anúncios.
A estratégia saudita, que priorizou fundamentos de mercado e níveis baixos de estoque para justificar o aumento da oferta ao longo do ano, enfrenta pressões internas.
O déficit fiscal do reino aumentou no terceiro trimestre e alguns projetos estratégicos, como a cidade planejada de Neom, sofreram cortes de investimento.
Nos Estados Unidos, maior fonte de crescimento da oferta em 2025, o setor de petróleo de xisto também enfrenta desafios. Com redução nos investimentos e alertas de executivos sobre um "ponto de inflexão", o crescimento deve estagnar até 2026, segundo projeções.
A próxima reunião da Opep+ está marcada para 30 de novembro, quando será revisada a política de produção para o ano seguinte.
Mateus Omena – Exame