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Oferta limitada deve levar preço do petróleo aos US$ 90


Valor Econômico - 16 ago 2023 - 09:19

Embora preocupações com o enfraquecimento da economia chinesa tenham derrubado os preços do petróleo nos últimos dias, em meio a receios de uma queda na demanda da commodity pelo maior importador mundial, o sentimento de economistas de grandes bancos europeus e dos EUA é de que fundamentos construtivos irão fazer com que o petróleo termine o ano em patamares mais elevados que os atuais e sigam em torno de US$ 90 em 2024.

“Vemos fatores do lado da oferta como mais importante para a dinâmica do mercado do que os de demanda e destaco três em particular: o gerenciamento proativo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em relação à produção, a decisão da Rússia em cortar a oferta e uma pausa dos Estados Unidos no uso de suas reservas estratégicas”, afirmou Jianwen Sun, estrategista de investimento quantitativo do banco suíço Lombard Odier, em entrevista ao Valor.

Nos últimos meses, a redução de oferta da Opep - juntamente com cortes voluntários unilaterais da Arábia Saudita - cortou a disponibilidade do óleo para cerca de 30 milhões de barris diários, o que impactou positivamente os mercados de petróleo. Mesmo com as quedas registradas nesta semana, os preços do petróleo WTI - referência americana - registram alta de 5,26% em 2023 e de 7,43% apenas em agosto, em torno de US$ 80 por barril. Já os preços do petróleo Brent, referência mundial, sobem 2,74% no ano e 6,57% neste mês a US$ 85 por barril.

“A oferta mundial do petróleo irá ficar ainda mais limitada no terceiro e quarto trimestres, com déficits expressivos no terceiro trimestre”, diz Sun. Ele cita que a Rússia está tendo um incentivo para cortar sua oferta. “O aumento dos preços do petróleo de exportação da Rússia de maior qualidade tirou a motivação dos compradores dos mercados emergentes pelo petróleo russo. Para voltar a ter poder de barganha, a Rússia agora está mais engajada em cumprir totalmente com os cortes de produção anunciados”, disse.

Além disso, Sun lembra que depois de jogar no mercado uma média de 450 mil barris diários de óleo nos últimos 18 meses, os EUA pausaram o uso de suas reservas estratégicas, removendo uma fonte de oferta. “Nós não podemos descartar também riscos geopolíticos. Além da guerra da Ucrânia, problemas no oeste e norte da África podem atingir países produtores que não são membros da Opep. Tudo isso pode limitar a oferta de petróleo e deixar o mercado ainda mais apertado.”

O economista também cita a redução dos temores de recessão, com a demanda de países emergentes mostrando-se resiliente, o que deve elevar a demanda global para um recorde neste terceiro trimestre. Segundo ele, os preços devem ser negociados entre US$ 80 a US$ 90 por barril no médio prazo, podendo chegar aos US$ 100 se houver um choque de oferta expressivo.

O Goldman Sachs está projetando para este terceiro trimestre um déficit diário de 2,3 milhões de barris, recorde histórico, fruto de uma oferta de 100,6 milhões de barris diários e demanda superior, de 102,9 milhões. O banco também projeta déficits de oferta tanto em 2023 como em 2024, respectivamente de 400 mil barris diários e 600 mil barris. Daan Struyven, economista do Goldman, projeta um preço de US$ 93 por barril para o segundo trimestre de 2024. Segundo ele, apesar do aumento do déficit, a elevação da capacidade ociosa da Opep, a expansão dos projetos offshore e o declínio dos custos de produção dos EUA podem limitar a alta dos preços.

Já Francisco Blanch, estrategista de commodities do Bank of America (BofA) projeta um preço de US$ 90 para o Brent e de US$ 85 para o barril de WTI em 2024 - US$ 5 acima do preço atual. Segundo ele, os cortes da Opep farão com que os estoques caiam em 5,3 milhões diários. Mesmo com o enfraquecimento da China, este crescimento deve guiar o aumento do crescimento da demanda tanto em 2023 como em 2024.

Blanch espera um crescimento na demanda global de 1,9 milhão de barris diários em 2023 e de 1,06 milhão de barris diários em 2024. “Acreditamos, contudo, que as condições de demanda têm ainda que melhorar materialmente para registrar uma alta sustentada acima de US$ 100 para o Brent”, afirma.

Segundo ele, embora as tendências globais de demanda para 2024 possam impulsionar ainda mais os preços, o BofA está cauteloso. “Nossos economistas aumentaram a expectativa para o PIB global para 3% em 2023 e para 2,8% em 2024”, explica. Porém, o crescimento ficará abaixo dos 3,5% a 4% necessários para compensar os cortes da Opep.

A estratégia de cortar a produção da Opep tem riscos, contudo. Norbert Rücker, economista do banco suíço Julius Baer, acredita que a política de cortar artificialmente a oferta feita pela Opep não está em um equilíbrio estável. “Interesses divergentes entre os produtores e o descontentamento dos preços inflados artificialmente entre os compradores podem eventualmente afetar a estratégia da Opep”, afirma.

Eduardo Magossi – Valor Econômico