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Negócio

Margens de refino retornam aos patamares pré-guerra


epbr - 30 mai 2023 - 10:03 - Última atualização em: 07 jun 2023 - 09:24

A invasão da Ucrânia pela Rússia, que fez disparar os preços do petróleo e dos combustíveis em meados de 2022, perdeu seus efeitos no mercado de combustíveis, com as margens de refino voltando às tendências de longo prazo, de acordo com a análise da Wood Mackenzie.

A expectativa é de margens abaixo das médias em 2024 e que a “lucratividade do refino será muito menor nos próximos trimestres”.

A análise é assinada por Simon Flowers, chairman e analista chefe, com os executivos e analistas Alan Gelder, Mark Williams e Sushant Gupta.

A tempestade perfeita

A invasão da Rússia à Ucrânia desencadeou a “tempestade perfeita”, na esteira da falta de investimento em novas refinarias e do fechamento de unidades mais antigas durante a pandemia. Deixou o setor de refino vulnerável a um choque de oferta.

As sanções impostas às negociações com a Rússia criaram uma expectativa de bloqueio ao petróleo e derivados russos, agravando o impacto nos preços, segundo os analistas.

No caso do Brasil, o resultado mostrou-se o oposto este ano: sem alinhamento com os países da União Européia e os Estados Unidos, em relação às sanções, o Brasil elevou a participação do diesel russo, mais barato, no suprimento externo.

Em abril, a Rússia superou os EUA como principal fornecedor brasileiro.

Margens de refino desequilibradas

As margens de refino subiram para quase 10 vezes a média de cinco anos. Indicador global da Wood Mackenzie atingiu US$ 25 por barril em junho de 2022.

Este ano, essa cesta de produtos recuou 70% em relação aos picos de 2022, em abril, chegando a cair abaixo da média histórica de cinco anos em alguns momentos.

O choque levou a “variações regionais significativas” das margens, a depender de estoques, acesso a matérias-primas, produtos e configurações de refinarias, destaca a consultoria.

“No Noroeste da Europa, o diesel/óleo combustível foi negociado a quase US$60/bbl acima do Brent, comparado com um ‘normal’ de US$16/bbl; enquanto os preços médios mensais da gasolina nos EUA ficaram quase US$40/bbl acima do Brent no verão de 2022, comparado com US$11/bbl antes da crise”.

Isto é, mais do que a disparada dos preços do petróleo cru, o momento foi marcado por um aumento ainda maior dos derivados, como gasolina e diesel.

Os refinadores dos EUA foram “máquinas de imprimir dinheiro” em 2022, contribuindo para os lucros recordes no downstream para empresas independentes e integradas, comparam os analistas.

“Em contraste, os preços altíssimos atingiram duramente o bolso dos consumidores e aumentaram a preocupação crescente dos governos com a inflação”.

Causas e efeitos da rápida queda nos preços

Para frente, a queda nas margens pode levar os refinadores com refinarias mais simples na Ásia e na Europa a cortar as taxas de utilização nos próximos meses, avalia a Wood Mackenzie.

Segundo a publicação, a queda dos preços dos produtos foi rápida por diversas razões: o banimento de supridores russos não se materializou; o inverno mais ameno no Hemisfério Norte e uma economia global fraca reduziu os preços do petróleo; e novas refinarias entraram em operação.

As exportações de petróleo da Rússia conseguiram encontrar compradores, especialmente na Turquia, Índia e China, que aproveitaram para importar petróleo russo com desconto.

A Rússia também encontrou mercado para seus produtos no Norte da África, Turquia, Oriente Médio e América Latina.

“No geral, os volumes de exportação russos permaneceram estáveis, apesar da imposição de sanções e proibições”.

Os preços do Brent são negociados abaixo de US$ 80 por barril – chegaram a superar os US$ 120 em junho de 2022

“A economia global hesitante e as preocupações em torno do setor bancário dos EUA, o teto da dívida dos EUA e a recuperação da China, percebida como mais lenta do que o esperado após o lockdown, combinaram-se para pesar sobre o sentimento do mercado nos últimos meses”, escreve a Wood Mackenzie.

Segundo cálculos da consultoria, mais de 800 mil barris/dia de capacidade de refino entraram em operação no final do ano passado, e outros 1,5 milhão de barris/dia estão programados para 2023.

“O mercado está muito menos vulnerável a quaisquer novos choques de oferta”, conclui a publicação, com o alerta que ainda há incertezas, tanto com a aceleração, como ocupação dessa nova capacidade de refino, a partir do crescimento da demanda nos próximos 18 meses.