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Negócio

Importação de derivados ganha espaço no País, enquanto Petrobrás reduz produção


O Estado de S.Paulo - 15 out 2020 - 09:37

Ao mesmo tempo em que avança na extração de petróleo no pré-sal, o Brasil está utilizando cada vez menos suas refinarias para processar petróleo e produzir derivados, entre eles os combustíveis automotivos gasolina e óleo diesel, segundo dados da petrolífera British Petroleum (BP), que acompanha o comportamento do mercado no mundo todo.

Isso acontece porque o consumo interno de derivados esteve em queda na média dos últimos cinco anos e também porque importadores estão tomando parte do mercado dominado pela Petrobrás.

A produção de derivados nas refinarias da estatal encolheu 16%, de 2014 a 2019. De acordo com a BP, passou de 2 milhões de barris por dia (bpd) para 1,75 milhão de bpd no período. Essa queda foi parcialmente compensada pelo aumento das importações, que cresceram 9%, saindo de 490 mil bpd para 550 mil bpd, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (ANP).

Estudo do coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás (Ineep), William Nozaki, revela um aumento de 30% no número de empresas importadoras autorizadas a operar no Brasil, de 2015 a 2017. A maior parte delas estrangeiras.

Nozaki argumenta que uma combinação de fatores explica essa mudança no mercado interno de derivados de petróleo. A primeira delas é a política da Petrobrás de equiparar seus preços aos do mercado internacional. Com isso, em geral, seus produtos custam tanto quanto os importados e, em alguns momentos, podem sair até mais caros. A estatal também está usando menos suas refinarias do que no passado e ainda optou por vender ativos do segmento de produção e abastecimento de combustíveis, o que significa que está encolhendo sua atuação nessas áreas.

Presidente da Abicom, representante das empresas importadoras de gasolina e óleo diesel, Sérgio Araújo diz que a entrada de combustíveis no Brasil começou a crescer em 2016, mas, nessa época, a maior parte da importação ainda era liderada pela Petrobrás. No ano seguinte, no entanto, à medida que a estatal alinhava seus preços aos das principais bolsas de negociação da commodity do mundo, a iniciativa privada ganhou espaço.

"Neste momento, não há oportunidade de os importadores concorrerem com a petrolífera, que tem novamente dominado o abastecimento interno", disse Araújo.

Desempenho fraco

Segundo a BP, a retração do refino no Brasil, nos últimos cinco anos, foi uma das maiores registradas no mercado internacional. Entre os 65 países que refinam ao menos 100 barris por dia de petróleo, o Brasil apresentou o quinto menor desempenho, atrás apenas da Venezuela, México, Bielorrússia e Kuwait.

Mas, diferentemente do que aconteceu nos vizinhos latino-americanos Venezuela e no México, no caso brasileiro, a contração do refino não está relacionada à queda na extração de petróleo. As sanções sofridas pela Venezuela e a dificuldade da estatal mexicana Pemex em explorar novos campos têm dificultado a recuperação da indústria petroleira dos dois países. De 2014 a 2019, a produção venezuelana de petróleo caiu 65,9% e a mexicana, 31,1%. Na contramão, a produção brasileira subiu 22,9%.

A BP ainda revela que, no universo de 65 pesquisados para a elaboração das estatísticas, 47 registraram crescimento do processamento de petróleo, de 2014 a 2019. No grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), somente Brasil e Rússia tiveram uma performance negativa. A China apresentou crescimento de 32,3%, a Índia, de 14,4%, e a África do Sul, de 3,1%.

Também boa parte dos países europeus, que têm liderado o processo de transição energética e fomentado o menor uso de combustíveis fosseis, apresentou expansão na produção de derivados, no período. Na Espanha, na Grécia, na Holanda e na Itália, por exemplo, esse aumento superou a casa dos 10%.

Fernanda Nunes – O Estado de S.Paulo