Em mês volátil, Brent mais caro reforça tendência de reajustes da Petrobras
Outubro foi um mês marcado pela volatilidade nos preços do petróleo no mercado internacional. Mas ao contrário do que se viu nos meses anteriores, em que a cotação teve trajetória de queda, os preços mudaram a direção, chegando a se aproximar dos US$ 100. Em paralelo, a Petrobras reteve reajuste de preços à espera de uma estabilização do cenário externo, sem repetir a rapidez com que repassou a queda das cotações do barril para o mercado nacional.
A queda dos preços dos combustíveis foi utilizada na campanha pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), em sua busca pela reeleição, embora a companhia sempre tenha afirmado que a decisão de reajuste é técnica, em linha com a política da paridade de preços internacional (PPI), baseada em fatores econômicos, como a própria cotação internacional do Brent e o dólar.
O primeiro contrato do barril do tipo Brent, com vencimento em dezembro deste ano, teve valorização de 7,81% no mês de outubro, cotado a US$ 94,83, já considerado o valor do fechamento de ontem. O segundo contrato, com vencimento em janeiro de 2023, teve valorização de 9,01%, valendo US$ 92,81, de acordo com dados do Valor Data.
Um sinal da volatilidade intensa dos preços se deu no dia 7 de outubro, quando o primeiro contrato do barril do tipo Brent, registrou a cotação de US$ 97,92 enquanto o segundo apurou US$ 95,89. Ambos tiveram a maior alta diária no mês, de 3,71% e 3,47%, respectivamente.
A volatilidade prosseguiu nos dias seguintes para os dois contratos até o fechamento do mês. No dia 1º de outubro, os preços eram de US$ 88,86 para o contrato com vencimento em dezembro e de US$ 86,94 para o contrato com vencimento em janeiro.
Esse cenário de instabilidade é resultado de fatores como a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, as incertezas sobre a guerra na Ucrânia, especialmente na Europa, e notícias sobre uma eventual retração de atividades econômicas na China por causa da política de tolerância zero para a covid-19, entre outros motivos.
Atualmente a defasagem entre os preços internos e o mercado externo é de 16% para a gasolina e de 25% para o óleo diesel, o que corresponderia a uma elevação média de R$ 0,63 por litro de gasolina vendida nas refinarias e de R$ 1,62 por litro de diesel, segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom).
A defasagem verificada pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) é semelhante: os preços internos da gasolina estão 18,4% abaixo da paridade, ao passo que o óleo diesel está com defasagem de 27,8%.
Para o presidente-executivo da Abicom, Sérgio Araújo, a tendência é de alta nos preços, considerando que o chamado “crack spread” (diferença entre a cotação do combustível em relação ao óleo cru) é ainda maior, já que as margens de refino estão bastante acima do usual. Esse viés de alta é mais visível no óleo diesel, combustível que tem sido usado como substituto do gás natural no aquecimento de ambientes - um dos efeitos da suspensão do fornecimento do gás russo à Europa.
“O reajuste é importante para se ter viabilidade das importações, de modo a reduzir o risco de desabastecimento”, disse o presidente-executivo da Abicom.
Rodrigo Leão, coordenador do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), afirmou que a Petrobras não deve seguir a PPI nos últimos dois meses do mandato de Jair Bolsonaro, considerando o perfil da atual diretoria e conselho. Ele destaca que é uma incógnita como o governo atual vai querer entregar a petroleira para os próximos integrantes, após o desfecho eleitoral, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além disso, avalia Leão, o mercado não está preocupado no momento com a defasagem dos combustíveis, mas observando qual devem ser as indicações que o novo governo poderá fazer para a Petrobras, bem como as novas diretrizes executivas para a empresa. “O mercado está de olho no que o governo vai fazer com a companhia e com o setor”, afirmou Leão.
Fábio Couto – Valor Econômico