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Negócio

Em mês volátil, Brent mais caro reforça tendência de reajustes da Petrobras


Valor Econômico - 01 nov 2022 - 12:30

Outubro foi um mês marcado pela volatilidade nos preços do petróleo no mercado internacional. Mas ao contrário do que se viu nos meses anteriores, em que a cotação teve trajetória de queda, os preços mudaram a direção, chegando a se aproximar dos US$ 100. Em paralelo, a Petrobras reteve reajuste de preços à espera de uma estabilização do cenário externo, sem repetir a rapidez com que repassou a queda das cotações do barril para o mercado nacional.

A queda dos preços dos combustíveis foi utilizada na campanha pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), em sua busca pela reeleição, embora a companhia sempre tenha afirmado que a decisão de reajuste é técnica, em linha com a política da paridade de preços internacional (PPI), baseada em fatores econômicos, como a própria cotação internacional do Brent e o dólar.

O primeiro contrato do barril do tipo Brent, com vencimento em dezembro deste ano, teve valorização de 7,81% no mês de outubro, cotado a US$ 94,83, já considerado o valor do fechamento de ontem. O segundo contrato, com vencimento em janeiro de 2023, teve valorização de 9,01%, valendo US$ 92,81, de acordo com dados do Valor Data.

Um sinal da volatilidade intensa dos preços se deu no dia 7 de outubro, quando o primeiro contrato do barril do tipo Brent, registrou a cotação de US$ 97,92 enquanto o segundo apurou US$ 95,89. Ambos tiveram a maior alta diária no mês, de 3,71% e 3,47%, respectivamente.

A volatilidade prosseguiu nos dias seguintes para os dois contratos até o fechamento do mês. No dia 1º de outubro, os preços eram de US$ 88,86 para o contrato com vencimento em dezembro e de US$ 86,94 para o contrato com vencimento em janeiro.

Esse cenário de instabilidade é resultado de fatores como a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, as incertezas sobre a guerra na Ucrânia, especialmente na Europa, e notícias sobre uma eventual retração de atividades econômicas na China por causa da política de tolerância zero para a covid-19, entre outros motivos.

Atualmente a defasagem entre os preços internos e o mercado externo é de 16% para a gasolina e de 25% para o óleo diesel, o que corresponderia a uma elevação média de R$ 0,63 por litro de gasolina vendida nas refinarias e de R$ 1,62 por litro de diesel, segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom).

A defasagem verificada pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) é semelhante: os preços internos da gasolina estão 18,4% abaixo da paridade, ao passo que o óleo diesel está com defasagem de 27,8%.

Para o presidente-executivo da Abicom, Sérgio Araújo, a tendência é de alta nos preços, considerando que o chamado “crack spread” (diferença entre a cotação do combustível em relação ao óleo cru) é ainda maior, já que as margens de refino estão bastante acima do usual. Esse viés de alta é mais visível no óleo diesel, combustível que tem sido usado como substituto do gás natural no aquecimento de ambientes - um dos efeitos da suspensão do fornecimento do gás russo à Europa.

“O reajuste é importante para se ter viabilidade das importações, de modo a reduzir o risco de desabastecimento”, disse o presidente-executivo da Abicom.

Rodrigo Leão, coordenador do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), afirmou que a Petrobras não deve seguir a PPI nos últimos dois meses do mandato de Jair Bolsonaro, considerando o perfil da atual diretoria e conselho. Ele destaca que é uma incógnita como o governo atual vai querer entregar a petroleira para os próximos integrantes, após o desfecho eleitoral, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Além disso, avalia Leão, o mercado não está preocupado no momento com a defasagem dos combustíveis, mas observando qual devem ser as indicações que o novo governo poderá fazer para a Petrobras, bem como as novas diretrizes executivas para a empresa. “O mercado está de olho no que o governo vai fazer com a companhia e com o setor”, afirmou Leão.

Fábio Couto – Valor Econômico