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Negócio

Diesel bate recorde com valor acima de R$ 5,00


Valor Econômico - 22 out 2021 - 10:01

Ao acenar para a criação de um auxílio para ajudar 750 mil caminhoneiros autônomos a compensar a inflação do diesel, o presidente Jair Bolsonaro tenta esfriar os ânimos da categoria, que ameaça entrar em greve num momento em que o preço do derivado bate recordes nas bombas. Nas últimas semanas, o preço médio do produto S-10, com menor teor de enxofre, rompeu, pela primeira vez, o patamar de R$ 5 o litro.

Para efeitos de comparação, em maio de 2018, quando eclodiu a grande greve dos caminhoneiros, em protesto contra a alta do combustível, o litro do S-10 custava, em média, R$ 3,715 – ou R$ 4,473, se corrigido pela inflação. O diesel com 10 partes por milhão de enxofre, que representa metade da produção de diesel da Petrobras, caminha para atingir, em outubro, o seu patamar mais alto, tanto em valores nominais quanto reais (ajustado à inflação), desde quando começou a ser comercializado no país, em 2012, em substituição ao S-500, mais poluente, aponta o monitor de preços do Observatório Social da Petrobras (OSP).

O OSP é uma entidade de pesquisa é ligada à Federação Nacional dos Petroleiros, ao Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais e ao Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos. De acordo com a organização, o preço do S-10 já havia batido recorde no país, em setembro, quando foi negociado, em média, a R$ 4,772. A série histórica dos preços tem início em dezembro de 2012. O monitoramento toma como base a pesquisa da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que mostra que o litro do S-10 foi vendido na primeira quinzena de outubro, em média, a R$ 5,024.

De acordo com o monitor, o preço do diesel está, hoje, 23% acima da média histórica, em valores reais. Ao traçar um comparativo entre o preço do diesel e o salário mínimo, o monitor do OSP mostra que cem litros do derivado respondem, hoje, por 46% da remuneração mínima - uma alta de dez pontos percentuais ante dezembro de 2012.

Ao anunciar o auxílio aos caminhoneiros, durante cerimônia para inauguração do Ramal do Agreste, em Sertânia (PE), Bolsonaro não deu maiores detalhes sobre os valores envolvidos na medida nem como ela será financiada. A falta de clareza sobre a iniciativa gerou ruídos num mercado financeiro já combalido, nos últimos dias, pelo sinais de afrouxamento fiscal do país.

A política de preços da Petrobras é um dos principais assuntos da pauta política de Brasília, nas últimas semanas. Caminhoneiros pedem mudanças na forma como a estatal precifica seus produtos, em linha com o mercado internacional. Bolsonaro, por sua vez, não esconde a sua insatisfação com a alta dos preços, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) cobram ações da petroleira. Apesar disso, o auxílio aos caminhoneiros, porém, está sendo estruturado pelo governo e não envolve subsídios por parte da Petrobras, de acordo com três fontes. O Planalto busca um espaço fiscal para acomodar o auxílio, estimado em R$ 400/mês até o fim de 2022.

Em defesa da atual política de preços, executivos da petroleira têm defendido com interlocutores do governo que o papel social da companhia é ser lucrativa e, assim, contribuir com impostos, royalties e dividendos para que o governo possa, então, financiar e executar políticas públicas. Neste ano, por exemplo, a Petrobras já anunciou a destinação de R$ 15,4 bilhões em dividendos à União.

O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, já garantiu que a companhia segue com a política de preços alinhados ao mercado internacional. Pressionada, a empresa, no entanto, tem evitado repassar toda a volatilidade do petróleo e do câmbio e reduziu a periodicidade dos reajustes.

Concorrentes da companhia acusam a empresa de praticar preços abaixo do preço de paridade de importação (PPI) sistematicamente, ao longo de 2021. A situação, segundo a Abicom (representante de um grupo de importadores privados), piorou nas últimas semanas. A defasagem, na gasolina era, ontem, de 15%, enquanto a do diesel é de 19%. Procurada, a Petrobras preferiu não comentar.

André Ramalho – Valor Econômico