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Defasados, preços de gasolina e diesel devem ser mantidos


Valor Econômico - 21 out 2022 - 09:21

A nove dias das eleições, integrantes da indústria de combustíveis no Brasil acreditam que é improvável que a Petrobras reajuste o diesel e a gasolina nas refinarias, mesmo com os preços atuais defasados em relação ao mercado internacional. O cenário cria incertezas para as atividades de importadoras, distribuidoras e refinarias privadas, que têm dificuldade de competir com a estatal quando esta opera com preços abaixo do mercado, dizem fontes do setor.

A estatal vende o diesel a R$ 4,89 o litro, em média, desde 19 de setembro. Na gasolina, o último reajuste foi há 50 dias, em 1º de setembro, quando passou a ser vendida a R$ 3,53 por litro. Segundo cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), na manhã de ontem o diesel vendido pela Petrobras estava 10% abaixo dos preços internacionais. Com isso, o produto precisaria de um aumento de R$ 0,58 por litro, em média, para chegar à paridade. No caso da gasolina, a defasagem ontem era de 9%, com necessidade de alta de R$ 0,33 por litro, em média.

“A defasagem existe e está consistente, então sob uma visão técnica, sem nenhum viés político, a Petrobras deveria anunciar um reajuste. Existe expectativa de manutenção e até de um possível aumento do petróleo no cenário internacional. Há algumas semanas, quando o preço internacional caiu, a Petrobras também reduziu o diesel e a gasolina”, diz o presidente da Abicom, Sérgio Araújo.

Cálculos da XP Investimentos indicam que o preço do diesel no mercado brasileiro estaria com espaço para uma elevação de 6,8% para alcançar a paridade internacional. A gasolina precisaria de reajuste de 15,5%. Já a consultoria StoneX estimava ao fim do dia de ontem defasagem de 9,3% no diesel. Para a gasolina, entretanto, a consultoria estimava que os preços estavam 2,3% acima da paridade.

Com a queda do barril no mercado internacional, a Petrobras acelerou os cortes nos preços de combustíveis de julho a setembro, período que coincidiu com a campanha eleitoral. Nesses meses, a companhia realizou quatro cortes na gasolina e três no diesel. No entanto, em outubro a commodity voltou a subir no exterior, mas a estatal não realizou aumentos.

O preço do barril tipo Brent, principal referência internacional, chegou a ultrapassar US$ 95 em 7 de outubro, depois de ter atingido US$ 82 em setembro. A recuperação ocorreu depois do anúncio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) de uma redução na produção, que vai restringir a oferta global. Ontem, o Brent fechou a US$ 92,38 o barril no contrato para dezembro, em queda com a possibilidade de liberação de reservas estratégicas nos Estados Unidos.

“A tendência até março é de alta no preço do diesel, principalmente, por causa do inverno no hemisfério Norte, que é a época de demanda mais forte. Além disso, em dezembro começa o embargo da União Europeia ao petróleo russo”, diz o consultor em gerenciamento de risco da StoneX, Pedro Shinzato.

Fontes próximas à estatal ouvidas pelo Valor avaliam que eventuais reajustes dependem do cenário internacional, que pode ter nova queda no preços do barril com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) da China.

Desde 2016, a Petrobras segue uma política de preços alinhados ao mercado internacional, o que garante com que outras empresas atuem na importação para competir com os derivados vendidos nas refinarias nacionais, que não têm capacidade de produção suficiente para atender a todo o consumo do país. Quando a estatal opera com defasagens, os importadores reduzem a atuação, o que gera incertezas sobre o abastecimento.

Os especialistas, no entanto, acreditam que é improvável que o Brasil tenha problemas de abastecimento no momento, pois em setembro houve forte aumento nas importações. “Não diria que a situação [do fornecimento] é tranquila, mas é confortável. Não há perspectiva de desabastecimento”, diz Araújo, da Abicom.

No mercado, agentes criticam também a realização dos leilões dos estoques de diesel da petroleira, o que ajuda a manter preços baixos. “Quando há um leilão de grandes volumes, o sinal ao mercado é que está sobrando produto, o que não é a realidade”, diz fonte.

Na semana passada, o diretor de exploração e produção da Petrobras, Fernando Borges, indicou que a empresa tem demorado mais nos reajustes. “Estamos beneficiando a sociedade brasileira ao repassar mais amiúde a redução e demorar um pouco para repassar a subida de preços. Quanto se escutou: ‘Cadê a contribuição da Petrobras?’. Na medida do possível, essa contribuição tem sido feita, dentro da ‘banda’ [de preços] com que trabalhamos”, disse em live da agência especializada epbr.

Borges disse que a companhia considera uma “banda”, que é uma média móvel de cotações para definir os reajustes.

Em comunicado, a Petrobras reforçou o compromisso com preços competitivos e reafirmou que evita o repasse imediato das volatilidades externas e da taxa de câmbio por eventos conjunturais. Ontem, a estatal disse que, por questões concorrenciais, não pode antecipar decisões sobre manutenção ou reajuste de preços. Além disso, reiterou que o monitoramento das cotações é feito diariamente. “A decisão de atualizar os preços é integralmente técnica”, afirmou.

Gabriela Ruddy e Fábio Couto – Valor Econômico