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Usinas e distribuidoras: entregas e retiradas de biodiesel são divergentes


BiodieselBR.com - 17 jun 2011 - 06:39 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

No mês passado a ANP divulgou duas informações fundamentais para o setor de biodiesel: o volume do combustível entregue por cada usina referente ao leilão 20 e o volume adquirido pelas distribuidoras.

Durante o primeiro trimestre do ano foram entregues 584,6 milhões de litros de biodiesel, segundo a tabela que contabiliza as entregas de biodiesel feitas pelas usinas. O valor foi inferior aos 600 milhões de litros vendidos no leilão, conforme o boletim do MME já havia apresentado. Essa diferença indica uma inadimplência no cumprimento dos contratos já esperada, permitida em contrato, mas não desejada pelo governo.

A situação complica quando os números são comparados com a tabela da Petrobras e a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) que mostra as aquisições de biodiesel entre as distribuidoras de combustíveis. O volume adquirido pelas distribuidoras foi de 557 milhões de litros, ou seja, 27,6 milhões de litros não completaram o percurso nesse caminho e a ANP, aparentemente, não tem certeza de onde está parte desse volume.

Comparando esses dados com a tabela de vendas de derivados de petróleo pelas distribuidoras, publicada pela própria ANP, descobrimos que as vendas de óleo diesel no primeiro trimestre de 2011 ficaram na casa de 11,6 bilhões de litros. Isso coloca a demanda de biodiesel para a mistura obrigatória na casa dos 580 milhões.

Temos, portanto, duas situações mutuamente excludentes entre si. As usinas informam que entregaram 4,6 milhões de litros a mais de biodiesel que o necessário para o B5. Já as distribuidoras informam que compraram 23 milhões de litros de biodiesel a menos do que o necessário.

Para as usinas o mercado está moderadamente superavitário. Já no mercado das distribuidoras temos um mercado assustadoramente deficitário. Fica a dúvida, em qual desses dois mundos estamos vivendo de verdade. A ANP tenta responder a questão, mas a resposta é vaga o suficiente para que as dúvidas permaneçam.

Considerações
Questionada sobre os motivos dessas diferenças a assessoria de imprensa da ANP não explicou o motivo, nem disse qual é o problema, mas apresentou algumas teorias. Ela disse que é preciso “considerar também que nas vendas de diesel pelas distribuidoras estão incluídos os volumes comercializados de diesel marítimo sem a adição de biodiesel, assim como as variações de estoque das distribuidoras”.

A BiodieselBR foi então atrás do consumo de diesel marítimo, combustível que não recebe biodiesel em sua mistura, para saber qual é o impacto na diferença. A ANP não informou os dados de 2010, nem de 2009. Mas a BiodieselBR já havia obtido os dados de 2008 e eles mostram que o consumo  de diesel marítimo foi de 514 milhões de litros naquele ano. Considerando que o consumo foi igual ao longo do ano (apesar de no início o consumo cair), isso significa que apenas 6,4 milhões de litros de biodiesel não entram na conta. Ou seja, o impacto do diesel marítimo na discrepância dos dados apresentados acima não deve ser significativamente maior que 6,4 milhões de litros.

A explicação pode estar então na segunda teoria da ANP: os estoques. Para a mistura de B5 ter acontecido as distribuidoras tinham que ter um estoque de biodiesel de 16,6 milhões de litros. O volume representa mais de R$ 30 milhões em biodiesel.

Mas se as distribuidoras usaram o estoque, para onde foi o biodiesel que as usinas informaram ter entregue? Para isso a ANP apresenta outra teoria: “as diferenças entre os volumes de entrega das unidades produtoras nas refinarias e os de venda para as distribuidoras podem apresentar variações durante um período em função do aumento ou redução dos estoques de B100 nas refinarias”. Ou seja, podem ter ido para formar estoques da Petrobras. Isso significaria que a Petrobras ficou com o biodiesel, pois não achou necessário repassar para as distribuidoras ou como as distribuidoras já tinham estoque não precisaram comprar. Ou seja, enquanto a Petrobras aumentava seu estoque, as distribuidoras diminuíam.

O estranho nesse emaranhado de dados é que, se a Petrobras aumentou significativamente os estoques nesse período, o equivalente a cerca de 16 milhões de litros, porque nesse mesmo período ela resolveu fazer um leilão de estoque?

Não é possível saber se a mistura B5 aconteceu integralmente, ou se a Petrobras controla essa questão a revelia da agência, ou se tem distribuidora comprando menos do que deve, ou ainda se tem usina informando que entrega mais do realmente entrega.

A impressão que fica é que a ANP não tem certeza em relação a essas discrepâncias e por isso não dá uma resposta definitiva para a questão. Ou a resposta pode ser mais desagradável que as considerações.

usinas distribuidoras: Sobrando ou faltando biodiesel?

Por Julio Cesar Vedana e Fábio Rodrigues
BiodieselBR.com