PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Bio

Empresa afirma ter desenvolvido tecnologia para escoar glicerina


BiodieselBR.com - 26 out 2011 - 15:35 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:18

Descobrir o que fazer com toda a glicerina que é produzida junto com o biodiesel se tornou um problema para a indústria. Cerca de 10% de toda a matéria-prima desse biocombustível vira glicerina e isso tem deixado as usinas atoladas, simplesmente porque a escala de produção supera – de longe – a capacidade de consumo do material por seus mercados tradicionais. Pode ser que uma empresa de Rondonópolis (MT) chamada Centro Oeste Agricultura tenha descoberto uma saída para esse impasse. Ela está transformando a glicerina produzida pela usina de biodiesel da ADM – instalada na mesma cidade mato-grossense – num fertilizante foliar e adjuvante para a distribuição de defensivos chamado Hygrogem.

BiodieselBR apurou as alegações da Centro Oeste e descobriu que o produto foi patenteado em agosto de 2007 pelo engenheiro agrônomo de origem argentina, Ariel Orlando Destéfano, que fundou a Centro Oeste para comercializar sua invenção. Segundo ele contou com à BiodieselBR, o produto levou dois anos para ser desenvolvido. Segundo ele, o que algumas usinas têm feito para se livrar da glicerina que produzem é queimá-las em suas próprias caldeiras. Acontece que se as condições da queima não forem rigorosamente controladas, a combustão gera uma substância cancerígena perigosa, chamada acroleína o que torna essa solução pouco recomendável.

Em termos grosseiros, a substância desenvolvida por Destéfano pode ser utilizada para dissolver nutrientes minerais ou defensivos agrícolas que podem, então, ser dispersos sobre as plantações por via aérea ou terrestre. As características especiais de densidade e viscosidade do material forma gotas mais pesadas o que reduz sua dispersão em função do vento e permite a aplicação de quantidades relativamente menores sobre a lavoura. O fato da glicerina ser menos propensa a evaporação também contribui para a eficácia da aplicação. Seu uso como fertilizante foliar está aprovado pelo Ministério da Agricultura.

De acordo com o empresário, o produto feito de glicerina tem vantagens importantes sobre os adjuvantes que têm sido utilizados atualmente no mercado. A primeira delas é que, por ser de origem orgânica, o Hygrogem é biodegradável, melhorando a pegada ecológica do uso de defensivos agrícolas. Segundo ele ainda são bastante usados aqui no Brasil os produtos siliconados perigosos para a saúde dos trabalhadores rurais e os óleos minerais que, além de não renováveis, vão se acumulando e provocando a impermeabilização dos solos e a contaminação de lençóis freáticos e corpos d’água. Como é de origem orgânica, o Hygrogem é biodegradável

O preço também é uma vantagem. “Um adjuvante feito de óleo mineral custa US$ 3,00 por litro enquanto eu estou vendendo o Hygrogem a R$ 2,50”, diz, acrescentando que o produto tem tido boa acolhida entre os grandes produtores de soja do MT. Segundo ele, entre 2007 e 2009, a Centro Oeste manteve uma parceria com o Grupo Bom Futuro – um dos maiores produtores de soja– para o uso do Hygrogem nas plantações do grupo.

Para confirmar as afirmações do empresário, BiodieselBR procurou a Sementes Bom Jesus, empresa que produz e comercializa sementes para o mercado agrícola da região Centro-Oeste e que, de acordo com documentos enviados por Destéfano, teria adquirido volumes consideráveis do produto.

Por email, Emerson Skowronski que responde pelo Setor Comercial da Bom Jesus confirmou que sua companhia vem usando o Hygrogem desde a safra 2009/2010. Segundo ele, o departamento técnico e consultores contratados pela Bom Jesus avaliaram que o produto não somente atende às necessidade da empresa, como apresenta um “desempenho superior aos produtos disponíveis no mercado” e desfia uma série de argumentos que não se desviam muito dos apresentados pelo próprio inventor do produto.

O professor do Departamento de Engenharia da Universidade Federal de Lavras, dr. Wellington Pereira Alencar de Carvalho foi um dos responsáveis por uma série de ensaios preliminares com o produto concluídos há dois ou três anos. Segundo ele, o Hygrogem demonstrou um “potencial de utilização bastante positivo” embora ela tenha ressaltado que, na época, ainda faltavam testes de maior escala para atestar a eficácia. Embora ele não tenha mais envolvimento direto com o trabalho que a Centro Oeste está fazendo no Mato Grosso ele conta que soube por outros pesquisadores que os resultados do uso comercial têm sido favoráveis.

Com uma tecnologia que parece ter um potencial comercial bastante interessante nas mãos, Destéfano parece ainda estar decidindo quais serão seus próximos passos. Por um lado ele diz estar sendo sondado pela Basf e pela ADM que já teriam demonstrado interesse em adquirir sua patente, por outro, fala com grande entusiasmo sobre a possibilidade de licenciar sua tecnologia para usinas de biodiesel do país inteiro.

“Não daria para montar uma fábrica grande e atender para o Brasil inteiro, os custos de frete acabariam proibitivos. Por isso, eu queria licenciar minha tecnologia para empresas de biodiesel e montar uma rede de fábricas. Assim os produtores de biodiesel poderiam agregar valor em sua própria glicerina”, diz, acrescentando que já tem planos para levar o Hygrogem para a Argentina.

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com

Tags: Glicerina