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Críticas da Fecombustíveis: a questão da oxidação


BiodieselBR.com - 15 jun 2011 - 07:45 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:16

Recentemente a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) divulgou a edição 2011 de seu Relatório Anual da Revenda de Combustíveis que estampa um capítulo recheado de críticas ao biodiesel. BiodieselBR começa agora uma série de reportagens esmiuçando o conteúdo e teor dos pontos mais importantes levantados pela entidade.

De acordo com o texto publicado pela Fecombustíveis a tendência do biodiesel à oxidação se tornou a origem de muitos problemas no setor. Além de ser ruim em si mesma – por empurrar o biodiesel para fora das margens da especificação –, a oxidação também pode ser a causa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) andar descobrindo amostras de óleo diesel com mais biodiesel do que deveriam. Em alguns casos, os resultados apontavam misturas de 14%, indicando um B14.

No auge do problema, pairavam sérias suspeitas de que a mistura obrigatória poderia estar sendo vítima de uma fraude desenhada para ajudar “distribuidoras inidôneas” a engordar suas margens de lucro economizando em logística – elas estariam mandando biodiesel a mais para certos destinos e a menos para outros. Mas, segundo o relatório da Fecombustíveis, existem pesquisas que indicam que os testes de infravermelho utilizados pela ANP para atestar a mistura obrigatória podem estar sendo distorcidos pela presença de biodiesel oxidado.

A ANP por meio de sua assessoria de imprensa contradiz a Fecombustíveis e informa que “esse problema não existe”. Segundo a agência, o Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas da instituição “concluiu que a oxidação – na forma que estudos apresentados por agentes de mercado afirmam existir – não ocorre”.

O que é a oxidação?
Segundo o professor da Universidade de Brasília e colunista da revista BiodieselBR, Paulo Suarez, a oxidação acontece porque o oxigênio do ar se combina com as ligações duplas presentes nas moléculas tanto do biodiesel quanto do diesel fóssil – embora o segundo passe por um processo de estabilização que elimina a maioria de suas ligações duplas e o torna mais estável. Em geral, o processo ocorre de forma consideravelmente lenta, mas, segundo o pesquisador, a presença de umidade e de cobre – ou ligas de cobre – funcionam como catalisadores que aceleram bastante a reação entre o biodiesel e o oxigênio.

E como os tanques nos quais o B5 é estocado nos postos de combustíveis têm essas três coisas – cobre, oxigênio e água –, no fim das contas eles acabam sendo um ambiente inóspito para o biodiesel que guardam. Como o giro de mercadoria nos postos é grande, eles acabam ficando com os tanques quase sempre pela metade. Isso significa que o biodiesel está sempre em contato com ar atmosférico e, como o biodiesel é uma substância com alto poder higroscópico ele absorve umidade do ar que vai se acumulando no fundo do tanque. Some a isso peças feitas algumas de cobre ou de bronze que nem sempre são fáceis de trocar e temos condições ideias para que o biodiesel oxide rapidamente.

Teste com infravermelho
O problema, segundo Suarez, é que a oxidação forma substâncias que absorvem no infravermelho em uma região que se sobrepõe parcialmente à região onde o biodiesel absorve, apresentando uma mudança no comprimento de onda que o método da ANP usa para determinar o teor de biodiesel. É mais ou menos como se estivéssemos tentando calcular o tamanho de um espelho acendendo uma lanterna sobre ele e, de repente, alguém pintasse a moldura de prateado. O espelho vai parecer maior.

Embora diga que essa é uma explicação possível para as alterações que a ANP andou encontrando, Suarez ressalta que isso não é garantia de que não estejam havendo adulterações. “Isso é outra história. A oxidação é uma explicação possível, mas não é a única”, completa o pesquisador.

Apesar de a Fecombustíveis sugerir que a fraude de misturar mais biodiesel próximo a base para economizar no transporte está relacionada com a questão da oxidação, é importante notar que o presidente da Petrobras Distribuidora e o Sindicom já admitiram no passado que empresas sem preocupação com a legislação estavam desrespeitando a mistura de 5% de biodiesel.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a ANP refutou as informações do relatório. Segundo a agência, as críticas da Fecombustíveis são improcedentes e o infravermelho é um método reconhecido como referência mundial e é amplamente utilizado na Europa e nos Estados Unidos. “Para confirmar os resultados obtidos por infravermelho, o Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas da ANP (CPT) desenvolveu um método de detecção de biodiesel em misturas de óleo diesel e biodiesel por cromatografia gasosa. Os resultados apresentados para as duas metodologias mostraram-se consistentes e compatíveis”, garante o comunicado enviado à BiodieselBR que acrescenta ainda que as alterações provocadas pela oxidação seriam prontamente identificadas pelo método “em função das drásticas alterações que ocorreriam no espectro do infravermelho”.

Suarez concorda que o infravermelho é uma técnica confiável, mas destaca que o problema pode ter origem na forma como ele é empregado. “Eles usam um método monovariado que observa um só comprimento de onda do espectro do infravermelho, se usassem um método multivariado que usa várias regiões a medida seria mais robusta”, completa.

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com