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Audiência ressalta divisão entre usinas e revendedores de biodiesel


BiodieselBR.com - 12 jul 2011 - 06:47 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

No final de junho, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados realizou em Brasília (DF) uma audiência pública sobre as Políticas do Programa do Biodiesel. O encontro foi convocado pelo deputado Cláudio Cajado (DEM-BA) e reuniu representantes de toda cadeia do biodiesel para falar sobre as turbulências que o segmento vem enfrentando. BiodieselBR está fazendo uma série de reportagens tratando de assuntos que vieram a tona durante a audiência. Nessa reportagem falamos sobre a divisão entre produtores de biodiesel e revendedores de combustíveis.

A audiência pública realizada em 28 de junho pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados foi uma oportunidade interessante para entender melhor algumas linhas de tensão que andam dividindo o setor.

Não é de hoje que as usinas de biodiesel e os revendedores de combustíveis andam em lados opostos, mas a disputa entre os dois subiu de tom quando a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) publicou o seu Relatório Anual de Revenda de Combustíveis. O documento jogou uma luz nada favorável sobre o biodiesel. Esse clima transpareceu durante o evento na Câmara dos Deputados com o presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, e o presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, trocando diversas farpas entre si.

Durante sua fala, Ferrés procurou sublinhar os múltiplos benefícios gerados pelo biodiesel do ponto de vista ambiental, social e econômico e ressaltou que os problemas de qualidade que têm sido relatados pelos postos não apenas são “isolados” como também “sempre estão ligados a algum dever de casa que não foi bem feito” pelos postos. A opinião do empresário é a de que os postos de combustíveis têm falhado em adotar as melhores práticas de manuseio e armazenagem de óleo diesel e que essa é a verdadeira raiz dos problemas com a qualidade do diesel e a formação de borras sobre as quais os revendedores tem reclamado.

“A entidade que represento defende que sejam aplicadas penalidades da lei quando requerido para que um programa com essa amplitude e a importância não seja dificultado ao impedido de avançar no país em decorrência de problemas isolados”, atacou o presidente da Ubrabio. Ferrés ressaltou que a Petrobras analisa todo o biodiesel que sai das usinas e isso atesta que os problemas não têm sido causado por biodiesel fora dos padrões.

Saindo em defesa dos associados da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, foi enfático em reafirmar a importância econômica do varejo de combustíveis informando que os 38 mil postos brasileiros faturaram no ano passado R$ 223 bilhões – crescimento de 12% sobre 2009 –, sendo responsáveis por uma arrecadação de impostos da ordem de R$ 65 bilhões. Embora ressalte o apoio de sua entidade aos combustíveis renováveis e ao biodiesel em particular, Soares, declara que seu setor está muito preocupado com a qualidade do biodiesel.

Segundo ele, os revendedores não estão questionando o biodiesel por causa de casos isolados – 66% dos transportadores retalhistas relataram problemas no transporte de diesel. “Temos centenas de casos todos os dias onde o revendedor sofre autuações da ANP porque o produto deteriora com mais facilidade”, reclama. Soares acrescentou ainda que a adição de biodiesel no diesel não é assim tão simples quanto o setor produtivo quer fazer parecer.

Entre os problemas mais difíceis de solucionar está a incompatibilidade do biodiesel com o cobre e suas ligas – pesquisas indicam que esse metal catalisa reações do biodiesel, acelerando sua degradação. De uma hora para outra um material tradicionalmente usado nos postos se tornou uma fonte de problemas. “Nós já sabemos que os produtos de aço inoxidável não tem esse problema e estamos aconselhando os revendedores, que estão reformando seus postos, passem a usar os produtos de aço que custam 40% mais, mas resolvem o problema”, reclama, alertando que os equipamentos de vários postos são cedidos pelas distribuidoras o que dificulta fazer os ajustes necessários.

Soares não nega que hajam problemas de manuseio e armazenamento nos postos, mas o que tem realmente incomodado os postos é que eles tem precisado lidar praticamente sozinhos com as conseqüências do problema. “Nós somos pequenos revendedores e, hoje, estamos pagando o pato sozinhos. Queremos melhor planejamento por parte do governo e que não sejam adotados aumentos da mistura antes de resolvermos os problemas da qualidade”, desabafou. Ele justifica que os postos se arriscam a levar multas e até serem fechados por causa dos problemas de conformidade.

“Uma coisa que gostaríamos e a que própria Ubrabio, investisse mais dinheiro em pesquisa sobre seu produto. Nós somos só revendedores e queremos ter um produto de qualidade para vender ao consumidor final, não podemos ser penalizado pela má qualidade de uma produção sobre o qual não temos influência nenhuma”, provocou o presidente da Fecombustíveis.

Respondendo a fala do colega de mesa, Ferrés indica que apesar de respeitar o posicionamento da Fecombustíveis considera tem faltado engajamento dos revendedores. “O biodiesel tem que ser objeto de engajamento por conta da cadeia, muitos dos problemas que temos enfrentado são relativamente simples. Cinco anos depois da introdução legal do biodiesel no país não deveríamos mais ter dispositivos incompatíveis com as normas técnicas e de manuseio”, finaliza, referindo-se a presença de peças de cobre nos postos que não são permitidas pela ANP.

Veja também:
O jogo por trás do aumento da mistura de biodiesel

Fábio Rodrigues - BiodieselBR.com