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Abertura do 100th AOCS Annual Meeting


Luiz Pereira Ramos - 05 mai 2009 - 07:10 - Última atualização em: 27 fev 2015 - 10:40

Hoje pela manhã, foram abertos os trabalhos da 100ª. Reunião Anual da American Oil Chemists’ Society, uma das mais importantes reuniões científicas de todo o mundo sobre oleoquímica e áreas afins.

A primeira sessão em que tivemos a oportunidade de participar foi a da Divisão Técnica de “Industrial Oil Products”, que congrega atividades na área de usos alternativos de óleos vegetais e seus derivados, incluindo os biocombustíveis. Nesta seção, foram 18 trabalhos de excelente qualidade técnica, apresentados em seis horas no total (quatro horas pela manhã e duas horas no início da tarde), sem intervalo, sobre vários aspectos relacionados à cadeia de produção do biodiesel, desde a matéria-prima até o perfil de emissões, passando por tecnologias alternativas de produção, análise do ciclo de vida e aspectos relacionados aos métodos e critérios de especificação.

Naturalmente, abordar a diversidade destas palestras jamais poderia ser o objetivo desta coluna. No entanto, caberiam alguns comentários sobre as primeiras atividades técnicas do evento. Das apresentações de maior impacto, vale ressaltar as relativas à produção de biodiesel de óleo de algas, ao desenvolvimento de processos alternativos para a transesterificação in situ de óleos vegetais de elevada acidez, à caracterização da mutagenicidade das emissões do diesel e de suas misturas com ésteres metílicos de ácidos graxos (biodiesel), à catálise enzimática como alternativa para os processos mais clássicos de produção, aos estudos da análise do ciclo de vida em vários processos de produção (particularmente os enzimáticos), à caracterização dos componentes do biodiesel que exercem maior influência sobre as propriedades de fluxo a baixas temperaturas e ao estudo da estabilidade de diferentes tipos de biodiesel à oxidação.

No que tange ao biodiesel de algas, prevalece a impressão de que tais óleos não apresentam propriedades adequadas para uso como biodiesel, tais como estabilidade oxidativa e número de cetano. No entanto, o estudo relatado por pesquisadores japoneses revelou perspectivas extremamente favoráveis para o óleo de Dunaliella tertiolecta, cuja composição mostrou-se menos rica em ácidos graxos poli-insaturados.

A transesterificação in situ continua a oferecer excelentes perspectivas para o processo de produção, permitindo o uso de matérias-primas de diferentes níveis de acidez, já que a catálise ácida demonstrou melhor desempenho do que a catálise alcalina.

No que tange às emissões diesel, foi uma vez mais reiterada, pelo grupo do Dr. Jürgen Krahl, que o uso de misturas B20 aumenta de forma decisiva a mutagenicidade de emissões diesel, fato que já vendo sendo considerado crítico para o estabelecimento de políticas públicas e marcos regulatórios associados ao uso destas misturas na Europa e nos Estados Unidos.

Questões relacionadas à estabilidade oxidativa e às propriedades de fluxo em baixas temperaturas, do biodiesel puro e de suas misturas com o diesel de petróleo, revelaram boas perspectivas em relação aos aditivos atualmente disponíveis no mercado, indicando que há, em muitos casos, um efeito sinérgico extremamente interessante quando da combinação de diferentes produtos como o TBHQ e o pirogalol.

Um autor discorreu sobre o desenvolvimento de novos cultivares de soja cuja composição em ácidos graxos atingiu percentuais de 40% de ácido oléico, sugerindo melhores propriedades para a produção de biodiesel. Outro reiterou a importância de componentes minoritários do biodiesel na definição de sua estabilidade oxidativa, tais como esterol glucosídeos, triacilgliceróis e acilgliceróis parcialmente reagidos.

Outras apresentações igualmente interessantes foram proferidas, dentre as quais duas de nossa autoria, uma discorrendo sobre o desenvolvimento de novos catalisadores de esterificação e transesterificação e a outra sobre a situação atual da produção de biodiesel em nosso país, esta última consolidada com importante apoio do pessoal da Biodieselbr.

Finalmente, para concluir o presente relato, resta-nos comentar a última das apresentações orais deste primeiro dia, associada à manipulação genética de microorganismos capazes de produzir hidrocarbonetos, incluindo ésteres de ácidos graxos (biodiesel), a partir do uso de carboidratos simples como a sacarose do caldo de cana-de-açúcar. Apesar de ainda inviável economicamente, bioprocessos como o descrito por estes autores, de origem japonesa, deverão despontar como soluções de alta sustentabilidade ambiental para a produção de biocombustíveis líquidos, já que não estão necessariamente atrelados à indústria de alimentos e poderão proporcionar ferramentas de grande apelo tecnológico, como a perspectiva de se definir a composição química do produto final através da engenharia genética.

Sem dúvida, o futuro nos reserva grandes mudanças para o setor e muito do que hoje se considera tecnologicamente viável poderá se tornar obsoleto e de baixa competitividade econômica frente à grande evolução que hoje se observa em toda a cadeia de produção do biodiesel.