O preço do Biodiesel: Uma análise da maior usina de biodiesel

O Biodiesel pode competir no preço?

Algumas pessoas gostam do biodiesel porque é renovável e polui menos que diesel. Outros estão intrigados por seu potencial para reduzir a dependência dos EUA em petróleo. Esse fascínio político e ambiental fez bastante barulho este ano.

O que ninguém demonstrou ainda é se o biodiesel, como negócio, pode competir no fator chave para muitos consumidores: preço.

Imperium Renewables, uma empresa iniciante baseada em Seattle, tem estado obcecada com um modelo empresarial que, acredita, pode bater o diesel comum na bomba. A companhia diz que o biodiesel pode ganhar nos três pontos principais: Social, ambiental e econômico.

A estratégia se baseia em economia de escala. A Imperium está construindo a maior refinaria de biodiesel dos EUA em Grays Harbor (porto), na costa de Washington, capaz de produzir cerca de 380 milhões de litros por ano —  um décimo de todo o diesel consumido no estado.

Quando estiver terminada em junho, a usina dependerá de matérias-primas variadas, experiência técnica e transporte eficiente para produzir biodiesel estimado em paridade com o diesel. A Imperium diz que pode competir contanto que o petróleo fique acima de $43 o barril.

A MAIOR REFINARIA DE BIODIESEL DOS EUA
Imperium Renewables, o maior produtor de biodiesel de Washington, está construindo a maior refinaria do país. O custo de construção da refinaria é de $65 milhões de dólares e vai estar operando em maio de 2007.

Mas há muitas incertezas pela frente.

Eles anunciaram a grande refinaria quando o petróleo estava a $72 o barril; agora está ao redor de $62. E o orçamento inicial do projeto de 40 milhões de dólares saltou $55 milhões, para $65 milhões, depois de acrescentar o valor do solo macio aos custos de construção de Grays Harbor.

A Imperium, que anteriormente captara 10 milhões de dólares em capital de risco, está no processo de levantar mais $75 milhões para expansão. Conseguiu $43 milhões para essa meta em meados de novembro, de acordo com um registro dos reguladores financeiros estatais.

O fundador e Presidente da Imperium, John Plaza, disse que espera que a companhia se torne lucrativa até 2008, com margens “tão elevadas quanto eu consiga.”

“Você tem que ser competitivo em uma base de custo, não só no lado ambiental ou social”, disse Plaza. “Caso contrário, isto nunca cresceria como nós queremos crescer.”

Competir pelo preço teria soado absurdo três anos atrás, quando a companhia começou.

O diesel estava a $0,41 dólares o litro e o biodiesel estava ao redor de US$0,72. Mas durante os últimos 18 meses, como a Imperium melhorou seus métodos fazendo biodiesel numa usina de 19 milhões de litros por ano em Seattle, o cenário econômico mudou.
Furacões danificaram refinarias de petróleo no Golfo do México, e tensões pipocam no Oriente Médio. Em agosto, o diesel em Seattle estava mais caro que o biodiesel, em média a US$0,89 o litro contra $0,85.



O biodiesel tradicionalmente custa mais nos postos, mas repiques no preço do petróleo tornaram-no mais competitivo.

Não é nenhuma coincidência que, ao mesmo tempo, alguns dos maiores operadores de frotas do mundo — Wal-Mart, FedEx e UPS — começaram  a fuçar sobre o iniciante de Seattle para aprender mais sobre biodiesel.

Ultimamente, a vantagem de preço voltou para o diesel, mas é pouca — US$0,78 o litro contra aproximadamente US$0,85 para o biodiesel na área de Seattle.

Se a Imperium puder continuar cortando custos, poderá se transformar de um líder de fábrica-de-fundo-de-quintal em um player num mercado americano que queima cerca de 238 bilhões de litros de diesel por ano.

Nacionalmente, há várias companhias tentando provar que o biodiesel não é mais só coisa de altruístas. Um concorrente, Bioselect Fuels, de Galveston, Texas, têm veteranos da indústria do petróleo na administração e capital de investimento da Chevron. Diz que está procurando uma estratégia semelhante à da Imperium, usando amplas refinarias, transporte marítimo barato e diversas fontes de óleo vegetal.

“Isto é muito mais que uma fábrica-de-fundo-de-quintal neste momento”, disse Jenny Ligums, vice-presidente de desenvolvimento empresarial da Bioselect. “Isso se reduz a qualidade e preço.”

Em 2005, os americanos consumiram aproximadamente cerca de 285 milhões de litros de biodiesel, de acordo com o National Biodiesel Board. Este ano, esse número deve quase triplicar. Novas refinarias estão sendo anunciadas quase semanalmente, levando a capacidade de refino a 5,3 bilhões de litros por ano.

Eric Bowen, expert em energia da Sigma Capital, de São Francisco, disse que entre os cem planos comerciais de biodiesel que ele revisa, há três tipos de companhias: gigantes da agroindústria como Archer Daniels Midland com muito dinheiro e talento; velhos hippies que trabalham em pequenos projetos que não vão render muito; e um novo tipo de companhias alavancadas por capital focalizadas somente em produzir grandes volumes de biodiesel.

A Imperium, disse ele, está no terceiro grupo. Bowen disse que ele não está seguro que a companhia tenha “uma receita secreta” para o sucesso, mas o Chief Executive Martin Tobias, que abriu o capital da Loudeye de Seattle no auge das empresas ponto-com, tem que ser levado a sério.

“Se estes sujeitos estão criando uma bolha de biodiesel ou construindo um negócio a longo prazo é uma boa pergunta em aberto”, disse Bowen. “Mas Martin e sua equipe certamente sabem o que estão fazendo."



Para reduzir os custos e ficar competitivo em relação ao diesel comum, Imperium Renewables está importando algum óleo de palma barato da Malásia.

Das sementes ao combustível

O negócio do biodiesel depende em parte, de matéria-prima, o chamado “feedstock”. Começa com plantações de oleaginosas que são colhidas e esmagadas em óleos vegetais — pense em soja, canola, palma.

Refinarias como a Imperium processam o óleo vegetal para produzir combustível que funcione em qualquer motor diesel. A Imperium vende o combustível aos distribuidores que o transportam a bombas de frota e postos de venda

O modelo empresarial é que amedronta logisticamente porque não há plantações abundantes de oleaginosas perto da Costa Oeste. A Imperium compra óleo de soja no atacado de Iowa por aproximadamente $2,70 o galão, incluindo aproximadamente 25 centavos por galão para transporte por trem, disse Plaza. Somados, os custos de matéria-prima e transporte respondem por mais de 80% dos custos da Imperium.

Considerando que o óleo bruto é crucial, Plaza disse, a companhia quer estar segura de não depender de uma única fonte. É em parte por isso que a Imperium escolheu  o porto de Grays Harbor. Com um porto marítimo, pode importar óleo de palma da Malásia por US$0,53 o litro, aproximadamente 15 centavos o litro mais barato que óleo de soja do Meio Oeste.

 O óleo de palma tem suas desvantagens. O biodiesel de óleo de palma solidifica em clima frio, significando que só clientes com aquecedores de motor podem usá-lo. Florestas tropicais em países em desenvolvimento às vezes são derrubadas para plantar palma — o que enfurece a clientes preocupados ambientalmente.

Plaza tenta minimizar a falta de palma. A refinaria de Grays Harbor usará óleo de palma para só 30% de produção, com o resto vindo do Meio Oeste, disse ele.

O biodiesel derivado de palma não vai parar os motores, ele disse, porque os distribuidores da Imperium só o venderão a clientes com aquecedores. Plaza diz que o contrato da Imperium provê óleo de palma exclusivamente de fazendas sustentáveis, e planeja executar auditorias para ter certeza que essa condição é cumprida.

Há conversas de fazendeiros do leste de Washington plantando sementes de canola como uma fonte local de óleo vegetal, mas a idéia empacou devido a uma falta de usinas de processamento.

A Imperium também está competindo em know-how técnico. A companhia está construindo a própria refinaria, em lugar de usar uma empresa estabelecida para engenharia e projeto. Uma companhia dessas garantiria que todo o equipamento vai funcionar, mas cobraria uns 50 a 60% a mais, Plaza disse.

Ao invés disso, a Imperium contratou engenheiros e consultores para projetar uma técnica proprietária de refino. Plaza diz apenas que a usina terá menos partes móveis, e será um terço do tamanho de refinarias comparáveis.

Embora o custo subiu a US$65 milhões, Plaza disse que a refinaria ainda será competitiva, porque é uma despesa única. 

Ligações de transporte

Além da terra barata, funcionários locais encorajados e trabalho disponível, Plaza disse que a vantagem de Grays Harbor está no transporte.

O porto permitirá a Imperium transportar seu biodiesel refinado para a Califórnia a 3 centavos o galão, enquanto por trem custaria quatro vezes isso.

É tecnicamente viável transportar biodiesel por oleodutos. Mas Plaza disse que as petroleiras não estão interessadas em ajudar um rival.

O governo certamente ajudou o biodiesel a competir. A Imperium não recebe subsídios diretos para produzir, mas os distribuidores ganham um desconto de $1 por galão no imposto federal de combustíveis, uma economia que pode ser repassada aos consumidores.

Ano passado, Washington se tornou o segundo estado a obrigar que 2% de todo o diesel no estado seja biodiesel em novembro de 2008. Isso criou uma demanda garantida de 75 milhões de litros por ano. Órgãos locais como King County Metro (órgão público de transporte) e a cidade de Seattle também estão entre os melhores clientes da Imperium. Plaza diz que ele tem tido muito apoio dos políticos eleitos e viaja uma vez por mês para Washington, D.C., para fazer lobby pela sua ajuda.

Mas ele se enfurece com críticos que dizem que o biodiesel não pode passar sem subsídios. Como o lobby do etanol disse durante anos, Plaza nota que as petroleiras ganham bilhões em isenção fiscal e subsídios para sondagem doméstica, mais a defesa nacional para proteger as rotas marítimas de petróleo – custos que não aparecem na bomba.

Os riscos

Claro que a abundância poderia dar errado para a indústria, ou para a Imperium. Se as refinarias tomarem um atalho e fizerem combustível de baixa qualidade que danifica os motores, o biodiesel ganharia uma má fama.

Uma explosão ou acidente poderia danificar equipamentos. Secas ou uma alta na demanda poderiam elevar o custo da matéria-prima, ou alguns dos gigantes da agroindústria dos EUA poderiam dar uma gravata no abastecimento e dominar o mercado de biodiesel.

Também é possível que os produtores de petróleo impulsionem a produção, baixando os preços de gás e causando desinteresse dos americanos em alternativas.

Mas há sinais positivos. Os grandes clientes de biodiesel dizem que eles estão contentes e querem mais.

Jim Boon, gerente de manutenção de veículo da King County Metro, disse que a frota de ônibus gasta aproximadamente 3,7 milhões de litros de biodiesel por ano, com planos para dobrar em maio.

Boon disse que houve uma fase de problemas iniciais quando a Metro fez a troca, porque o efeito de limpeza do combustível retirou sujeira do motor e entupiu os filtros, o que pode reduzir a velocidade ou parar os motores. Quando os filtros estão limpos, o combustível funciona como diesel comum, disse ele.

A Metro começou a comprar biodiesel após uma diretiva de maio 2004 do prefeito de  King County, Ron Sims, que quer reduzir as emissões de carbono. Mas por causa dos balanços abruptos nos preços do diesel, disse Boon, o biodiesel está fazendo mais sentido financeiramente.

“Se você colocar num gráfico, o preço de biodiesel é uma linha bem reta”, disse ele.

É improvável que o biodiesel apareça na maioria das bombas num futuro próximo. Só 3% de carros de passageiro e caminhões nos EUA usam diesel. A maioria dos clientes diesel opera caminhões comerciais e maquinaria pesada, e pode ser difícil fazê-los trocar do que eles conhecem.

Um bom exemplo: Ao lado da refinaria Imperium ao sul de Seattle, caminhões diesel da Glacier Northwest transportam cimento todo dia. A Imperium tentou vender biodiesel para eles.

Até agora, a Glacier não comprou uma gota. Um gerente disse que eles vão considerar isso quando o biodiesel bater o diesel regular no preço.





Por Luke Timmerman
Seattle Times

Tradução: BiodieselBR.com