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O leilão de biodiesel mais revelador de todos


Miguel Angelo Vedana - BiodieselBR - 28 mai 2012 - 09:06
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Os leilões de biodiesel, apesar de todas as mudanças já realizadas, tem causado pouca surpresa. Para quem acompanha de perto sempre foi relativamente simples acertar quais seriam as vencedoras e até mesmo quanto cada usina iria vender. A última grande surpresa foi a ausência da JBS na lista dos vendedores do último leilão.

Mas com a união do leilão e releilão em um só evento (ainda que incompreensivelmente separados por sete dias), as incógnitas do certame atingiram níveis sem precedência. Para começar não se sabe exatamente quanto de biodiesel será comprado.

No leilão do ano passado para o mesmo período, foram adquiridos 700 milhões de litros, entregues 713,7 milhões e comercializados 708 milhões. Este ano, no primeiro trimestre, o consumo de diesel foi 9,7% maior que no último ano, se essa alta no consumo for mantida, o leilão de biodiesel comprará pouco mais de 770 milhões de litros de biodiesel. Mas esse número pode variar, dependendo dos estoques que as distribuidoras possuem e da projeção que cada uma fará sobre o 3º trimestre do ano. No final do leilão podemos descobrir que as distribuidoras compraram mais de 800 milhões de litros, ou então que não foram vendidos nem 750 milhões de litros. O interessante do certame é que essa é a variável mais simples, daqui para frente é uma incerteza atrás da outra.

A pergunta de um bilhão e meio de reais é quem vai vender nesse leilão? Acredito que teremos três categorias de usinas: as que venderão tudo o que ofertarem, as que venderão níveis medianos e as que venderão muito pouco. As primeiras serão aquelas consideradas usinas premium pelas distribuidoras. São as que têm uma política de qualidade no biodiesel clara, que se esforçam para mostrar isso e que produzem por preços competitivos. Na segunda faixa estão usinas quase tão boas quanto as primeiras, mas que tem uma relação qualidade/preço/logística pior que as primeiras. Esse é o grupo que terá mais trabalho pela frente e precisará identificar seus pontos fracos para poder fazer parte da elite. Na terceira faixa ficarão as usinas com pouca atratividade para as distribuidoras, mas que por questões logísticas terão um pouco do seu produto comprado. Estas empresas terão que repensar completamente sua estratégia de negócio para permanecer no mercado.

Há ainda a maior faixa de todas, a das que não venderão nada. Nessa categoria devemos ter usinas que são caso perdido e possivelmente nunca mais voltarão a vender biodiesel. Entram aqui, também, aquelas que adotarão uma estratégia equivocada, apresentando preços elevados, por acreditarem que tem algum diferencial sobre as demais, mas que não existe ou não é visto pelas distribuidoras. Essas ainda terão alguma chance de vender se diminuírem seu preço ou se apresentarem seu diferencial ao mercado. Nesta mesma categoria devem entrar aquelas que têm preço, qualidade e tudo mais, mas não tem selo. Em relação às disputas anteriores, as usinas sem selo terão muito menos espaço, e suas chances de venda estão bastante reduzidas.

Propositalmente sem mencionar nome de nenhuma usina, vou apresentar alguns números para o próximo leilão. A capacidade total de biodiesel que pode ser ofertado neste leilão passa de 1,5 bilhão de litros. Praticamente o dobro do que será comprado.

Com selo, a capacidade de oferta é de pouco mais de 1,35 bilhões de litros e, sem selo, de 136 milhões de litros apenas. Se as usinas sem selo não oferecerem um preço realmente melhor, haverá pouca razão para as distribuidoras comprarem seu produto.

As 12 maiores usinas de biodiesel podem ofertar 832 milhões de litros no total. Boa parte dessas unidades não deve oferecer os 100% da capacidade permitida, e considero razoável supor que a oferta deverá girar em torno de 90%. Com isso as 12 maiores usinas poderiam vender tudo, deixando as outras 44 (que podem vender) de fora.

Contudo a divisão será muito mais complicada que isso. Usinas muito boas não estão entre as 12 maiores e devem vender tudo que ofertarem. Por outro lado algumas dessas 12 grandes podem até ficar completamente de fora do leilão. E é essa incerteza que tem tirado o sono de muitos usineiros.

Por mais que eles digam que estão tranquilos e que gostaram da mudança, a insegurança de todas as usinas está em nível altíssimo. Mesmo com as usinas produzindo um biodiesel de qualidade desde o começo, cuidando no trato com as distribuidoras, e preocupados com a logística, entregando biodiesel dentro do agendado e fazendo tudo da forma mais correta possível, há sempre o risco da distribuidora não estar vendo isso. Ou ainda, seu competidor direto tem um diferencial extra que a usina não sabe e, por isso, pode não vender.

Todas essas dúvidas não serão sanadas agora. As respostas ficarão bem claras depois que o leilão acontecer. Esta será a disputa mais reveladora de todas. Não haverá espaço para fazer média de preços, para deixar de dar lances em algum item ou para dizer que pode produzir mais do que realmente pode. No dia 14 de junho saberemos quem são as usinas que continuarão no mercado e aquelas que começam a se despedir do negócio.
 
Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo da BiodieselBR e faz parte do conselho editorial da revista BiodieselBR.
Tags: Destaque L26