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Liv Soares Severino

O aumento da área plantada


BiodieselBR - Liv Soares Severino - 23 mai 2006 - 06:31 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Desde 2004 se sabe que em janeiro de 2008 a adição de biodiesel ao diesel se tornará obrigatória e um grande mercado se abrirá para esse biocombustível. Quando a meta de 2% foi estabelecida o setor teria cerca de quatro anos para se preparar, o que significa organizar a produção da matéria-prima, montar as indústrias, acertar os detalhes de logística, financiamento, legalização do negócio etc. O prazo está se aproximando e, embora muitos dos entraves tenham sido superados, num ponto ainda não se observaram avanços significativos: o aumento da área plantada com oleaginosas.

Até o momento, as expectativas sobre aumento de área plantada recaem sobre duas oleaginosas - mamona e dendê - uma para o Semi-árido e outra para a Amazônia. Entre 2004 e 2005, a área plantada com mamona teve rápido crescimento, mas despencou no ano seguinte, enquanto para o dendê o crescimento foi inexpressivo frente à demanda que se abrirá.

Talvez se tenha pensado que esse crescimento seria resultado somente do incentivo de programas governamentais e de promessas que para os agricultores ainda são muito vagas. Mas para quem planta, investe seu dinheiro e depende da sua produção para sobreviver, é preciso mais que promessas.

A área plantada com mamona cresceu porque na época o preço estava alto e, com a grande divulgação feita pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais, os agricultores acreditaram que não faltaria quem comprasse. O incentivo ao plantio foi dado, mas na prática as indústrias ainda não estavam preparadas para absorver a produção. Logo em seguida veio a crise cambial, que forçou os preços internos para baixo, e o aumento de produção não foi absorvido pela indústria de biodiesel, mas foi parar na tradicional ricinoquímica, fazendo o preço cair no mercado internacional. Resultado: no ano seguinte a área recuou para os níveis anteriores. Nada disso é surpresa em agricultura; preço alto faz crescer a área plantada e excesso de oferta derruba os preços.

Então, o que se pode fazer para que os agricultores plantem mamona, dendê ou qualquer outra oleaginosa? A resposta é preço e garantia de comercialização. Basta que as indústrias interessadas em ver este mercado crescer, ofereçam um preço viável para os agricultores e que ano após ano adquiram a produção. Este é o único incentivo que funciona para os agricultores. O incentivo ao plantio de dendê é ainda mais complexo, pois como a cultura é perene e exige investimento por vários anos antes de entrar em produção. Por isso, só se planta se houver confiança de que no futuro a produção será adquirida por preço satisfatório.

Na prática, o que se está observando é que, a despeito dos interesses sociais e de desenvolvimento regional que o Governo Federal tenta associar ao biodiesel, o fornecimento de matéria-prima caminha na direção óbvia do mercado: inicialmente será utilizado óleo de soja que é mais barato e está disponível em grande quantidade. Não se deve lutar contra as Leis de Mercado, é mais inteligente entendê-las para aprender a tirar proveito da melhor forma possível.

Liv Soares Severino,  é colunista BiodieselBR e Pesquisador da Embrapa Algodão
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