Biodiesel no Centro-Sul
Embora a soja tenha potencial para oferecer todo o óleo necessário para até mesmo a mistura dos 5%, ela sofre restrições de natureza econômica. Estima-se que, nas condições atuais, o break even de neutralidade para destinação de óleo vegetal para o mercado nutricional ou para a produção de energia seja de US$60,00/ barril de petróleo.
Essa preocupação quanto à competitividade é ainda maior na região, uma vez que os benefícios fiscais são menores. Em função disso, a Ecomat, localizada no Mato Grosso, e pioneira na produção de ésteres de óleo de soja para mistura do álcool ao diesel, ainda estuda com cautela a produção do biodiesel para o mercado interno. A sua capacidade instalada atual é de 26.666 litros por dia, mas pode ser ampliada num curto espaço de tempo. Também operam na região a Soyminas e a Biolix.
Além dessas unidades, há registro de que outras quatro (Adequim, no Mato Grosso; Ceralit, em Campinas – SP; Agrodiesel, em Iguatama – MG; e, Fusermann, em Barbacena – MG), aguardam autorização. Essas seis unidades, em plena operação, reunirão capacidade instalada para 65 milhões de litros/ano. Esses empreendimentos nasceram vislumbrando a possibilidade de utilização de alternativas como o nabo forrageiro, o girassol e a própria soja.
Entretanto, o maior empreendimento em curso fica no município de Charqueada, também em São Paulo, o qual deverá ter a capacidade de produção de até 300 mil toneladas por ano. Um dado preocupante em relação ao projeto, segundo relato dos diretores da empresa, é que atualmente a única matériaprima que permite a produção do biodiesel a custos competitivos com o diesel de petróleo é o sebo bovino. Os empresários estão pensando em outras alternativas, em especial a borra do processo siderúrgico e a borra do refino do óleo de soja. O problema é que essas matérias-primas, tal como o próprio sebo, não têm mercados bem desenvolvidos, o que pode implicar o aumento dos riscos quanto ao seu fornecimento regular.
A empresa norte-americana Expoglobe International Inc. pretende instalar ainda este ano uma usina para a produção de 100 mil litros diários de biodiesel em Campo Largo - PR. Com um investimento de US$ 6 milhões a empresa deverá utilizar girassol e etanol como matérias primas e tecnologia do Ladetel/ USP. O principal produto a ser comercializado pela Expoglobe, será um aditivo que tem como matéria-prima o biodiesel e age aumentando o poder calorífico dos motores do ciclo diesel reduzindo o consumo de combustível.
Pode-se concluir que na Região Centro-Sul, apesar da maior necessidade de biodiesel e da maior diversidade de alternativas, o ambiente de incertezas, combinado com a insuficiência de incentivos fiscais sugerem sérias dificuldades para a ocupação da capacidade instalada dos projetos em curso, o que se refletirá em maiores dificuldades para fomentar a implantação de novos.
Do ponto de vista das alternativas para o biodiesel, a região também apresenta grande potencial para o amendoim, o girassol e a própria mamona, cujas experiências no Estado do Mato Grosso e as pesquisas do Instituto Agronômico de Campinas vêm apresentando resultados satisfatórios, especialmente com as chamadas “variedades anãs”, que além da alta produtividade de campo (até 4 toneladas de baga por hectare), podem ser colhidas mecanicamente.
Cabe destacar que essa região, especialmente os Estados do Centro-Oeste, dispõe de uma grande extensão de terras agricultáveis ainda livres, que têm como ponto positivo a maior regularidade climática. Significa que, o biodiesel se consolidando como novo negócio para a agricultura brasileira, o Centro- Sul, que já concentra quase 80% do consumo nacional de combustíveis, tem plenas condições de expandir sua base produtiva agrícola, com foco na autosuficiência, tal como ocorreu com o álcool combustível.