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Biodiesel

Paraná não tem vocação para produzir biodiesel, diz Stephanes


Gazeta do Povo - PR - 18 set 2007 - 08:30 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse ontem que o Paraná não tem vocação para a produção de biodiesel em larga escala, apesar de o estado ser o segundo maior produtor de soja, principal matéria-prima do combustível. Segundo ele, o óleo de soja, embora seja utilizado em 90% do biodiesel produzido atualmente no Brasil, não é economicamente viável. As declarações do ministro foram feitas durante o lançamento da Expedição Caminhos do Campo, promovido pela Rede Paranaense de Comunicação (RPC). Um dos objetivos da expedição, que vai percorrer o interior do estado durante um mês, é levantar dados sobre a produção de grãos e de biodiesel.

Diesel verde está em “banho-maria”

O mercado do biodiesel está em “banho-maria”. A avaliação é do presidente do Conselho de Administração da Ubrabio, Juan Diego Ferrés. O setor privado está fazendo reuniões constantes com o governo federal na tentativa de sanar as dificuldades atuais. “Estamos em um momento crítico. Do jeito que está, coloca em risco o início do programa, em 8 de janeiro”, declarou.

O ministro Reinhold Stephanes, no lançamento da Expedição Caminhos do Campo, da Gazeta do PovoSegundo Ferrés, os canais de distribuição não funcionaram bem neste ano e por isso o governo federal diminuiu o ritmo dos leilões para aquisição do biodiesel. No ano passado, cerca de 880 milhões de litros foram conprados, contra apenas 50 milhões neste ano.

O diretor do departamento de combustíveis renováveis do Ministério de Minas e Energia, Francisco Dornelles, diz que o mercado de biodiesel está se comportando bem. “As distribuidoras estão se preparando, algumas usinas estão sendo concluídas e mantemos reuniões para monitorar o andamento do programa e fazer esclarecimentos”, afirmou. Segundo ele, o cronograma do projeto está mantido.

Segundo Dornelles, o governo está investindo em pesquisa para aprimorar os conhecimentos agronômicos de outras culturas que podem ser utilizadas na produção do biodiesel, como girassol e nabo forrageiro. O Tecpar, que inaugurou uma usina em julho, está fazendo testes com biodiesel a base de girassol. “Estamos em um processo irreversível. Temos de atacar o problema todos juntos e trabalhar intensivamente com pesquisa”, disse o diretor-técnico do Tecpar, Bill Jorge Costa. (RF)
“Apesar de neste ano a soja ter sido utilizada em 90% do biodiesel produzido no Brasil, sabemos que não é a planta mais adequada”, afirmou. Para Stephanes, as experiências de produção de biodiesel no estado ficarão limitadas a atender pequenas localidades e alguns produtores que atuem em áreas próximas. “O Paraná não demonstra vocação para o biodiesel. Isso não quer dizer que, com o tempo, com novas pesquisas, isso não possa ser revertido”, declarou.

A partir de 8 de janeiro de 2008 será obrigatória a mistura de 2% de biodiesel ao diesel comercializado em todo o país, conhecida como mistura B2. A demanda interna pelo novo combustível é estimada em 840 milhões de litros. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, cerca de 5 mil postos já estão vendendo o produto.

O diretor-técnico do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Bill Jorge Costa, concorda com a avaliação feita por Stephanes. Costa é representante regional do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. “Apesar de sermos grandes produtores do grão, a nossa produção já tem destino certo. O agricultor não vai deixar de vender soja para a cooperativa, onde tem retorno garantido, para entrar em um setor no qual ele tem dúvidas”, observou.

Segundo ele, a demanda paranaense por biodiesel ainda é muito baixa e há apenas uma planta comercial do combustível, a Biolix, em Rolândia (norte do estado). “As grandes indústrias de biodiesel têm procurado comprar matéria-prima aqui, mas os preços oferecidos não são atraentes”, disse.

Produção

Os empresários ligados à produção do combustível defendem o uso do óleo de soja como matéria-prima. “A soja é a única matéria-prima disponível e na quantidade suficiente para ser direcionada para este programa”, disse Sérgio Beltrão, diretor da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), entidade que reúne 25 empresas. Ele reconhece que o potencial do grão é limitado (há apenas 18% de óleo), e há outras oleagionosas que poderiam ser melhor aproveitadas. “Mas no momento é a única opção viável.”

Para o presidente do Conselho de Administração da Ubrabio e sócio-diretor da empresa Granol, Juan Diego Ferrés, a demanda nacional e mundial por biodiesel contribuiu para que a soja alcançasse preços tão elevados. Segundo ele, quando o programa de biodiesel foi lançado, há quatro anos, a tonelada do óleo da soja estava cotada a US$ 270. Atualmente, esse valor é de US$ 900.

“Precisamos ver que isso significa remuneração alta para os produtores, que vai permitir que eles saiam do atoleiro da crise sistêmica na qual vivem, constantemente refinanciando dívidas agrícolas.” Ele também defende as vantagens ecológicas do biodiesel. “Países desenvolvidos estão dando preferência aos combustíveis alternativos. O Brasil também deve estar disposto a isso, mesmo que fique um pouco mais caro.” O impacto no preço do diesel com a mistura B2 é estimado por ele em 0,6%.

por ROSANA FÉLIX
Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo