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Energia

Produtores mundiais de soja firmam acordo para tentar controlar demanda


Gazeta Mercantil e Valor Econômico - 11 mai 2007 - 06:26 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

A cadeia produtiva da soja do Brasil firmou ontem acordo com representantes americanos desse setor para discutir e agir em problemas comuns aos dois países. Parceria semelhante já havia sido firmada pelas empresas americanas - via American Soybean Association (ASA) - com produtores argentinos e paraguaios. Juntos, esses países representam 90% da produção mundial da oleaginosa.

Marcelo Duarte, gerente-administrativo da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) de Mato Grosso, maior estado produtor da oleaginosa no Brasil, reforça que não se trata de cartelização, apesar de os países reunirem quase que a totalidade da produção mundial. "O objetivo não é combinar preços ou controlar oferta, mas estimular demanda pelos derivados da soja", garante Duarte.

Segundo o diretor-global da ASA, Craig Ratajczyk, o acordo pretende criar condições para ações conjuntas para a queda de barreiras que restrinjam o mercado, como as de entrada de soja transgênica. "Os europeus, por exemplo, ainda têm restrições na importação de OGMs. A Índia tem imposto para complexo soja. Podemos atuar juntos nesses gargalos", diz.

Ele também acrescenta a parceria contra a quebra de contratos por conta de exigências drásticas, como o que ocorreu há dois anos entre Brasil e China, que embargou carregamento do Brasil com justificativa de contaminação.

Mas, neste momento, o primeiro passo será para abrir novos mercados consumidores para o complexo soja, segundo o representante da ASA. O foco inicial é a Índia, país com a qual a ASA firmou acordo em dezembro de 2006 para estimular o consumo dos derivados da oleaginosa. A meta é que, em 2010, o mercado interno do país asiático já esteja absorvendo o total de sua produção de soja - 6 milhões de toneladas - e começando a importar.

Os americanos iniciaram investimento anual de US$ 1 milhão na Índia para atingir esse objetivo, com foco, principalmente em ações de marketing nas indústrias de ração, que abastecem a produção animal, sobretudo a leiteira. Segundo Ricardo Arioli, vice-diretor administrativo da Aprosoja, o Brasil também aportará recursos nesse projeto em 2007, apesar de os valores e as fontes ainda não terem sido definidos.

Com população de cerca de 1 bilhão de pessoas, a Índia tem consumo anual de 1,7 quilo de soja por habitante, número muito abaixo do registrado na China, por exemplo, onde há população semelhante, de 1,3 bilhão de habitantes, consumindo, cada um, em torno de 20 quilos de soja por ano.

A preocupação em prospectar outros mercados para o complexo soja, segundo Ratajczyk, se deve perspectiva de queda da demanda do consumo de soja nos próximos 20 anos. Vários cenários são vislumbrados por causa da substituição por outras matérias-primas no longo prazo. "O óleo de soja na produção de biodiesel terá forte concorrência do óleo de palma, produzido na Índia, por exemplo. A retração também ocorrerá com o farelo de soja, que sofrerá concorrência do DDG, proteína resultante da produção de etanol a partir de milho e que pode ser usado na mistura de ração animal.

Gazeta Mercantil

Perto de perder a liderança em soja, americanos agora buscam parceria

Conscientes de que em breve perderão definitivamente a liderança nas exportações de soja em grão e preocupados com a concorrência entre a oleaginosa e o milho nas lavouras americanas, os Estados Unidos trabalham num plano para o desenvolvimento da cadeia de soja até 2020, em parceria com Brasil, Argentina e Paraguai.

Craig Ratajczyk, diretor de assuntos globais e alianças do Conselho de Exportação de Soja dos EUA (Ussec, sigla em inglês), afirmou que os principais objetivos dos americanos são investir em pesquisas para desenvolver produtos de alto valor agregado a partir da soja - como plásticos, tintas e outros polímeros, atualmente feitos a partir do petróleo - e abrir mercados. Para isso, fecharam em dezembro de 2006 um acordo com os países sul-americanos. O primeiro país em foco é a Índia.

"A Índia possui 1 bilhão de habitantes, e a maioria é vegetariana. Hoje as importações são mínimas mas há potencial para que até 5% das exportações mundiais vão para aquele país", afirmou Ratajczyk.

Ele observou que Brasil e Argentina têm um grande potencial para aproveitar a soja na produção de biodiesel, mas o mesmo não ocorre nos Estados Unidos. "O custo de produção lá é maior que na Argentina e, dependendo dos preços internacionais, é mais rentável produzir biodiesel a partir da canola ou do girassol", comparou. O governo americano estima a produção de biodiesel do país em 300 milhões de litros neste ano. Por isso o interesse das indústrias em desenvolver produtos a partir da soja.

As esmagadoras de soja dos EUA também se deparam com uma capacidade ociosa grande, em torno de 20%. Na Argentina o índice é o mesmo e, no Brasil, 25%. "Outra questão é que as fábricas estão velhas, mais que as instaladas na América do Sul", observou. Conforme Ratajczyk, também preocupa aos americanos os investimentos crescentes das multinacionais na China, no Leste Europeu e na América Latina. "Essas regiões serão grandes fornecedoras de grãos. Temos que nos diferenciar oferecendo produtos novos."

Do lado da demanda, os Estados Unidos também são pressionados pela necessidade de reduzir a área plantada com soja e ampliar a área de milho. Projeção feita pela Agência Rural revela que, para atender à demanda de etanol, os Estados Unidos terão de aumentar a área com milho de 32 milhões para 39 milhões de hectares até 2010. Em conseqüência, deverão reduzir a área de soja de 30 milhões para cerca de 25 milhões de hectares.

"Essa redução abre um grande mercado potencial para o Brasil", afirma Fernando Muraro, analista da Agência Rural. Conforme projeção feita pela RC Consultores, o Brasil deve produzir 70,6 milhões de toneladas de soja em 2010 e 105 milhões até 2020. Ratajczyk, da Ussec, acrescenta que a expansão de área nos EUA também é limitada pelo Programa de Conservação de Reservas (CRP).

Conforme Ratajczyk, ainda não há previsões sobre o futuro do plantio da soja nos Estados Unidos. A cadeia produtiva fia-se nas projeções feitas pelo USDA. "É difícil fazer uma projeção de longo prazo. As políticas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Farm Bill exercem um grande impacto sobre as decisões de plantio", afirmou. Além disso, disse, China e Leste Europeu são imprevisíveis no longo prazo. Ele reiterou que hoje os estoques globais são grandes e não descartou a possibilidade de importar soja do Brasil no futuro. "Já importamos farelo no passado. Se for necessário, certamente faremos isso."

Valor Econômico