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Biodiesel

Nova técnica garante qualidade do biodiesel


Jornal da Unicamp - 22 ago 2007 - 12:59 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Uma metodologia capaz de identificar com rapidez e precisão o padrão de qualidade do biodiesel acaba de ser desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. A técnica, inédita no mundo, foi desenvolvida juntamente com a Petrobrás, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

O novo método deverá ser adotado pelo Inmetro e será empregado para certificar o biocombustível produzido no Brasil, o que deverá ampliar a sua aceitação tanto pelo mercado interno quanto externo. O biodiesel tem sido uma das apostas do governo federal dentro do programa de diversificação da matriz energética nacional.

A técnica é resultado do trabalho de pesquisadores do Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, cujo coordenador é o professor Marcos Eberlin, e o Laboratório Phoenix de Catálise e Biomassa, ambos do IQ. Participaram diretamente da pesquisa na Unicamp o farmacêutico Rodrigo Ramos Catharino e os químicos Camila Martins Garcia, Sérgio Saraiva e Humberto M. S. Milagre.

Os cientistas contam que o estudo enfrentou algumas dificuldades em seu início. A principal delas foi a baixa qualidade do biodiesel produzido comercialmente no país. Após analisar quimicamente algumas amostras, Catharino e Saraiva verificaram que os produtos tinham elevado teor de impurezas. Muitos resultavam da mistura do biocombustível com outras substâncias, principalmente o óleo de soja.

Os pesquisadores Sérgio Saraiva, Camila Martins Garcia e Rodrigo Ramos Catharino, no Laboratório
Os pesquisadores Sérgio Saraiva, Camila Martins Garcia e Rodrigo Ramos Catharino, no Laboratório.


"Como precisávamos de um biodiesel de origem controlada e de extrema qualidade para estabelecer um padrão de análise, decidimos recorrer à Camila Garcia, que trabalha justamente nessa área”, explica Catharino. Aluna do programa de doutorado e orientanda da professora Regina Buffon, ela integra a equipe do professor Ulf Friedrich Schuchardt, um dos maiores especialistas do país em catálise.

Conforme Camila, entre as atividades realizadas no laboratório do professor Ulf está a produção de biodiesel em escala laboratorial por meio de catalisadores homogêneos e heterogêneos. Na pesquisa em questão, ela produziu o biodiesel a partir da chamada “rota clássica”, ou seja, utilizando catalisadores alcalinos homogêneos, mesmo processo empregado comercialmente.

As matérias-primas normalmente usadas por ela para a geração do biocombustível são os óleos de soja, milho, girassol e mamona, além de banha e sebo animal e óleo de fritura, entre outros. “Após a produção do biodiesel, nós fazemos a purificação do produto, que consiste na eliminação do catalisador e da glicerina. Com isso, obtemos um combustível de extrema qualidade”, assegura a pesquisadora.

De posse desse biodiesel de fonte conhecida e livre de impurezas, Catharino e Saraiva finalmente puderam retomar as análises químicas, realizadas com o auxílio de um equipamento chamado espectrômetro de massas. Nesse caso, o que os cientistas fazem é diluir 300 microlitros do biocombustível em 1 mililitro de metanol e água e injetar a mistura diretamente no aparelho.

O espectrômetro, por sua vez, faz uma espécie de varredura de todas as substâncias presentes na amostra e emite gráficos com informações detalhadas acerca desses componentes. “Ou seja, se houver traços de alguma impureza – óleo, intermediários da reação, glicerol, álcool e/ou catalisador – presente no biodiesel, o método certamente identificará em questão de minutos”, assegura Catharino.

Sérgio Saraiva acrescenta que a técnica também é capaz de determinar a fonte graxa (vegetal ou animal) que deu origem ao biodiesel. Isso é feito por meio da análise do perfil dos ácidos graxos das amostras. O químico explica que o teor e o tipo do ácido graxo variam de acordo com a matéria-prima. &ldquConseqüentemente, se o biodiesel for produzido a partir de óleo de soja, a composição em ácidos graxos do biocombustível será a mesma apresentada pela matéria-prima”, exemplifica Rodrigo Catharino.

"Através dessa técnica, também é possível identificar o nível de degradação do biodiesel, recurso importante para a avaliação tanto da estabilidade desse combustível, durante o seu uso em motores do ciclo diesel, quanto das condições de armazenamento do mesmo”, complementa Camila.

Nove fontes
Ao longo da pesquisa, os especialistas do IQ promoveram a análise química de biodiesel produzido a partir de nove fontes graxas: mamona, pinhão manso, canola, girassol, oliva, soja, banha animal, sebo animal e palma (dendê). O método empregado, conforme os cientistas, mostrou-se rápido e preciso.

Os resultados foram encaminhados recentemente ao Inmetro, que está fazendo a avaliação final da técnica. “Nossa expectativa é de que a tecnologia venha a ser adotada oficialmente pelo órgão para estabelecer o padrão nacional do biodiesel”, revela Catharino. Caso isso venha a acontecer, uma das possibilidades, segundo os cientistas, é que o órgão federal monte uma planta própria para produzir e analisar o biocombustível, de modo a compará-lo com os produtos encontrados no mercado. Nesse caso, os pesquisadores da Unicamp orientariam na implantação da unidade.

"Isso seria altamente gratificante para nós, pois teríamos a oportunidade de ver nossa tecnologia sendo aplicada e trazendo benefícios para o país”, observa Catharino, que conta com a aquiescência dos outros dois parceiros.

MANUEL ALVES FILHO
Crédito da imagem: Antoninho Perri/Unicamp