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[Análise] As estratégias e o 13º leilão de biodiesel


BiodieselBR.com - 02 mar 2009 - 12:35 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:08

O leilão de biodiesel realizado sexta-feira (27/02) evidenciou o erro do governo em não implantar o B4 no segundo trimestre de 2009. O volume de oferta de biodiesel foi quase o dobro do volume necessário para B3 e mostrou que hoje existe oferta de biodiesel para suprir o B5 sem problemas.

Já era sabido por todos que a capacidade de biodiesel instalada era muito maior que o B3, mas ninguém esperava todo esse volume a venda no leilão. Prova disso foi a diferença nos preços praticados no primeiro e no segundo lote. Enquanto no primeiro o preço de corte foi R$ 2,28, no segundo foi de R$ 2,005. Um deságio de 5,82% contra um de 20,11%. As usinas levaram em consideração a política de preços praticada nos últimos leilões, onde o deságio era ínfimo, e na primeira rodada do primeiro lote deram lances com esse pequeno deságio. Após essa rodada algumas usinas perceberam que havia muita oferta e baixaram consideravelmente o preço do biodiesel. Entretanto, algumas não imaginaram que a grande oferta se traduziria em agressividade nos preços e continuaram com a mesma tática dos leilões presenciais anteriores, reduzindo pouco ou nada o preço da primeira rodada. Acabaram ficando de fora.

Nesse último grupo estão, entre outras, a ADM, a Petrobras e a Binatural. Essas três empresas deram alguns dos preços mais baixos durante o primeiro lote e não reduziram o valor de suas ofertas na segunda rodada. Essa estratégia funcionou muito bem nos últimos leilões, pois a oferta de biodiesel era menor e a perspectiva de preço do óleo de soja era de alta. Dessa vez o volume de biodiesel ofertado no primeiro lote foi exatamente o dobro requerido e o período de entrega desse leilão é onde os preços da soja estão mais baixos. Por esses motivos a estratégia se mostrou errada. A ADM ainda conseguiu ficar na linha de corte e vender 8 milhões de litros no primeiro lote. Esse volume acabou sendo acrescido de mais 7 milhões de litros em razão da desabilitação da Barrálcool. Contudo, a Barrálcool pode reaver esse volume vendido e a ADM voltar a ficar com os 8 milhões de litros.

Essas mesmas usinas que não reduziram seus preços no primeiro lote apresentaram preços menores no segundo lote. O que mostra que a empresa podia vender por um preço mais baixo. A ADM baixou seu menor preço de R$ 2,28 para R$ 2,15, e mesmo assim ficou de fora da segunda rodada do lote 2. O preço oferecido por ela no segundo lote foi mais baixo que o menor valor do primeiro lote, de R$ 2,18 dado pela BSBios. O mesmo ocorreu com a Binatural.

Destas empreas a única que conseguiu vender na segunda fase foi a Petrobras, que adotou uma estratégia do tipo “vender-a-qualquer-prejuízo”, e vendeu 16,5 milhões de litros de biodiesel a R$ 1,70 o litro, valor mais barato que o preço do óleo de soja degomado.

Esses exemplos mostram que as usinas não esperavam uma oferta tão grande e, conseqüentemente, preços tão baixos.

Se a estratégia do governo de deixar o B4 para o segundo trimestre foi motivada por situações que não o desequilíbrio entre oferta e demanda, estas razões deveriam ter sido apresentadas ao setor com antecedência, para que os interessados pudessem contribuir com soluções. Dessa maneira o ônus recaiu sobre as usinas de biodiesel.

Preços
Com um deságio muito maior que o esperado, esse leilão lembrou os desagradáveis leilões 6 e 7 da ANP, que causaram o semestre negro do biodiesel no Brasil. Nestes leilões o biodiesel foi vendido abaixo do preço de custo e causaram enormes prejuízos e inadimplências no primeiro semestre de 2008.

Mas o leilão de sexta-feira não será lembrado com tanta tristeza. Apesar do deságio ter ficado muito abaixo do esperado, é possível ter lucro com os preços praticados. Obviamente não será um lucro necessário para dar retorno aos enormes investimentos que foram feitos pelas usinas, mas será na quantia necessária para continuar no negócio e torcer por preços melhores no próximo leilão. A única exceção a lucratividade é a Petrobras, que não esmaga soja e vendeu quase metade de sua produção ao preço de R$ 1,70 o litro.

O lucro ainda pode melhorar se o preço da soja continuar a cair no cenário internacional. O outro lado é que poderá ficar muito ruim se o preço subir, mas não é essa a tendência.

Petrobras Biocombustíveis
A estatal do petróleo seguiu uma estratégia condenável por todas as usinas no 13º leilão: vendeu biodiesel abaixo do preço de custo. Essa mesma estratégia já foi tomada por outras empresas no começo da obrigatoriedade com péssimas conseqüências, como a Brasil Ecodiesel está mostrando.

A Petrobras vendendo 16,5 milhões de litros de biodiesel a R$ 1,70 está tendo um prejuízo de pelo menos quinze centavos por litro, o que representa um prejuízo de 2,5 milhões de reais. A Petrobras tem que comprar o óleo pronto, já que ela não esmaga a soja e por isso tem um custo maior que as empresas esmagadoras como a Oleoplan, Caramuru e Granol. Mesmo assim a Petrobras estipulou um preço muito mais baixo para seu biocombustível.

É claro que para uma das maiores empresas do mundo esse prejuízo é insignificante, mas mostra bem que a participação da estatal no setor é política e não econômica. E deixa claro também que as usinas precisarão ficar atentas as novas unidades de biodiesel da Petrobras. Caso a estatal mantenha essa estratégia, quanto maior for sua capacidade de produção, menor será a participação das empresas privadas.

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