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[Análise] Petrobras pode adquirir empresa de biodiesel: quem são os candidatos e porquê


BiodieselBR - 30 mar 2007 - 16:52 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Análise Semanal 30.mar.07


A Petrobras estuda parcerias e aquisições de usinas de biodiesel e etanol para garantir a autonomia na produção de biocombustíveis no longo prazo. No setor específico de biodiesel, a Petrobras pretende neste ano comprar ou tornar-se sócia de uma usina no país. Estas declarações foram feitas por Mozart Queiroz, gerente de desenvolvimento energético da empresa à repórter do jornal Valor Econômico.

Não foram anunciados valores que serão investidos pela Petrobras em biocombustíveis. Todas as usinas de grande porte que já estão produzindo ou em fase de construção, bem como projetos em andamento deverão ser alvos de estudos pela Petrobras. Não dá para saber quais critérios serão adotados pela estatal para definir onde investir, mas será determinante a localização, logística e produção de matéria-prima.

Somam mais de vinte usinas consistentes passíveis de serem analisadas pela Petrobras, entre usinas prontas, sendo construídas e novos projetos.

Se a opção da Petrobras for por apenas uma usina, são muitas as principais opções. A BSBios de Passo Fundo, empresa muito bem estruturada, localizada em uma importante região agrícola do Rio Grande do Sul, garantindo a produção de matéria-prima e a cerca de 700 km de dois portos, de Paranaguá e de Rio Grande. A Oleoplan de Veranópolis, na serra gaúcha, com características idênticas a BSBios, porém mais próxima de Caxias do Sul e Porto Alegre, grandes centros consumidores de biodiesel e próxima de um pólo de produção de aves e suínos. A Caramuru localizada em São Simão, Goiás, uma grande região produtora de grãos do estado, as margens de uma hidrovia que possibilita colocar o biodiesel perto da capital paulista à custo mais baixo. O Grupo Bertin, em Lins, São Paulo, que possui a garantia de fornecimento da matéria-prima, o sebo bovino, subproduto da atividade principal da empresa e próximo dos centros consumidores. Em São Paulo, temos ainda na cidade de Catanduva próximo a São José do Rio Preto, a Fertibom e em Taubaté as empresas Ponte di Ferro e Biopetrosul as três bem localizadas, ligadas com boas rodovias à capital paulista. A Barraálcool em Mato Grosso, estado onde o diesel é um dos mais caros do Brasil e grande produtor de matéria-prima. No estado do Tocantins, dois projetos estão em curso, um da Biotins e outro da Global Agrienergy. A substituição do diesel por biodiesel nestes dois estados evitará os custos atuais de transporte do diesel por cerca de 2 mil quilômetros.

Caso a Petrobras opte por um maior investimento, o que parece mais provável, se associando ou comprando diversas usinas, dois grupos se destacam. A Granol com projetos em três estados, Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul, com grande produção de oleaginosas e grandes consumidores de biodiesel. A Granol possui o selo combustível social e está trabalhando na organização dos pequenos produtores rurais nos três estados para a produção de matéria-prima. E em Anápolis, Goiás, está realizando a troca de óleo de cozinha usado por óleo novo, o que mostra uma preocupação social que vem de encontro aos interesses do Governo. No entanto a empresa tradicional no setor de grãos, possui na produção de biodiesel parte intimamente ligada ao seu modelo de negócio, o que poderia prejudicar o interesse da Granol na venda.

A outra alternativa é a Brasil Ecodiesel, que possui unidades e projetos espalhadas no Norte, Nordeste, Centro Oeste e Sul, e tem também incentivado a agricultura familiar. As parcerias com a agricultura familiar da Brasil Ecodiesel coincidem com o objetivo do Programa Brasileiro do Biodiesel e com que a Petrobras está fazendo no RS em parceria com a Cooperbio e Biopampa, onde a estrutura da empresa é colocada no apoio a produção e compra de oleaginosas produzidas pela agricultura familiar. Outro fator que pode levar a Petrobras a adquirir ou vir a ser uma parceira da Brasil Ecodiesel é a estreita relação da empresa com o Governo Federal. Vejam alguns pontos que mostram essa intimidade:

  • O Presidente Lula compareceu na inauguração das três unidades da Brasil Ecodiesel;
  • Em dezembro de 2006, o sobrinho de Zeca do PT (na época governador do Mato Grosso do Sul), Vander Loubet, afirmou que quem propôs a instalação da Brasil Ecodiesel no MS foi José Dirceu;
  • José Dirceu, que já não exerce nenhum cargo público, mas que tem excelentes contatos no poder, será consultor de Daniel Birmann, apontado por muitos como o sócio oculto da Brasil Ecodiesel.

Trata-se de especulação, mas a parceria da Petrobras seria um bom negócio para a Ecodiesel, pois a empresa tem de entregar grande quantidade de biodiesel vendido nos leilões a um preço considerado baixo para quem produz biodiesel de óleo de soja, e a Ecodiesel já manifestou a possibilidade de não entregar todo o biodiesel vendido nos leilões da Petrobras no prospecto divulgado antes do lançamento de suas ações na Bolsa.

De qualquer modo, a decisão da Petrobras em aumentar seus investimentos na produção de biodiesel passará a dar mais consistência e confiabilidade ao programa brasileiro de biodiesel e não caracteriza qualquer pretensão de se estabelecer monopólio na produção de biodiesel. Além do que já está passando a hora da Petrobras realizar investimentos em biocombustíveis compatíveis com seu tamanho.


Metanol
Com a produção de biodiesel pela rota metílica, aumentou o consumo de metanol no Brasil, o que está começando a causar atrasos na entrega do produto às usinas. O metanol é usado na produção de uma vasta linha de produtos, sendo o maior consumo na produção de tintas e vernizes. As usinas de biodiesel preferem usar o metanol em detrimento ao etanol, pela agilidade no processo, redução de custos, menor investimento em equipamentos e melhor conversão em éster.

Para a substituição do metanol pelo etanol anidro em grande escala na produção de biodiesel, o produto precisa de alguns incentivos públicos, como a redução da carga tributária e a liberação para as usinas venderem diretamente às distribuidoras o álcool hidratado, sub-produto da produção de biodiesel.



Investimentos
A concretização de investimentos estrangeiros no setor de biocombustíveis no Brasil tem crescido na mesma proporção da necessidade estratégica e ambiental que muitos países estão adotando para diminuir a dependência do petróleo e reduzir a emissão de CO2. Os maiores investimentos até agora se concentraram no setor de etanol, justamente porque este setor está estruturado, vem se consolidando há mais de 30 anos e passa por um bom momento, com boas perspectivas de mercado e de lucro daqui para frente. Já o setor de biodiesel por ser mais novo, tem recebido muitas promessas de investimentos estrangeiros que até agora não se concretizaram. Se olharmos as usinas de biodiesel existentes no Brasil e as que estão sendo construídas nota-se que são investimentos de empresas nacionais, como a Brasil Ecodiesel, Barraálcool, BSBios, Fertibom, Oleoplan, Bertin, Caramuru, Granol e a Petrobras.

As principais motivos que atrapalham estes investimentos são as falhas da regulamentação brasileira (leia-se ganância fiscal), e no custo da principal matéria-prima, o óleo de soja, que leva o preço do biodiesel a valores acima do diesel mineral. Há viabilidade na produção para a exportação, onde existe uma menor carga tributária e preços mais atraentes, mas é necessário resolver o problema de logística e de infra-estrutura portuária. O atraso de novos investimentos também estão associados a demora natural em produzir outras oleaginosas em quantidade suficiente para suprir a produção de uma usina de biodiesel.


Investimento italiano
Nesta semana durante visita do primeiro ministro italiano Romano Prodi ao Brasil, foi confirmado o investimento de R$ 480 milhões de reais. O valor informado coincide com o divulgado pela empresa Brasbiofuel para a construção de quatro usinas de biodiesel no Brasil, sendo a primeira em Araucária no Paraná. O anúncio feito pelo primeiro ministro italiano passou a dar mais credibilidade ao projeto anunciado pela Brasbiofuel, que fora recebido com um pouco de cautela por promever uma produção de 360 milhões de litros já em janeiro de 2008 e por utilizar girassol vindo da Ucrânia na produção. Com o aval do primeiro ministro da Itália, o projeto ganha outra relevância e pode sair do grupo de projetos que são anunciados, mas dificilmente se concretizam.

A Secretária de Indústria e Comércio de Araucária foi contatada pela BiodieselBR.com e informou que ficou sabendo dos investimentos a serem realizados na cidade através da mídia e que não há nenhuma área definida para a construção da Usina.


Preço dos produtos agrícolas
Esta semana o relatório do banco de investimentos Goldman Sachs colocou que: “A recente alta dos preços agrícolas não é um pico transitório, mas talvez represente o começo de um aumento estrutural de preços”. Mais adiante o relatório afirma: “Uma combinação de alimento, ração e combustível mudou a tendência para cima e aumentou a demanda por produtos agrícolas”.

Este relatório vem para ratificar o que já fora escrito aqui em outras análises, que o preço dos produtos agrícolas (milho, oleaginosas e gordura animal) passaria a ser influenciado mais pelo preço do petróleo e deixaria em segundo plano a influência que o setor alimentício sempre exerceu sobre estes produtos.


Brasil e EUA
No final desta semana o presidente Lula terá novo encontro com o presidente norte-americano George W. Bush, o segundo em menos de 30 dias, desta vez em Camp David, a residência de campo da Presidência dos EUA. Os principais assuntos a serem tratados serão o capitulo agrícola da Rodada de Doha, o avanço nas posições dos dois países nas negociações agrícolas da Organização Mundial do Comércio (OMC) e mais detalhes na produção de biocombustíveis também farão parte da conversa entre os presidentes. O projeto americano prevê a substituição de 20% da gasolina por etanol até 2020, isto representa 120 bilhões de litros de álcool por ano. Hoje os EUA produzem 18 bilhões de litros de etanol por ano basicamente de milho. Participar deste mercado é o interesse dos usineiros brasileiros, pois dificilmente os americanos terão condições de alcançar esta produção.


Cotações:
Óleo de soja, bolsa de Chicago, contrato para maio fechou nesta sexta feira a U$ 0,3250 por libra peso, com alta na semana de 1,65 %.

A divulgação do relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevendo um aumento de 15% na área plantada com milho em relação ao ano anterior foi interpretado pelos analistas como baixista, derrubando os preços do milho, com limite de baixa no dia, puxando para baixo o preço da soja e do óleo.


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