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Análise da semana 09.abr.07


BiodieselBR - 09 abr 2007 - 14:21 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Análise Semanal 09.abr.07

Olá Assinante.

O assunto que dominou as discussões na semana passada foi a concorrência dos biocombustíveis com o setor alimentício. De um lado vemos declarações contrárias a produção de biocombustíveis de pessoas que ganham muito com o petróleo, e do outro ecologistas, que temem o desmatamento e a desertificação em nome do combate ao aquecimento global, e no meio dessa discussão está o mundo capitalista, que vê na produção de biocombustíveis mais uma forma de ganhar dinheiro.

O ditador cubano Fidel Castro, em dois artigos ataca a produção de biocombustíveis em detrimento à produção de alimentos. Alegando que os espaços utilizados para produzir alimentos serão substituídos pela produção de combustível trazendo aumento da fome mundial. A tese foi defendida também por dois professores da universidade de Minessota em interessante artigo publicado na conceituda "Foreign Affairs". Na União européia o governo se defende do tema afirmando que a meta de incorporar 10% de bicombustível nos combustíveis fósseis até 2020, não compromete o setor alimentício, pois viria a fortalecer os produtores rurais dando mais alternativas. Posição contestada com números pela associação das indústrias de alimentos que afirmam que o preço do óleo de colza dobrou nos últimos cinco anos, o milho alcançou o preço máximo dos últimos 10 anos, o preços dos cereais, amidos e glicose subiram 20% e o óleo de soja e palma estão se mantendo em patamares altíssimos, comprometendo a estabilidade de preços dos alimentos. As indústrias alimentícias européias se queixam também da concorrência em usar óleo de colza, subsidiado para as usinas de biodiesel.

Já o governo brasileiro refutou a idéia, alegando que o problema do mundo é de falta de dinheiro e não falta de alimentos. A primeira vista parece que o governo brasileiro está correto e o que falta no mundo é dinheiro para que pobres comprem comida e não que faltem alimentos, mas o problema é mais complexo.

A utilização de grãos comestíveis para produção de combustíveis fará com que seus preços sejam balizados pelo preço do petróleo e com isso todos os produtos fabricados com esses grãos subirão de acordo petróleo. Esse aumento fará com que milhões de pobres no mundo comam ainda menos. Esse problema já aconteceu no México, onde a tortilha subiu 80% no final de 2006, graças ao aumento do preço do milho norte-americano (utilizado para fazer etanol) e levou os mexicanos a protestarem ferozmente nas ruas. E nos EUA, representantes das indústrias de laticínios, de aves e de gado, na esperança de conter a elevação dos preços de milho (utilizado na ração), querem acabar com os subsídios para o etanol de milho, que está provocando aumento no preço carne. Este foram os primeiros casos, muitos outros problemas podem vir a ocorrer e a maioria dos casos envolvendo a população mais carente, ficará fora dos holofotes da grande mídia.

Uma projeção do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar (IFPI), de Washington, diz que o preço de oleaginosas deve subir 26% até 2010 e 76% até 2020, do milho 20% até 2010 e 41% até 2020 e o trigo 11% até 2010 e 30% até 2020. O impacto desse aumento no consumo de alimentos entre os pobres do mundo não foi calculado, mas é possível ter uma idéia do aumento da fome no mundo se consideramos um estudo do Banco Mundial. Este sugere que o consumo de calorias cai cerca de 0,5% sempre que o preço médio de alimentos básicos sobe 1%.

No Brasil o etanol não traz impacto no preço dos alimentos do mundo, pois a matéria-prima utilizada é a cana-de-açúcar e as terras utilizadas para esse plantio são terras degradadas pela pecuária extensiva. Existem hoje cerca de 200 milhões de hectares de pastagens degradados e subutilizados que podem ser utilizados para produção de etanol (somente 3 milhões de hectares são usados para o plantio de cana). Já a produção de biodiesel no Brasil influenciará significativamente o preço da soja no mundo, com sua utilização como ingrediente principal para a produção de bilhões de litros de biodiesel.

O problema da alta nos preços dos grãos e conseqüente aumento da fome no mundo será menor se os investimentos em tecnologias que produzam biocombustíveis com novas matérias-primas derem resultados práticos e pesquisas sobre novas fontes de energia se desenvolverem no mundo inteiro. Nos Estados Unidos, plantações de diversas espécies nativas de fenos e plantas perenes em terras menos férteis e degradadas pela agricultura mostraram-se altamente interessantes utilizando-se técnicas de bioengenharia de enzimas que transformam plantas em açúcares que fermentados produzem o etanol. E o Departamento de Energia norte-americano irá construir 6 bio-refinarias para produzir etanol a partir de celulose, ao custo de 385 milhões de dólares. Essa pode ser a alternativa para o milho na produção de etanol, pois o etanol de celulose tem um balanço energético entre 5 e 6, enquanto o milho não passa de 1,5 (com a cana o valor é de até 8).

No momento o etanol e o biodiesel estão em evidência máxima, ao longo dos próximos anos, com a conclusão das pesquisas em andamento e as novas soluções na produção de energia, tudo poderá virar energia, até o nosso lixo doméstico, que hoje é um problema para as administrações públicas será matéria-prima para a geração de energia.

A influência nos preços que a energia causou no setor alimentício é recente. Na realidade o mercado começou a notar isto a partir de outubro do ano passado. A utilização de produtos agrícolas para fins energéticos causaram turbulências em um mercado que tinha somente uma finalidade, a alimentação e seu consumo, em tese, aumentava de acordo com o aumento populacional. A busca por um equilíbrio na produção agrícola para atender as duas demandas, com o objetivo de diminuir a fome no mundo e reduzir a emissão de gases nocivos deverá ser a tônica dos trabalhos de pesquisadores, cientistas e governos para os próximos anos.

A necessidade mundial por energia é imensa, o aquecimento global uma realidade e encontrar outras formas de energia mais limpa, uma necessidade. Os biocombustíveis podem ajudar a equilibrar a necessidade tanto de alimentos como de energia e manter um planeta habitável, desde que sejam implementadas políticas de planejamento que favoreçam as melhores opções na produção de matérias-primas e expansão agrícola.


Receita federal
Circula entre produtores de biodiesel a informação que a Receita Federal estaria interpretando de maneira diferente a redução do PIS/COFINS para as empresas detentoras do Selo Combustível Social. Pela interpretação da Receita Federal, as empresas somente teriam redução de PIS/COFINS sobre o percentual de matéria-prima adquirida da agricultura familiar. O restante do biodiesel produzido pagaria a carga tributária integral. O futuro do biodiesel depende de legislação clara e objetiva, não pode ficar a mercê de interpretações de acordo com a conveniência de cada agente.



Óleo vegetal
Em razão da constante queda do dólar, as usinas que precisam comprar óleos vegetais para transformar em biodiesel não estão pagando mais caro por essa matéria-prima. Na bolsa de Chicago o óleo chegou a ser cotado a U$ 0,33 centavos por libra peso, nos últimos dias, alcançando U$ 730 por tonelada. Esse aumento do óleo de soja na bolsa de Chicago não se refletiu no mercado interno “graças” a desvalorização do dólar. E com o real cada vez mais forte frente ao dólar (mais de 30% em dois anos), pode haver uma redução inédita no preço do diesel. O último reajuste no preço do diesel aconteceu no último trimestre de 2004 quando o dólar valia quase R$ 3,00 e o barril de petróleo estava cotado em cerca de US$ 50.


Milho e soja
O relatório de intenções de plantio divulgado na sexta feira passada (30/03) pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), elevou em 15% a área de plantio de milho e reduziu de 11% na área de soja, fez com que os preços do milho na bolsa de Chicago sofressem uma desvalorização de mais 10% em três pregões da bolsa, enquanto a soja e o óleo de soja se mantiveram praticamente estáveis.


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