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Análise da Semana: 01.out.07


BiodieselBR - 30 set 2007 - 19:04 - Última atualização em: 13 nov 2011 - 22:21

Análise Semanal 01.out.07


Capacidade X necessidade
Nesta semana diretores da Ubrabio – (União Brasileira das Indústrias de Biodiesel) participaram de uma audiência com o Presidente da República e a Ministra Dilma Rousseff. A grande capacidade de produção de biodiesel instalada no Brasil e uma possível produção superior à demanda foram assuntos de destaque na conversa.

Equacionado o problema da matéria-prima, as usinas de biodiesel brasileiras autorizadas podem produzir com folga 150 milhões de litros por mês, o dobro do necessário para a mistura de 2% que entrará em vigor em janeiro próximo. Uma capacidade de produção duas vezes maior que o consumo e o alto preço da principal matéria-prima colocam em alerta as usinas de biodiesel. Caso todas as usinas produzam, sobrará biodiesel no mercado e forçará um preço menor.

Contudo, para que o programa de biodiesel dê certo é preciso que a capacidade de produção seja maior que a demanda, senão as distribuidoras é que ficariam reféns das usinas de biodiesel. O que deve ser discutido é quanto maior essa capacidade deve ser.

O cenário como está acirrará a competição entre as usinas e beneficiará aquelas que foram feitas com base em projetos bem-estruturados. Como a matéria-prima representa o maior custo de uma usina, obtê-la com um custo menor trará uma vantagem competitiva, o que permitirá a usina vender seu biodiesel a um preço menor sem que isso represente prejuízo. Outro fator que fará diferença é a tecnologia usada pela empresa. Uma tecnologia que aproveite melhor a matéria-prima, consumindo menos recursos para fazer biodiesel também estará alguns centavos à frente da concorrência.

E o que vai acontecer àqueles que tiverem uma tecnologia que desperdice matéria-prima ou que tenha um gasto muito grande para comprar ou transportar essa matéria-prima? É provável que fechem as portas ou, se tiverem dinheiro, invistam para o aperfeiçoamento de seu sistema produtivo. O fechamento de empresas de biodiesel pode ocorrer como em todos os negócios. Será a máxima “quem não tem competência não se estabelece” em ação. E isso é salutar para o mercado de biodiesel.

Mas o excesso de oferta deve ser analisado pelo governo com cuidado. Um consumo de apenas a metade da oferta pode ser muito pouco e empresas com bons projetos podem acabar sendo penalizadas por terem respondido ao chamado do governo de produzir biodiesel.

Por essa razão é pertinente elevar o percentual obrigatório já a partir de meados do próximo ano, após alguns meses do início da vigência da lei será feita uma avaliação do programa. Sendo constatados por esta avaliação condições de produção e garantias de cumprimento, novas metas serão estabelecidas, entre elas a possibilidade de se aumentar de imediato a mistura de 2% para 5% divididos em três etapas de 1% cada.

Dependência
Outro assunto tratado na reunião foi a dependência que o setor tem do óleo de soja para a produção de biodiesel. Hoje este percentual é de cerca de 80%. A Ubrabio pediu ao governo uma política agrícola para a produção de outras oleaginosas para biodiesel.

A produção de outras oleaginosas é tese defendida desde o início do programa por boa parte dos envolvidos no setor. Os que defendem a produção de alternativas agrícolas para biodiesel o fazem simplesmente observando a realidade brasileira. Temos no Brasil no período de março a outubro cerca de 28 milhões de hectares de terras em que o produtor rural não planta nada que lhe dê retorno. Este produtor tem as terras prontas, tem as máquinas e a tecnologia de produção, falta apenas uma empresa que garanta em contrato a compra da oleaginosa (que pode ser o girassol, a canola, o nabo forrageiro, o crambe e a linhaça) que ele tem condições de produzir. Isto para a agricultura mecanizada ou para os agricultores envolvidos no agronegócio da soja.

No outro lado temos a agricultura familiar que também está pronta para participar da agroenergia. Estes produtores também têm terras e vontade de produzir, mamona, pinhão-manso, tungue, palmeiras entre outras plantas. O Programa Brasileiro de Biodiesel lançado em 2005 premiou com muita ênfase a mamona para a agricultura familiar. Nas três safras após o lançamento do programa o cultivo de mamona não prosperou, a área plantada nas últimas três safras não sai da casa dos 160 mil hectares e a produtividade também está estagnada abaixo dos 700 quilos por hectare. Tanto quanto a agricultura do agronegócio, a agricultura familiar também precisa de garantia de preço de sua produção.

Diminuir o percentual de soja utilizado para fazer biodiesel deve ser uma das grandes preocupações do governo em 2008. Só um leque variado de oleaginosas produzidas em grande escala, poderá fazer do programa de biodiesel um sucesso de longo prazo.


Mercado
Na produção de grãos, o segundo semestre no Brasil é sinônimo de entressafra. O preço da soja e seus derivados normalmente “descolam” de Chicago e só voltam a se encontrar no começo de nossa colheita de soja no mês de março. Quase todos os anos na entressafra os preços do complexo soja são empurrados para cima no mercado interno. Veja as cotações desta semana do óleo de soja na bolsa de Chicago e do mercado interno:

Bolsa de Chicago fechamento do dia 27/09 – U$ 0,3968 por libra peso, correspondente a U$ 875 por tonelada ou R$ 1.610 porto de Paranaguá.

Já no mercado interno a cotação do óleo degomado posto em São Paulo em reais com ICMS fechou a R$ 2.000 ou U$ 1.092,25% mais caro do que na exportação.

Preços altos do óleo de soja hoje e para os próximos meses contribuem para as incertezas quanto à produção de biodiesel para atender a demanda obrigatória nos primeiros meses do próximo ano.


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24 set

  • O Paraná como produtor de biodiesel
  • Saldo positivo dos eventos

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