PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
022

Meio Ambiente: Soja e Etanol


Edição de Abr / Mai de 2011 - 06 jun 2011 - 14:40 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:37

Soja

As medidas restritivas na Europa devem ser aumentadas de maneira ainda mais incisiva nos próximos anos. E as mudanças poderão até mesmo tornar proibitivo o uso de algumas matérias-primas hoje comuns para a fabricação de biocombustíveis. Entre as matérias-primas de grande uso em território europeu, por exemplo, está a colza. O Brasil tem um problema mais sério, pois a soja não atende aos padrões que deverão ser impostos pelos europeus. Esta situação é atualmente motivo de grande disputa com os EUA, que buscam a exportação e, a exemplo do Brasil, também têm na soja a principal matéria-prima do biodiesel. Quanto antes o Brasil se unir aos americanos neste ponto, mais rápido e fácil será a evolução.

O que determina essa restrição é a legislação acordada entre os países europeus em 2007. Com o tempo, os países precisam aumentar a participação de fontes renováveis de energia em sua matriz. Até 2020, 20% de toda a matriz precisará ser renovável. Nesse caso, todo e qualquer biodiesel aparece como uma solução. Mas, para cumprir outros itens, é preciso ir além.

A legislação europeia estipula que os biocombustíveis, para se adequar aos padrões, precisarão reduzir em quantidade cada vez mais significativa a emissão de gases do efeito estufa. Hoje, por exemplo, para conseguir a aprovação e ter direito a financiamento público, é preciso diminuir em 35% a emissão desses gases, em comparação com os combustíveis fósseis tradicionais.

Dentro de seis anos, no dia 1º de janeiro de 2017, já está acertado que o índice sobe para 50%. E é a este ponto que a colza e a soja não conseguem chegar. Para atingir esse patamar, só com mudanças importantes em toda a cadeia de produção das oleaginosas. Há gente trabalhando agora nesta questão.

A Associação Internacional de Soja Responsável, por exemplo, determinou novos padrões para certificar os produtores. E, na própria Alemanha, a Associação dos Produtores de Óleo Vegetal contratou um centro de pesquisas para verificar em que pontos da cadeia é possível determinar novos padrões a ser seguidos pelos produtores de modo que eles atendam aos valores exigidos para a produção de biodiesel.

Aqui é necessário um parêntese: pensando no produtor europeu, igualmente importante é a restrição do uso dos óleos com alto índice de emissão de gases de efeito estufa em aparelhos de aquecimento e geração de eletricidade. Outro parêntese, desta vez em relação à situação brasileira: o óleo de dendê igualmente não atinge nem os 35% de redução de emissão de gases em relação ao combustível fóssil.

No Brasil, de acordo com os especialistas, o atual momento ainda permite uma relação mais satisfatória entre o que se emite de gases e o que se elimina por meio do sequestro de carbono pela própria matéria-prima do biodiesel.

“O B5 tem uma certa sustentabilidade”, explica Oswaldo Lucon, assessor da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de São Paulo. “Mas o B20 tem um desafio muito maior. Como é maior a quantidade de produto, também será maior o desafio em produzir matéria-prima sem causar impacto”, diz ele.

Ou seja: hoje, os produtores ainda conseguem fornecer soja para a fabricação de diesel sem ter de atropelar o meio ambiente e sem invadir áreas de preservação ambiental (o mais importante para os europeus e estrangeiros de olho no ambiente brasileiro), e não há uma ameaça grave ao bioma amazônico em função da produção nacional de biodiesel.

Por outro lado, chegar ao B20 exige quatro vezes mais combustível e, por consequência, quatro vezes mais matéria-prima. Será preciso colocar um freio para que a vontade de atender um mercado emergente não seja grande a ponto de ameaçar o meio ambiente brasileiro. Caso contrário, de solução verde, o combustível poderá se tornar uma ameaça ambiental. “O mercado tem que achar rapidinho uma forma de equacionar isso”, resume Lucon.

E equacionar isso significa não apenas melhorar a produção de soja, garantindo menos emissão de gases. É preciso, também por esse motivo (como se já não bastassem todos os outros), apostar em uma diversificação da produção nacional, diminuindo a dependência da soja e passando a usar outras matérias-primas. E aqui fica mais sério o problema com o dendê.

Em princípio considerado promissor, o óleo de palma pode levar a uma disputa por território na Amazônia, onde seu crescimento é mais fácil e barato. Por isso, o governo federal tem de estar de olho ao incentivar essa produção, até porque existe a possibilidade de haver uma ocupação “indireta” de espaços de preservação. “Não é possível saber ainda se isso vai provocar desmatamento indireto, empurrando outras culturas para áreas de proteção. Tem que ver como fica a dinâmica de ganho do produtor”, diz Moreira, do WWF-Brasil.


Etanol

É preciso lembrar que em sua legislação os europeus pretendem restringir o uso de todos os biocombustíveis que causem emissão de gases estufa acima das metas estipuladas. E isso inclui o etanol. Mas os pesquisadores dizem que, no caso do álcool combustível, o país está em situação bem melhor do que em relação ao biodiesel.

“O etanol de cana-de-açúcar tem emissão quase zero porque quase toda a energia, sob forma de calor e eletricidade, usada no processo vem do bagaço”, afirma Goldemberg, do governo de São Paulo. “Este processo tem emissão de carbono quase zero. Já o etanol de milho exige energia de gás natural ou carvão e emite quantidades razoáveis de carbono”, explica. No entanto, quem tem de se preocupar com isso são os Estados Unidos, que usam álcool de milho. Por aqui, a cana impera e dá bons resultados.

A maior preocupação, no caso do etanol brasileiro, continua sendo com as queimadas. Estas sim podem tornar o etanol brasileiro um pouco menos “verde”.