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Utilizando o B100 - 100% Biodiesel


Edição de Ago / Set de 2010 - 15 ago 2010 - 12:01 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:50
André Amorim, de Curitiba

Desde o início do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), uma questão ronda as mentes dos profissionais do setor: o combustível está pronto para substituir o diesel? Conforme o uso deste biocombustível se expande no Brasil, aumenta também o número de experimentos que testam sua performance em percentuais mais arrojados do que os atuais 5% exigidos pela legislação. Mas o biodiesel ainda está longe de ocupar sozinho os tanques de veículos de todo o país.

Uma experiência realizada em Curitiba, no Paraná, no entanto, pode ajudar o biodiesel a avançar etapas no país. Realizada em um itinerário com o sugestivo nome de Linha Verde, a pesquisa colocou em campo seis ônibus do transporte coletivo urbano da cidade rodando exclusivamente com biodiesel puro (B100). Após um ano de atividade, estes veículos partem agora para uma segunda fase do projeto, mas os resultados da primeira etapa já podem ser conhecidos. Eles apontam para duas questões distintas: de um lado o biodiesel garante ganhos ambientais significativos; de outro, gera aumentos nos custos de operação.

Segundo Elcio Karas, coordenador do projeto de uso dos biocombustíveis da Urbanização Curitiba S.A. (Urbs), empresa responsável pelo gerenciamento do transporte coletivo da capital paranaense, no que se refere às emissões de poluentes o teste foi extremamente positivo. O nível de opacidade (fumaça) ficou 30% menor do que o observado com o uso de diesel de petróleo, o que se repetiu com a quantidade de monóxido de carbono, que apresentou redução de 30%. O impacto ambiental negativo ficou por conta da emissão de óxidos de nitrogênio (NOx), que aumentou em 19%. Este é um problema inerente à queima do biodiesel, que, segundo especialistas, pode ser resolvido através de ajustes mecânicos. O resultado do teste nesse sentido, segundo Élcio Karas, não chega a preocupar, porque estaria ainda dentro dos limites estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Do ponto de vista econômico, verificou-se que o consumo do biodiesel ficou cerca de 5% maior em relação ao de diesel. Ainda assim, mostrou-se mais econômico do que as expectativas dos envolvidos no projeto. A previsão da Urbs era de um aumento da ordem de 8%, e outros esperavam ainda mais. “Como o biodiesel de soja tem um poder calorífico 10% menor do que o poder calorífico do diesel mineral, era de se esperar que esse consumo fosse 10% maior”, avalia Alexandre Parker, responsável pelos assuntos governamentais e institucionais da Volvo do Brasil, uma das empresas parceiras do projeto.

Outro ponto negativo que poderia ser destacado na planilha econômica do projeto diz respeito à manutenção das peças. As duas empresas permissionárias do transporte de Curitiba que rodam na Linha Verde, Auto Viação Redentor e Viação Cidade Sorriso, ambas parceiras do projeto, identificaram um aumento significativo na freqüência com que é realizada a manutenção nos carros utilizados nos testes. Segundo o gerente de manutenção da Cidade Sorriso, Eduardo Tows, o filtro de óleo, que nos carros movidos a diesel é trocado a cada 30 mil quilômetros rodados, precisa ser trocado a cada 15 mil quilômetros nos carros que utilizam o B100.

Também o gerente de manutenção da Redentor atentou para um aumento na freqüência da troca do óleo do motor. Enquanto nos veículos que operam com diesel a troca ocorre entre 15 mil e 20 mil quilômetros, naqueles movidos a biodiesel este intervalo cai para 10 mil quilômetros.

Na primeira etapa deste projeto, que teve início em agosto de 2009, cada veículo rodava cerca de dois mil quilômetros mensais, consumindo um total de 20 mil litros de biodiesel por mês, sendo 10 mil para cada empresa que opera a Linha Verde. Segundo Elcio Karas, este volume limitado de combustível se deve a uma questão legal. Até 10 mil litros, é necessário somente comunicar à Agência Nacional do Petróleo (ANP) a utilização do biodiesel. Entre 10 mil e 50 mil litros mensais passa a ser necessário uma autorização da agência, que a Urbs obteve apenas em julho deste ano.

A partir desta mudança, cada um dos ônibus utilizados no experimento passou a rodar entre 8 e 10 mil quilômetros mensais. Segundo Karas, esta foi uma solicitação das montadoras que participam do projeto, Scania e Volvo, que têm interesse em avaliar o desempenho de seus carros em condições mais próximas da realidade da quilometragem rodada. Em julho do ano que vem, este experimento será finalizado e os fabricantes recolherão os motores para realização dos testes necessários.

Para chegar a estes resultados preliminares, as duas empresas permissionárias trabalharam cada uma com três veículos movidos a B100 e outro, chamado “carro sombra”, movido a diesel comum. Esse arranjo possibilitou um efeito comparativo, essencial para auferir o desempenho do biocombustível em relação ao diesel em uma experiência de campo.

Cada empresa trabalhou apenas com veículos de uma única montadora: a Redentor com a Volvo e a Sorriso com a Scania. Na opinião do gerente da Urbs, ter as montadoras entre os parceiros deste projeto foi essencial para sua consolidação. “Você tem a validação desse programa com quem está produzindo os motores”, avalia.

Para a realização destes testes foram reunidos dez parceiros, que incluem, além das montadoras e permissionárias, a empresa BSBios, do Rio Grande do Sul, que fornece o biodiesel utilizado na operação, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que realiza a análise do combustível utilizado, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, além da distribuidora RBP e do Instituto Pró-Biodiesel.

Após o aumento na quilometragem rodada pelos carros, a intenção da Urbs é aumentar a frota nos próximos meses. Mais cinco ônibus serão somados aos seis que já operam com biodiesel em Curitiba, totalizando onze veículos que rodarão até junho de 2011, quando o teste será finalizado e será emitido um parecer definitivo da experiência.

Estes resultados servirão de baliza para projetos vindouros, que não devem demorar. Está em andamento atualmente o processo de licitação do transporte coletivo urbano de Curitiba e uma das exigências do edital é que até 2012 pelo menos 10% da frota esteja rodando com biocombustível.