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Conferência: Agricultura familiar e tecnologia


BiodieselBR.com - 21 dez 2007 - 15:20 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:01
Agricultura familiar
A inclusão da agricultura familiar e a formação de arranjos produtivos continuam sendo os maiores desafios do programa, principalmente no Nordeste. O governo admite que os incentivos do selo social não foram suficientes para que a região superasse as dificuldades históricas já existentes. Esse feito não é simples nem para quem tem vontade e dinheiro para isso, como é o caso da Petrobras Biocombustíveis (PBio). Quando a PBio começou a trabalhar na região, encontrou agricultores analfabetos e desarticulados, baixo nível tecnológico, pouca organização das cooperativas e assistência técnica não efetiva. Segundo a estatal, quase não havia cooperativas e sindicatos, e os que existiam estavam com problemas fiscais e de documentação. Além disso, há o problema do clima seco e dos solos pobres e compactados no Semi-Árido. “Não é fácil para uma empresa como a Petrobras, acostumada a explorar e processar petróleo nas refinarias, trabalhar com a agricultura familiar”, disse João Norberto Noschang Neto, gerente de Gestão Tecnológica da PBio.

A responsabilidade da estatal nesse quesito é incomparavelmente maior que a de qualquer outra usina. Durante a cerimônia de oficialização do B5, em outubro, Lula colocou no colo do presidente da subsidiária, Miguel Rossetto, a missão de desenvolver a produção de oleaginosas alternativas pela agricultura familiar. Seria a intervenção que o Estado teria para dar neste momento, na ausência de uma política mais efetiva.

Se para a PBio já é difícil, imagine como é para as mais “mortais” usinas. “A redução do PIS/ Confins do selo social hoje não remunera as indústrias, em função dos gastos com assistência técnica e fornecimento de sementes”, disse Battistella, da BSBios, empresa que fomenta soja, girassol, canola e mamona no Rio Grande do Sul. Por isso, é grande a expectativa em torno do Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária (Pronater), em tramitação no Senado.

Futuro da tecnologia
A transesterificação, processo produtivo consolidado hoje na indústria, exige uma matéria-prima de alta qualidade, ou então o emprego de várias etapas de pré-tratamento, o que encarece o produto. O professor Donato Aranda acredita que a tendência nos próximos anos é que óleos e gorduras ácidas, tais como óleo de fritura, escuma de esgoto, gordura de frango, peixe e suínos – hoje excluídos do processo –, possam ser utilizados num processo chamado de hidroesterificação – combinação de hidrólise com esterificação –, no qual se gera uma glicerina com grau alimentício e, portanto, com maior valor agregado. Há estudos da UFRJ que atestam a viabilidade econômica dessa tecnologia para plantas a partir de 56 milhões de litros. Há também a catálise heterogênea, que segundo ele produz um biodiesel mais puro, sem a produção de sabões no final da reação, e ainda permite o reuso de catalisador e a obtenção de uma glicerina com grau farmacêutico.

Todas essas inovações tecnológicas, bem como a diversificação de matérias-primas, serão bemvindas na medida em que conseguirem reduzir os custos de produção do biocombustível. O etanol é eficiente hoje porque conseguiu atingir essa meta. Analisando com sobriedade, é possível crer que a curva de aprendizado do biodiesel brasileiro será mais curta que a do etanol. Como lembrou Rodrigo Rodrigues, coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel, o contexto hoje é muito mais favorável. “Temos produção auto-suficiente de petróleo, estabilidade monetária e a Lei de Responsabilidade Fiscal”. Com essa plataforma e o know-how brasileiro na produção de energias renováveis, não será uma sucessão presidencial em 2010 ou um présal que irão frear o setor. “O programa de biodiesel é um programa de Estado, não de governo. Dado o potencial deste setor para o desenvolvimento da nação, acho muito difícil um governo retroceder nessa área”, avaliou Dornelles.