Cinética: notas sobre biodiesel - edição 13
Por Miguel Angelo Vedana - Publicado em 15 de outubro de 2009
Surpresa nas retiradas de biodiesel
As últimas semanas de entregas de biodiesel
de um leilão são difíceis para as usinas. Isso
porque normalmente o preço do biodiesel no
leilão seguinte é menor que o do pregão anterior.
Dessa forma, uma distribuidora que deixa
de retirar biodiesel quando um contrato está
finalizando e espera o contrato seguinte acaba
pagando um preço mais baixo pelo produto,
garantindo um lucro maior.
No final de setembro, as fábricas estavam
preparadas para essa disputa com as distribuidoras,
mas aconteceu o contrário. As distribuidoras
se esforçaram para retirar tudo o que
podiam. Teve usina que só não entregou mais
porque não tinha biodiesel disponível. Várias
acabaram entregando mais de 100% do
volume vendido no 14º leilão. Isso foi tão inesperado
que cada uma das usinas achou que
somente ela tinha sido privilegiada. O que elas
não entenderam foi a razão dessa sede por
biodiesel na última quinzena de setembro. Um
aumento inesperado na demanda de diesel é a
tese mais provável.
10% a mais ou a menos
Ainda sobre as entregas de biodiesel. É senso comum
que o volume vendido nos leilões pode variar em 10%,
para mais ou para menos. Segundo o contrato que as
usinas assinam com a Petrobras, a retirada a mais ou a
menos deve acontecer de comum acordo entre as partes
envolvidas. Mas na prática isso não tem funcionado.
Como são as distribuidoras que sabem qual é o consumo
real de biodiesel, acaba ficando com elas a opção de
retirar menos ou mais biocombustível.
O fato das distribuidoras poderem retirar conforme a
demanda faz todo o sentido, mas o contrato das usinas
com a Petrobras não dá essa liberdade. Além de estipular
o comum acordo, o contrato ainda exige que qualquer
alteração no volume de retirada, para mais ou para menos,
seja feita através de termo aditivo. Mas os contratos
não estão sendo levados ao pé da letra.
Metanol ameaçado
Um projeto de lei de autoria do senador João Tenório
pode trazer alguma dor de cabeça para a maioria das
usinas de biodiesel do Brasil. O projeto, que está tramitando
na Comissão de Infra-Estrutura, quer proibir o uso
de metanol em todas as etapas de produção do biodiesel.
Os motivos da proibição apresentados no projeto
são a elevada toxidade, a pequena produção nacional e
a dependência do petróleo. A saída para os produtores
seria usar o ecologicamente correto (e mais caro) etanol.
Em um país como o Brasil, o etanol deveria ser mesmo
o principal álcool da produção de biodiesel. Mas querer
que isso ocorra por força de lei não ajuda muito no desenvolvimento
do setor. Que tal reduzir a tributação do
etanol para fazê-lo competitivo com o metanol?
B5 em 2010
Ninguém tem mais dúvidas de que o B5 será antecipado
para 2010. O que ninguém sabe afirmar é a partir
de qual mês ele será obrigatório. As usinas obviamente
querem que ele seja implantado já em janeiro, o que garantiria
que o leilão de novembro comprará mais de 550
milhões de litros de biodiesel. O governo prefere começar
um pouco mais tarde, pois tem certo receio de faltar
matéria-prima em janeiro, último mês da entressafra da
soja. Em contraponto ao governo, as usinas dizem já ter
a matéria-prima de janeiro garantida e que a entressafra
acaba na primeira quinzena de 2010.
O resultado desse jogo de interesses deve sair até a
primeira semana de novembro, quando será anunciado o
16º leilão de biodiesel da ANP. As usinas têm até lá para
mostrar ao governo que não faltará B5 no começo do
ano. Vão ter que trabalhar duro para isso.