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Química: Especificação e título no biodiesel


BiodieselBR.com - 12 nov 2007 - 14:25 - Última atualização em: 20 jan 2012 - 11:24

Para Pedroso, da SPBio Biodiesel, o índice de iodo é mais um empecilho para quem quer exportar. “A União Européia joga com isso até como uma forma de criar uma barreira natural para o biodiesel de soja, que é produzido no Brasil e nos Estados Unidos”, defende. Na Europa, a maior parte do biodiesel é produzida a partir do óleo de colza e de canola. Nesses casos, os índices ficam entre 95 e 110 mg (para a colza) e 110 a 126 mg (canola) a cada 100 g.

A especificação européia de biodiesel é de 100 a 120 mg de iodo, enquanto a média da soja é de 130 mg, o que acaba inviabilizando a exportação do B100 de soja. Já nos Estados Unidos, não há especificação para o índice de iodo. “Lá eles também trabalham principalmente com a soja”, explica Pedroso.

O índice de iodo pode ser reduzido através de um recurso barato e simples: a mistura de sebo bovino ao óleo de soja na produção de biodiesel. “O sebo apresenta índice de iodo baixo e, na média, uma mistura das duas matérias-primas pode resultar em um produto final mais adequado”, diz Pedroso. Ele alerta que o problema é que a adição de sebo à mistura contribui para aumentar o ponto de entupimento de filtro a frio do biodiesel, uma complicação, já que isso pode significar a solidificação do biodiesel nos tanques de armazenamento antes da mistura com o diesel, especialmente em baixas temperaturas (leia mais a seguir).

A solução para o iodo? “É preciso usar aditivos. Na Europa já existem produtos à venda que resolvem o problema. No Brasil ainda temos que desenvolver algo semelhante”, explica Pedroso. Claro que o uso de aditivos no biodiesel não é uma solução mágica. “Isso tem custos que podem prejudicar a viabilidade econômica da produção”, pondera, dizendo que se o país quiser exportar, terá que investir mais em matérias-primas que solucionem o problema sem prejudicar a qualidade final do produto.

Título
A solidificação do combustível – ou o ponto de entupimento de filtro a frio – também está diretamente relacionada a outro dos “quatro índices essenciais” listados por Pedroso: o ponto de fusão dos ácidos graxos (título).

“Quimicamente, óleos e gorduras são a mesma coisa. A diferença, de acordo com a normatização brasileira, é que os óleos a temperatura ambiente são líquidos, enquanto as gorduras são sólidas”, explica Pedroso. E essa diferença ajuda a explicar por que alguns combustíveis se tornam mais estáveis, dependendo de sua origem.

Os óleos normalmente são líquidos porque têm mais ligações duplas entre suas moléculas (são, em geral, insaturados ou poliinsaturados). Essa característica química faz com que o produto dificilmente se solidifique. Nas gorduras (no caso do biodiesel, principalmente o sebo bovino) as ligações duplas, que dificultam a solidificação, normalmente não estão presentes (são saturadas).

Assim, enquanto o sebo bovino tem um ponto de fusão entre 35ºC e 43ºC, o óleo de canola (que é um melhoramento genético da colza), no outro extremo, tem seu título localizado entre 5ºC e 15ºC. Novamente, é uma diferença que não se percebe tanto no Brasil quanto em países mais frios, e que, portanto, influencia na possibilidade de exportação do material produzido.

No Brasil, com temperaturas naturalmente mais elevadas, um ponto de entupimento em torno de 19ºC já atende às especificações. “Na Europa o ponto é 0ºC. No inverno [as temperaturas], em alguns casos, chegam a até -20ºC”, aponta Pedroso. Nesse quesito, o biodiesel de soja atende à especificação européia. “Com o óleo de soja, o ponto de entupimento do biodiesel fica em torno de 0ºC a -2ºC. Mas a canola e a colza conseguem atingir um ponto ainda inferior, mais apropriado ao inverno europeu”, completa.